Concurso literário Diários de Bicicleta

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reprodução: Amarylis

Desde a década de 80 o músico, escritor e artista plástico David Byrne viaja o mundo acompanhado de sua bicicleta. Ao longo de quase três décadas, colecionou fotos, relatos e histórias das cidades por onde passou. Em 2009, Byrne juntou os recortes do fundo do baú, adicionou algumas reflexões sobre o uso da bicicleta como meio de transporte no século XXI e publicou um livro.

“Diários de Bicicleta”, recém lançado no Brasil, não traz dicas de mecânica, não se debruça sobre planejamento cicloviário nem fala das melhores técnicas para pedalar nas cidades. O olhar de Byrne é sobre as cidades, sobre a cultura, a arte e a vida em várias partes do mundo, tendo como diferencial o ponto de vista privilegiado de quem se desloca mais rápido que um pedestre e sem a armadura de um veículo motorizado.

A “cultura da bicicleta” não é apenas um modo de se locomover pela cidade, mas sim uma forma de olhar e uma maneira de interagir com os espaços urbanos, movimentos culturais e pessoas. Este é o fio que amarra as histórias do co-fundador da banda Talking Heads em “Diários de Bicicleta”.

A obra já está nas livrarias brasileiras, com prefácio de Tom Zé, mas o Apocalipse Motorizado realiza um concurso literário que irá presentear os autores dos dois melhores “diários de bicicleta” com um exemplar do livro em português.

Escreva um texto com até 5 mil caracteres (sem espaço) contando uma experiência sobre duas rodas em qualquer lugar do planeta e envie até o dia 04 de janeiro de 2010 para o endereço diariosdebicicleta @ apocalipsemotorizado.net .

Os dois (02) textos mais criativos e interessantes serão publicados no Apocalipse Motorizado e os autores receberão em casa um exemplar do livro Diários de Bicicleta. Se quiser, envie também uma foto ou imagem para acompanhar o texto.

REGULAMENTO:

– Qualquer pessoa residente em território brasileiro está apta a participar do Concurso Literário Diários de Bicicleta (textos vindos do exterior não serão considerados).

– Não há limite para o número de textos enviados por cada participante, mas apenas um texto de cada autor poderá ser premiado.

– O Concurso acontece entre os dias 21/12/2009 e 04/01/2010. Textos enviados depois deste período não serão considerados.

– Os textos devem ter, no máximo, 5 mil caracteres (sem espaço) e devem ser submetidos por email para o endereço diariosdebicicleta @ apocalipsemotorizado.net

– Cada texto enviado receberá um email de confirmação (depois de mandar, fique atento pois alguns clientes de email confundem a confirmação com “spam”. Caso não receba a confirmação em até 02 dias, por favor escreva novamente ao endereço supracitado ou utilize o formulário de contato do blog)

– A análise dos melhores textos obedecerá critérios estabelecidos pelos autores do blog apocalipse motorizado, sob os quais não cabe questionamento prévio ou posterior.

– As fotos ou ilustrações enviadas  não terão peso sobre o julgamento.

– Ao participar do concurso, você declara ser o proprietário dos direitos autorais sobre o texto (e também sobre a imagem/foto, caso exista) e concorda em ceder tais direitos ao blog apocalipse motorizado e à Editora Manole.

– Os realizadores do Concurso se responsabilizam pelos custos de envio dos livros para todo o território brasileiro, ficando sujeitos aos prazos estabelecidos pelos Correios.

– Os vencedores serão anunciados na primeira quinzena de Janeiro de 2010.

A descida dos 900 (rota cicloturística Márcia Prado)

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No último sábado (19), aproximadamente 900 ciclistas participaram do teste da Rota Cicloturística Márcia Prado, a descida da Serra do Mar pela estrada de manutenção.

Esta foi a minha primeira viagem de bicicleta. Exceto por alguns trajetos turísticos no exterior, sempre retornando ao ponto de origem no mesmo dia, ainda não tinha experimentado o cicloturismo.

Em quase cinco anos de “redescoberta” da bicicleta (depois dos sete em que fui carrodependente), usei a magrela como veiculo em diferentes cidades e até em grandes quilometragens, mas viajar a propulsão humana é outra história.

A paisagem que nunca se repete, a solidão bem acompanhada da estrada, as placas de divisa de município e os desafios superados trazem uma alegria que não tem comparação. O caminho que se faz pedalando é a própria viagem, o ponto de chegada torna-se apenas um detalhe.

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Depois da concentração na Praça do Ciclista, rumamos para a estação Cidade Jardim da CPTM. Bicicletas no trem, rumo ao Grajaú, extremo sul da cidade.

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O cenário da periferia paulistana pode ser bastante diferente do congestionado centro expandido, onde semáforos e agentes da CET gerenciam o caos para que a bomba do uso excessivo de automóveis não exploda.

Na periferia, calçadas esburacadas e ocupadas por carros estacionados são regra. Pedestres andam pelas ruas e ainda é possível encontrar alguns veículos quase tão sustentáveis quanto a bicicleta.

A ausência do Estado e as condições de vida precárias colocam à prova a tal “criatividade” associada ao povo brasileiro.

Impulsos incessantes ao consumo descartável, reinado da indústria automobilística sobre a economia, transporte público caro e precário e a necessidade de deslocar-se por dezenas de quilômetros para chegar ao trabalho (ou a um cinema, teatro ou centro cultural) transformam o cenário da periferia em algo totalmente diferente daquele encontrado no centro expandido, onde bunkers blindados e televigiados escondem os automóveis em garagens subterrâneas que ocupam áreas muitas vezes maiores do que aquela destinada aos apartamentos.

Lá e cá, a onisciência destrutiva do automóvel é explícita: só não enxerga quem se esconde atrás do para-brisa.

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Passado o trecho urbano do Grajaú, onde a difícil convivência com ônibus, motos e poluição transforma qualquer subida em um grande desafio, chega-se à primeira balsa da Ilha do Bororé (que na verdade é uma península).

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Depois da primeira balsa, cheiros, cores e sons se transformam. A São Paulo rural está começando.

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Alguns quilômetros depois, os dejetos do consumo e da “civilização” ainda são visíveis. Na beira da represa, uma faixa de lixo trazido de volta a seus donos pela água.

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Passada a segunda balsa, um “ponto de apoio”: uma cerveja antes da trilha é muito bom para ficar pedalando melhor.

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Mais alguns quilômetros de terra, pássaros, ar puro, conversas, subidas, descidas e um tanto de lama na companhia de bons amigos.

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Sim, isto é São Paulo.

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Ao final da trilha em estrada de terra, uma escadaria cheia de lama. Solidariedade para subir as bicicletas e vamos adiante.

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Na rodovia dos Imigrantes, parece que a Ecovias não autorizou que fosse feita a instalação de placas da rota ciloturística. Acompanhado de experientes guias, percorri alguns quilômetros no acostamento da rodovia até uma entrada da estrada de manutenção.

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Na entrada do parque, o pessoal do Instituto CicloBR registrava os participantes, dava algumas dicas para a descida e revisava as bicicletas. Fiquei bem feliz com o meu número de inscrição: 700.

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Tudo pronto, lá se vai mais um grupo.

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O regresso não para.

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Cubatão

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Santos.

fotos, notícias e relatos

Rota Cicloturística Márcia Prado, o novo caminho do mar

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fotos: interplanetária 2008 / macacoveio

Em dezembro do ano passado, mais de 300 paulistanos sairam da Praça do Ciclista em direção ao mar. Inspirados pela Massa Crítica Interplanetária de Roma, Itália (chamada de Ciemmona), buscavam um lugar ao sol e um pouco de água fresca.

Durante quase cinco séculos, burros, carroças, carruagens, bicicletas e trens carregaram pessoas no caminho que liga o planalto de Piratininga e o mar. Com o império do automóvel estabelecido no século XX, atravessar a serra virou exclusividade de carros particulares, ônibus e caminhões.

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Em 2008, apenas um pequeno grupo dentro da massa conseguiu chegar até a praia, já que no meio do caminho havia uma Placa. E por causa da Placa, havia uma praxe: bicicleta não passa.

Não se sabe ao certo quando, mas estima-se que a Placa foi instaurada em algum momento esfumaçado da segunda metade do século XX, legitimada por algum papel, memorando, portaria, circular ou lei.

A norma estampada na  Placa era vigiada por homens armados, que às vezes pegam um dos transgressores que há décadas escorrem pelos vários caminhos da Serra do Mar em perigosas bicicletas.

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arte: ciclobr

Um ano depois, por iniciativa do Insituto CicloBR, em parceria com o Parque da Serra do Mar, CPTM e prefeituras de São Paulo, São Bernardo, Santos e Cubatão, a massa vai chegar ao mar.

No próximo sábado (19), acontece um passeio-teste da Rota Cicloturística Márcia Prado, que vai atravessar paisagens exuberantes em um trajeto de 77km. O objetivo é verificar as condições de segurança e conforto da estrada

Todas as informações podem ser encontradas no CicloBR.

O caminho do mar ganhou até um nome: Rota Cicloturística Márcia Prado, em homenagem à ciclista morta no começo de 2009. O nome consta de um projeto de lei apresentado pelo vereador Chico Macena, que aguarda sanção do prefeito Kassab.

Márcia estava entre os 300 barrados no ano passado. Ficaria muito feliz com a homenagem e certamente estaria junto com os ciclistas deste final de semana.

Confira com atenção as informações contidas na página do evento e, como diriam os italianos da Ciemmona, “Tutti al Mare!”.

Informações sobre o evento de sábado
clipping Bicicletada Interplanetária 2008
clipping Rota Cicloturística Márcia Prado

Preserve a infância: diga não à publicidade infantil

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reprodução: encarte em jornal

Mais de 3000 pessoas e 100 instituições já assinaram o manifesto pelo fim da publicidade e da comunicação mercadológica dirigida à crianças menores de 12 anos.

A iniciativa pretende garantir o direito a uma infância saudável e reduzir os impactos nocivos dos apelos de consumo na sociedade.

O manifesto afirma que “a publicidade voltada à criança contribui para a disseminação de valores materialistas e para o aumento de problemas sociais como a obesidade infantil, erotização precoce, estresse familiar, violência pela apropriação indevida de produtos caros e alcoolismo precoce”.

Se nos adultos a hiperexposição aos apelos de consumo resulta em uma bestialização cada vez mais visível das relações sociais, transformando o “ter” em algo mais importante que o “ser”, nas crianças os efeitos são brutalmente mais nocivos.

Visite este link para assinar o manifesto, e aproveite para assistir o excelente documentário “Criança, a Alma do Negócio”, de Estela Renner.

Marginal Tietê: o erro anunciado

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detalhe de camiseta antiga, mas ainda pertinente

Carta das entidades envolvidas na luta contra a ampliação da Marginal, publicada originalmente no Blog de Ecologia Urbana

Em meados do ano de 2008, surgiram as primeiras informações, ainda não oficiais, sobre um projeto de ampliação da quantidade de pistas na Marginal do Rio Tietê.

Como se sabe, a Marginal do Tietê é uma das mais importantes vias que integra a imensa malha rodoviária do país, não apenas porque é acesso para o abastecimento da cidade de São Paulo, a maior do país, mas, ainda, porque é passagem obrigatória para cargas provenientes ou destinadas aos maiores e mais importantes portos do Brasil.

Além disso, a Marginal poderia ser lembrada pelas enchentes que ocorriam com mais freqüência na década passada, e que originavam uma situação caótica, seja pela impossibilidade de tráfego na região, seja pelo desalojamento e morte de famílias que viviam em situação de risco.

Nada, porém, pode ser mais representativo desta imensa estrada urbana que a lentidão no tráfego, decorrente dos quilômetros de congestionamento diário, que tornam sacrificante a necessidade – inafastável para alguns – de circular por suas vias.

Diante dessa realidade, a Marginal do Tietê passa a ser emblemática para a compreensão de qual destino está sendo firmado à nossa cidade: se rumamos à tentativa de reverter equívocos urbanos e ambientais ou insistimos num modelo de conflito entre equilíbrio ambiental e vivência urbana.

Por essa razão, as intervenções urbanas propostas para a região do Rio Tietê não podem ser consideradas apenas sobre um enfoque: não apenas para solução dos problemas viários de imobilidade, nem, tampouco, para agasalhar propostas ambientalistas radicais de apartá-lo do acesso humano.

Assim, ao tomar conhecimento do projeto de ampliação das Marginais, a sociedade civil organizada, especialmente arquitetos, urbanistas, engenheiros, geógrafos, ambientalistas e lideranças de movimentos sociais atuantes em diversas áreas, passaram a dialogar sobre os impactos do projeto e sua eficiência.

Foram meses de estudos sobre o projeto, denúncias – e comprovações – de falhas no processo de licitação, até que foi iniciado o licenciamento ambiental (tudo isso em tempo recorde, como houvesse pressa para a entrega da obra).

O Estudo de Impacto Ambiental é precário na análise dos impactos ambientais e medíocre quanto aos impactos urbanístico-sociais. Não considerou seriamente o respeito ao patrimônio cultural, subestimou os danos ambientais diretos e os impactos nas áreas de influencia e dissimulou a realidade sobre a impermeabilização do solo na região (valendo-se de valores e parâmetros incompatíveis).

Pior ainda: o Estudo de Impacto Ambiental previu textualmente a desnecessidade de desapropriações para atividades comerciais ou habitacionais, em postura repulsiva e desidiosa com as centenas de famílias cuja remoção foi anunciada amplamente, até pelo Governo do Estado, além de atividades comerciais e esportivas como clubes que serão “rasgados”para a passagem das novas faixas.

Sobre esse tema, cabe um reforço: embora o estudo de impacto ambiental tenha previsto que não haveria desapropriações, o valor para tais iniciativas ultrapassou R$ 40 milhões. Não haveria, pois, alguma falha?!

Apesar das falhas ora apontadas – e tantas outras constantes de parecer elaborado pela Associação dos Geógrafos do Brasil – o procedimento de licenciamento ambiental foi concluído favoravelmente à realização do empreendimento.

Para tanto, foram exigidas compensações ambientais de altíssimo custo – aos bolsos dos contribuintes, claro -, o plantio de centenas de milhares de árvores a construção de uma ciclovia – não urbana, mas em um parque próximo -, entre outras exigências e recomendações que, conforme se verá adiante, não bastarão para esconder a nocividade do empreendimento.

Incoerentemente, é a compensação ambiental, com a criação de um parque, que vai acarretar a maior parte de desapropriação de famílias, e a construção de ciclovias que vai acarretar a supressão de milhares de árvores.

Essas “compensações” – que, efetivamente, nada compensam – fizeram com que o valor do empreendimento dilatasse exponencialmente. Eram R$ 850 milhões, passaram a ser R$ 1,3 bilhões e, até ultimas informações, nós, cidadãos do Estado de São Paulo, devemos assistir a R$ 1, 86 bilhões se esvaindo para custar uma obra de eficiência duvidosa – no mínimo.

Tudo isso aconteceu sorrateiramente, como fosse a população destinatária passiva deste ou qualquer empreendimento. Aconteceu de maneira obscura, sem publicidade prévia, sem convocação expressiva e, portanto, sem legitimidade.

Foram todos surpreendidos – apenas os que circulam pela região – com tratores nos canteiros e árvores históricas, robustas e vivas resumidas a raízes sem vida.

Diante dessa absurdez, aqueles mesmos cidadãos que buscavam dialogar, realizaram atos públicos in loco, manifestando através de faixas, cartazes e vozes a barbaridade anunciada.

Em resposta, o Governo do Estado de São Paulo, avesso ao diálogo, passou a investir vultosamente em propagandas que tinham sempre uma mesma finalidade: convencer os desinformados sobre a eficiência, sustentabilidade e necessidade das obras.

Foram milhões de reais aplicados na elaboração de campanhas publicitárias, criação de página na internet e todos os meios disponíveis para maquiar um empreendimento impróprio.

Desde sempre buscou o Governo desqualificar aqueles que se opunham à obra. Por vezes associando-os a Partidos Políticos, por outras questionando sua capacidade técnica.

Não restava outra alternativa, pois, senão a propositura de uma Ação Judicial para tentar suspender o empreendimento, pelo menos até que as dúvidas sobre riscos e benefícios fossem sanadas. E foi o que aconteceu.

No final do mês de julho de 2009, os representantes das entidades ingressaram com a Ação Civil Pública e aguardavam a decisão sobre o pedido de liminar, para suspender as obras. Infelizmente, apenas semanas depois houve a decisão que denegou o pedido, sob o argumento de que a Justiça não pode intervir nos atos do Poder Executivo – ainda que abusivos.

O Ministério Público foi chamado a se manifestar – conforme determina a legislação – e, em petição sintética e concisa, opinou favoravelmente à concessão da liminar, essencialmente fundado no principio da precaução, já acenou para que houvesse certeza sobre os riscos do projeto e suas eventuais remediações.

Além disso, a juíza responsável, em aparente desconhecimento do conteúdo do processo, fundou-se na ausência de documento que indicasse a insuficiência do Estudo de Impacto Ambiental (não nos esqueçamos que havia um Parecer da Associação dos Geógrafos Brasileiros juntada no mesmo dia)!

Foi, certamente, uma decisão infeliz e – preferimos acreditar – ressentida de conhecimento aprofundado sobre o processo, que já contava com 9 volumes e milhares de folhas.

Dos diversos predicados que foram atribuídos aos representantes das entidades que lutavam voluntariamente por essa causa, ressaltam-se os de fanáticos, malucos, oportunistas, desocupados e conspiradores.

Mesmo a Promotora de Justiça Maria Amélia Nardy Pereira, que apenas cumpria função atribuída por lei, foi alvo de grosserias, que tiveram seu ponto mais baixo com a acusação de ser oportunista, contida em texto do “jornalista” Reinado Azevedo, cujo título levava o nome “Veja bem, Maria Amélia,” em referência à Promotora.

Desamparados pelo Judiciário e com poucas possibilidades de concorrer com a truculenta publicidade da obra, só cabia aos representantes das entidades aguardar para que a tragédia anunciada se concretizasse. E, creia-se – pensávamos ter de esperar mais tempo.

Nos primeiros dias do mês de setembro, uma chuva incomum para o período (mas não para o verão), causou estragos em toda a cidade e região metropolitana, inclusive com a morte de pessoas. O Rio Tietê transbordou, as vias – sem drenagem – encheram de água, e a cidade parou. A resposta explicativa das nossas autoridades veio: culpa da natureza!

Por fim, o último sinal de que o lunatismo tinha um receio fundado: ontem, dia 08 de dezembro de 2009, o Rio Tietê transbordou – pela segunda vez em 3 meses – e, mesmo onde não houve transbordamento, o acúmulo de água resultante da impermeabilização das pistas, redundou no alagamento das faixas e sua interdição!

Diante de todos os fatos, é de se notar que se opor a mais essa obra viária bilionária não é uma questão de fanatismo ambiental ou de oportunismo partidário. Não se limita a discutir se a melhor opção é essa obra ou outra, se vamos plantar mais ou menos árvores, se outra obra de canalização ou aprofundamento de calha deveria ser feita, mas sim o rumo que a cidade toma.

O que buscamos, sobretudo, é difundir o questionamento sobre nosso modelo de cidade já saturada, na qual as discussões mais importantes estão em torno do trânsito caótico – como se todas as outras dificuldades que nos assombram fossem secundárias (saúde, educação, varrição de ruas, corrupção, moradia etc.).

Cada vez que aceitamos calados investimentos públicos em sentido diferente do que precisa nossa cidade, a cada enchente, cada desmoronamento, cada via obstruída e, principalmente, todo o trânsito que engessa a cidade, tem efeitos muito sérios, inclusive do ponto de vista econômico.

Quanto custa uma mercadoria parada? Quanto custa um caminhão entravado? E as casas completamente destruídas pelas águas!? Quanto custa todo o estoque de um dia no CEAGESP? Quanto custa a vida de um filho? E a vida de quatro filhos soterrados no barraco situado em área de risco – e que cuja remoção foi negligenciada pelo Poder Público?

Nossa proposta é que esse debate sobre o rumo da nossa cidade esteja constantemente nos meios de comunicação, nas escolas, nas rodas de conversa. Para tanto, estamos à disposição, inclusive para debater com nossos governantes quais as prioridades para que nossa cidade seja cada vez mais saudável – e cada vez mais nossa.

clipping de notícias sobre a “Nova” Marginal
postagens anteriores no apocalipse motorizado

Quem não é otário, instala bicicletário

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reprodução: anúncio de domingo

O recorte acima foi tirado de um anúncio de empreendimento imobiliário encartado no jornal do fim de semana. Ao contrário das dezenas de propagandas da verticalização privada, esta não menciona o número de vagas na garagem.

Sinal dos tempos: mesmo com espaço para três carros por apartamento e outros acessórios “esconda-se da cidade”, a agência de propaganda preferiu destacar o bicicletário.

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reprodução: jornal

No mesmo jornal, a explicação aparece na imagem de capa do caderno dedicado à habitação, com uma reportagem sobre a mostra Abitare Il Tempo, ocorrida em setembro na cidade italiana de Verona.

No lugar da garagem, um singelo bicicletário confirma: desperdiçar espaço e recursos sustentanto um carro é coisa do passado.

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reprodução: anúncio

2009 foi o ano em que a bicicleta chegou ao mainstream na capital paulista: anúncios, imagens, notícias e atividades de promoção do uso das magrelas ganharam destaque nunca antes visto. Todo mundo quer tirar uma casquinha do “bike hype”.

“Novas” atitutes individuais não irão, sozinhas, “salvar o planeta”; o buraco é bem mais embaixo. Mas depois da curva ascendente do hype, dizem que vem o planalto da produtividade, quando as novidades são “normalizadas” e as mudanças realmente acontecem.

Confira esta cartilha da Transporte Ativo, que traz dicas importantes para quem quer instalar um dispositivo para receber bem o público sobre duas rodas. Ou veja neste mapa colaborativo os locais de São Paulo que já possuem bicicletários.

Se você não é otário, instale ou exija a a instalação de um bicicletário nos locais que frequenta. O trem do futuro não passa duas vezes na mesma estação, mas ainda dá tempo de garantir um lugar na janelinha.

Cyclophonica, CMI e bicicletas

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arte: sussa / ciclobr

Fim de semana agitado em São Paulo.

No sábado (05), o Instituto CicloBR promove um passeio ciclístico para celebrar alternativas às mudanças climáticas. Parte da campanha Tô no Clima, o passeio sai da Praça do Ciclista e vai até o Ibirapuera. Concentração a partir das 15h, saída às 16h.

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foto (roubada de): mandala

No domingo (06), a partir das 10h da manhã, uma série de atividades e shows no parque do Ibirapuera chamam a atenção para a cúpula climática de Copenhague (COP-15).

No Portão 3, por volta das 10h15, a maravilhosa Cyclophonica realiza a Marcha dos Darth Vaders, alertando para o futuro catastrófico caso governantes e sociedades não decidam agir agora para impedir a insanidade do desenvolvimento predatório.

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arte: ay carmela!

Também no Domingo (06), o Centro de Midia Independente comemora seus 9 anos de existência no Brasil e os 10 anos de vida da rede Indymedia, que nasceu durante os protestos contra a reunião da OMC em Seattle (1999).

A “batalha de Seattle” foi a primeira vez que o povo barrou uma reunião de líderes mundiais que tentavam estabelecer suas políticas destruidoras de sociedades e do meio ambiente. Foi também a continuação do levante zapatista de 1994, quando os índigenas mexicanos se insurgiram contra a aprovação do NAFTA (o acordo de livre comércio da América do Norte) e a disseminação avassaladora do Consenso de Washington.

Os chamados “protestos anti-globalização corporativa” trouxeram um novo horizonte para as sociedades do mundo, afirmando que a humanidade e o planeta devem estar sempre acima dos interesses especulatórios das corporações e do lucro. Dez anos depois, as crises econômica e ambiental mostram que o alerta era procedente.

A rede Indymedia e o CMI Brasil buscam oferecer ao público informação alternativa e crítica de qualidade que contribua para a construção de uma sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente. Inspirado pela frase “Odeia a mídia? Seja a mídia!”, o CMI foi o primeiro espaço digital a transformar qualquer cidadão em um produtor de mídia.

A festa do CMI Brasil acontece no Espaço Ay Carmela! (r. das Carmelitas, 140 – metrô Sé), a partir das 14h. Confira aqui a programação.

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Também no domingo, a partir das 9h da manhã, a Subprefeitura da Mooca promove o seu Passeio Ciclístico de Natal. A partir das 9h da manhã. Mais informações e inscrições aqui.

Toda sexta em dezembro (mais uma vez)

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arte: Palmas

Pelo terceiro ano consecutivo, tem Bicicletada toda sexta-feira de dezembro em São Paulo.

A massa crítica sai às ruas para aliviar a loucura motorizada de final de ano, celebrar as velhas e novas amizades e festejar o espaço público.

Como sempre, o encontro começa na Praça do Ciclista.

Concentração às 18h, pedalada às 20h.

A multa e o troco

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arte: coletivo interlux

A cidade de Curitiba é apontada como exemplo brasileiro de planejamento urbano, com transporte público organizado, crescimento projetado e cheia de espaços públicos de convivência livres de automóveis. Infelizmente, a administração municipal parece não estar muito disposta a estimular o desenvolvimento do modelo de cidade da qual foi pioneira.

A inclusão das bicicletas segue a passos lentos e tortuosos nos gabinetes da cidade e a prefeitura continua na contramão ao insistir que a melhor forma de lidar com as demandas e ações de seus cidadãos é a punição dos mesmos.

Três ciclistas foram condenados a pagar multas que somam quase R$ 3.000,00 pela participação na pintura da primeira ciclofaixa da cidade, atividade que aconteceu durante o Dia Sem Carro de 2007.

Com o valor das multas seria possível pintar 300 metros de ciclofaixa na cidade. Se forem computados os gastos com horas de trabalho de funcionários públicos, papeis e outras despesas vindas do bolso do contribuinte, os ciclistas estimam que seria possível construir alguns bons quilômetros de sinalização.

A Prefeitura insiste na cobrança, ainda que tenha poderes para reverter a decisão.

Os ciclistas resolveram lançar uma campanha de arrecadação para cobrir os custos da multa. O dinheiro será depositado em juizo e  os ciclsitas prometem mover uma ação contra a Prefeitura por desrespeitar o Código de Trânsito Brasileiro, que afirma ser obrigação das autoridades municipais instituir a estrutura cicloviária da cidade.

As contribuições para quitar a multa da ciclofaixa de Curitiba podem ser feitas pessoalmente no Govardhana Yogashala (Rua Augusto Stresser, 207) no horário comercial, ou através de depósito bancário (Banco do Brasil – CC. 39812-8 / Ag. 0009-4).

O grupo pede que as doações feitas por depósito bancário sejam acompanhadas de um email para o endereço coletivointerlux @ gmail.com, com nome completo e RG.

A multa, imunda multa – arte bicicleta mobilidade
O crime ambiental – sobre o processo dos três curitibanos
ciclofaixas – grupo transporte humano
Ciclofaixa X Prefeitura – rodafixa
postagens anteriores sobre ciclofaixas

Todos têm poder

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Algumas coisas não podem ser contabilizadas em estatísticas, explicadas cientificamente em relações de causa e efeito ou racionalizadas em previsões lógicas.

Os encontros de massa crítica, chamados de Bicicletada no Brasil e em Portugal, certamente escapam a todas as tentativas cartesianas: às vezes o que prometia ser maravilhoso acaba indo por água abaixo e em tantas outras o que parecia fadado à catástrofe se transforma em uma experiência ímpar.

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A Bicicletada da última sexta-feira foi um desses eventos memoráveis e é difícil explicar com palavras as razões para esta afirmação.

Apenas corpos presentes conseguem entender em seu metabolismo o que significam aquelas poucas horas de subversão do paradigma da imobilidade e do isolamento, quando uma janela se abre no espaço e no tempo para que indivíduos ativos e responsáveis por outros indivíduos governam um organismo vivo que se movimenta alegremente inspirando a metrópole.

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Talvez tenha sido a chuva, que só caiu durante os 20 minutos finais da concetração lúdico-educativa, refrescando corpos e almas, limpando o ar e provocando encontros inusitados debaixo das marquises na região da Praça do Ciclista.

Talvez a fundação da Associação Ciclocidade na quarta-feira anterior, que conectou mais alguns espíritos até então isolados para amplificar a força de quem se move em direção às cidades do século XXI.

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O fato é que mais de 250 pessoas pedalaram por mais de 20km de cidade no que talvez tenha sido a melhor bicicletada dos últimos dois anos.

No meio do caminho, um shopping center que foi inaugurado sem bicicletário recebeu a visita da massa, que deixou o recado e seguiu adiante para transformar mais alguns quilômetros de ruas em espaço fluído, seguro e humano.

relatos:
ecologia urbana

fotos:
carlos aranha
edu green
luddista

videos:
apocalipse motorizado – blip.tvyoutube
bruno giorgi – [1][2]
carlos aranha
renato zerbinato

notícias:
folha online
blog do professor arnaldo