Hora do rush?

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Av. 23 de maio, 15h30 de sexta-feira.

Já faz tempo que São Paulo não tem a chamada hora do rush. Existem apenas os horários ruins e os muito ruins. Culpa dos 3,5 milhões de veículos particulares que circulam na cidade todos os dias. Ainda bem que o resto da frota de 5,6 milhões de veículos fica em casa.

Seguranca em cima de tudo

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O negócio mais próspero em São Paulo é a indústria da segurança privada. Em simbiose com a indústria do medo (TV, jornais e “revistas” como a Veja), a segurança está acima de tudo na vida do paulistano. No caso da foto acima, o carro de segurança está mesmo é “em cima” da faixa de pedestres.

Segundo dados do Sindicato dos Empregados em Empresas de Vigilância, a cidade de São Paulo tem 97 mil vigilantes particulares (dos quais apenas 27 mil legalizados) (Folha de São Paulo, 31.mar.2004, p. C3). A Polícia Militar, por sua vez, conta apenas com 25 mil policiais nas ruas da capital.

Estima-se que a indústria anti-paranóia movimente mais de R$4,5 bilhões por ano em todo o páis, sem contar as empresas clandestinas.

A polícia também pára na calçada

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Para defender a população, investigar crimes ou simplesmente comer uma coxinha, a polícia de São Paulo (civil ou militar) também usa e abusa do estacionamento nas calçadas. Este veículo da polícia civil, por exemplo, é “habitué” nesta esquina. Passa horas estacionado no local.

Até tu, TV Cultura?

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O flagra acima é de um carro da TV Cultura, mas o estacionamento irregular é comum às grandes redes de tevê, aos jornais e revistas. Deve existir alguma norma oficial que dá esta liberdade à imprensa. Afinal, teoricamente, os veículos de mídia estão a serviço do interesse público.Por uma questão de bom-senso e cidadania, imagina-se que o estacionamento irregular seja o último recurso da equipe jornalística na tentativa de colher a informação, ou seja, apenas um fato urgente acontecendo ao lado do carro de reportagem ou outra situação especial poderiam justificar a transgressão.

A urgência quase nunca existe e a “liberdade” não se restringe ao jornalismo. Também recebem o privilégio as equipes de programas como Luciana Gimenez, do tal de “Leão”, de canais de variedades, canais de vendas, programas de fofoca ou de escândalo, dos programas de igrejas ou seitas, das pegadinhas… Basta ser “da mídia”, que tá liberado.

Se Ayrton Senna estivesse de bicicleta…

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Se Ayrton Senna estivesse passeando de bicicleta na bela manhã daquele domingo, 1º de maio de 1994, provavelmente estaria vivo até hoje. Mas Senna era amante da velocidade motorizada e, naquela manhã, morreu dentro de um carro a 300km/h. Assim como Ayrton Senna, 50 mil brasileiros morrem a cada ano por causa dos “acidentes” de carro (pedestres e motoristas). Entre os motoristas, a ampla maioria estava numa velocidade incompatível com a via, a situação ou a sua condição física. Já os pedestres têm pouca chance de sobreviver em um choque com duas toneladas de aço.

No mundo, os automóveis e seus motoristas são responsáveis por 1,2 milhões de mortes por ano (revista Veja, 04.nov.2000). O trânsito é a maior causa de óbitos entre os homens (OMS), apesar de dizerem por aí que as mulheres são as más motoristas.

Até hoje não entendo por que é permitido fabricar e vender automóveis que chegam a 180km/h, 200km/h se o limite máximo de velocidade em todo o país não ultrapassa os 120km/h (e se a velocidade na cidade fica em torno de 30km/h). É como permitir a venda de uma metralhadora automática mas dizer que o sujeito só pode dar um tiro por vez com bala de festim. Isso pra não falar das propagandas de veículos, verdadeiras apologias criminosas à velocidade.

De Borba Gato ao automóvel
Na foto acima, a homenagem da cidade de São Paulo ao piloto: o monumento que fica em cima do túnel Ayrton Senna, obra iniciada pelo então prefeito Paulo Maluf. Outra homenagem, desta vez estadual, foi a mudaça de nome da Rodovia dos Trabalhadores: os anônimos homenageados deram lugar à marca Ayrton Senna.

Pelo complexo de três túneis que ligam a 23 de maio ao Morumbi (ou à USP) não circulam ônibus nem bicicletas, apenas veículos particulares, taxis e motocicletas. Geralmente a velocidade média não passa dos 30km/h. Afinal, em São Paulo, um túnel é a distância mais curta entre dois pontos de congestionamento.

A obra tem cheiro de superfaturamento (mais um na carreira de Maluf). Segundo técnicos do setor, com o que foi gasto para construir os túneis (que passam por baixo do lago do Ibirapuera e do Rio Pinheiros) era possível construir uma linha inteira de metrô (incluindo as estações). Mas São Paulo não gosta de metrô, São Paulo gosta de Ayrton Senna. Que descanse em paz… junto com os outros milhões de pilotos urbanos e suas vítimas mortos a cada ano.

De volta ao centro – domingo, 24

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No próximo domingo (24), cidadãos indignados com o estacionamento ilegal de automóveis nos calçadões do centro voltarão a se manifestar de forma pacífica e criativa. “Multaremos” os carros do calçadão para permitir a vida no centro. Participe você também! A atividade acontece a partir das 13h, nas escadarias do Teatro Municipal.

Aos finais de semana existe uma enorme tolerância ao estacionamento ilegal. Muita gente ainda acredita que atrair carros significa dar vida a uma região degradada. Nós acreditamos que os carros estrangulam a vida, poluem, ocupam espaço demasiado e degradam as cidades.

Veja textos e fotos sobre o tema:
Viva o centro… sem carros
Viva o centro… sem carros (parte 2)
Viva o centro… sem carros (parte 3)
Especial centro 02 :. calçadão da Luz
Especial centro 03 :. Paulo Mendes da Rocha: “É um desastre completo”
Especial centro 04 :. o espaço ocupado

32a bicicletada de São Paulo

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Aconteceu ontem, sexta-feira, a 32a bicicletada de São Paulo. Seguindo a tradição mundial dos eventos de Massa Crítica, a bicicletada paulistana agora acontece sempre na última sexta-feira de cada mês. Confira: www.bicicletada.org ou leia outro excelente relato com fotos em http://geocities.yahoo.com.br/debicicleta/sexta

Depois de uma longa estiagem e de alguns eventos paralelos, a tradicional pedalada pela coexistência pacífica no trânsito voltou a ocupar as ruas com criatividade. Além dos panfletos e das máscaras anti-poluição, um homem-placa ajudou a estabelecer contato visual com os motoristas.

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Ocupando a rua. Desta vez a segunda pista da Av. Paulista, deixando livre a faixa de ônibus.

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Um dos panfletos distribuídos (clique na imagem para ampliá-la)

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Panfletagem e homem placa.

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Os motoristas geralmente são receptivos, mas alguns preferem continuar no tédio da solidão escurecida e refrigerada. Fica a dica: da próxima vez, levemos um cartaz escrito “boa noite” para tentar estabelecer comunicação através do insul-filme.

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A bicicletada terminou no MASP (Museu de Arte de São Paulo). Lá acontecia uma “homenagem” aos 40 anos da Rede Globo organizada pelo CMI-Brasil.

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fotos: debici
fotos: luddista

Bicicletada na hora do rush – sexta-feira

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sexta-feira (29)
18h
Paulista x Consolação

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(“resgate o espaço público – semana sem tv – de 25 de abril até 01 de maio”)

Abrimos parêntese no :. apocalipse motorizado: ontem foi aniversário da Rede Globo. São 40 anos de hegemonia e controle midiático, político e cultural do nosso país. Sexta-feira tem festa em São Paulo (veja no fim do texto).

Esta também é a Semana Sem TV (TV Turnoff Week), uma campanha do site adbusters que acontece entre 25 de abril e 01 de maio. Nada melhor do que celebrar o aniversário da Globo com a TV desligada.

Quem tem cartão de crédito internacional e não suporta entrar em qualquer lugar e dar de cara com uma indefectível TV ligada, pode investir no chaveiro TV-B-Gone. O brinquedinho desliga todas as televisões da área, independente da marca ou modelo.

Cidadão Kane Marinho
A Rede Globo é a entidade mais presente no Brasil (o sinal chega a 99% do território). Dizem até que a emissora é uma das grandes responsáveis pela fundação do Brasil contemporâneo, este país tropical de população numerosa e economia neoliberal subdesenvolvida. Uma mistura tensa e confusa de Audis com trens de subúrbio, de Higienópolis com Itapecerica, da fome com a obesidade, de São Paulo com o Piauí, do Pay-Per-View com o programa do João Kleber. O que não sai na Globo simplesmente não aconteceu, não faz parte do Brasil oficial nem sequer rende assunto para o dia seguinte. E viva Chico Buarque!

O império do “jornalista” Roberto Marinho esteve sempre dentro do poder. Apoiou o golpe militar e a ditadura, silenciou durante as Diretas, apoiou o governo Sarney, a eleição e a saída de Collor, a reeleição e os dois mandatos de FHC e agora faz carinho no governo Lula. Explica-se: a aventura da TV a cabo foi vitoriosa (hoje a NET é praticamente monopolista no setor), mas fez crescer de forma insustentável a dívida da Globo com o BNDES. Foram se os tempos de oba-oba das privatizações dos anos 90, secou a torneira da paridade com o dólar e a empresa teve que abrir mão de alguns anéis para não perder os dedos.

Hoje, além da TV Globo, dos canais Globosat, das operadoras NET e Sky, o império tem jornais, rádios, revistas, editoras e conteúdo multimídia. Centenas de deputados e senadores possuem afiliadas de algum veículo das Organizações Globo (tv, rádios ou jornais).

A gente se vê na rua
Desligue a TV e vá pra rua! Se não conseguir, pelo menos assista ao filme “Muito Além do Cidadão Kane” (“Brazil: beyond citzen kane”), produção inglesa que conta a história da empresa de Roberto Marinho. O filme está disponível em redes de compartilhamento de arquivos (P2P) como o Kazaa, eMule e bittorrent.

Em São Paulo, uma festa ao ar livre está programada para a próxima sexta-feira (29), às 19h, no vão livre do MASP. Veja também algumas matérias e a programação de eventos “comemorativos” no site do CMI Brasil.

Pode colocar aí mesmo, é só um ponto de ônibus

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Já faz tempo que o Dia do Trabalho é uma grande festa pelega. Shows e sorteios de carros e casas. Afinal, devemos todos comemorar a maravilhosa situação do trabalhador brasileiro: ganha um ótimo salário, trabalha pouco, vive tranquilo, tem educação, cultura, lazer, saneamento básico, transporte, igualdade de oportunidades…

Desta vez a CUT, uma das centrais sindicais que organiza as festas, resolveu montar o palco em frente ao prédio da Gazeta, na Av. Paulista. E o ponto de ônibus que existe no local? “Não tem problema, é só um ponto de ônibus”, disse quem autorizou a instalação.

O ponto já é bastante movimentado e, durante uma semana, milhares de pessoas terão que se espremer embaixo da estrutura e no pequeno espaço de calçada que restou. Afinal é por uma boa causa: domingo tem J.Quest, Latino, KLB… E quem sabe você não ganha um carro no sorteio pra não precisar mais andar de ônibus?

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