O golpe verde

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“sejamos seres humanos” – cc Mike Mills / AdBusters

“Boa parte dessa história ‘verde’ está no limite de ser um grande golpe. O mercado de carbono, que conta com subsídios governamentais monstruosos, é apenas o que o capital financeiro e o industrial querem. Este mercado não irá ajudar em nada a resolver as mudanças climáticas, mas fará com que algumas pessoas ganhem muito dinheiro, servindo apenas para adiarmos as conclusões óbvias” – James Lovelock, criador da teoria de gaia, em entrevista à revista New Scientist (reproduzida parcialmente em artigo da AdBusters).

Há duas semanas, o Ministério do Meio Ambiente lançou um índice de emissões veiculares de poluentes. Alguns mitos foram derrubados, entre eles o do etanol como combustível “limpo”. A Anfavea (associação da indústria automobilística) e a associação dos produtores de cana de açucar chiaram. Os fabricantes de veículos disseram que o índice era equivocado pois considerava apenas modelos recém saídos de fábrica. Segundo as montadoras, depois de “amaciados”, os carros poluem menos.

Os produtores de cana argumentaram que a avaliação do governo não levava em conta as emissões de CO2. Os sucralcoleiros argumentam que os veículos à etanol têm suas emissões de CO2 “zeradas” pois a cana de açúcar absorve este gás durante o processo de fotossíntese. Ou seja, carros à álcool rodando em São Paulo seriam “sustentáveis” por causa da fotossíntese da cana plantada em Ribeirão Preto, no Cerrado ou na Amazônia (como se a cana de açucar fosse uma espécie nativa destas regiões).

Haja fé e esforço estatístico para comprovar o raciocínio e distanciar a população das conclusões óbvias citadas por Lovelock.

“Assim como em 1939, nós teremos que desistir em massa do estilo de vida confortável dos tempos de paz e passaremos a nos sentir ricos com apenas 1/4 do que consumimos hoje. Se fizermos corretamente e com entusiasmo, (o futuro) talvez não se pareça com uma época de depressão, mas, assim como em 1940, se apresentará como uma chance de nos redimirmos. Para os jovens, a vida será cheia de oportunidades para servir e criar e eles encontrarão um sentido na vida.” – James Lovelock, The Vanishing Face of Gaia (trecho na revista AdBusters)

Como pode uma bicicleta ser mais rápida que um helicóptero?

video: renata falzoni

Não era surpresa para ninguém que a bicicleta seria o veículo mais rápido nas ruas de São Paulo durante o IV Desafio Intermodal da cidade. Antes da largada, e talvez de maneira inconsciente, o ciclista Ricardo Bruns já tinha pinta de campeão.

Ele sabia que seu tempo seria próximo dos 22 minutos, talvez com uma pequena diferença para cima ou para baixo, mas não era novidade que carros, motos, ônibus e trens não poderiam superá-lo no congestionamento das seis da tarde.

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foto: cc fahrrad

A grande surpresa deste Desafio Intermodal foi o fato de Bruns em sua bicicleta chegar ao destino antes do jornalista Milton Jung, que que foi de helicóptero.

O desafio intermodal não é exatamente uma corrida, mas sim uma comparação entre diversas maneiras de se deslocar por uma cidade. Para entender a vitória da bicicleta, podemos imaginar que todos os participantes estão em uma reunião (ou em um parque) e decidem ir até outro ponto da cidade.

Depois de combinar o destino, cada participante pega o seu veículo e inicia o trajeto.

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foto: cc milton jung

E aí começa a larga vantagem da bicicleta. Na maior parte dos casos, estacionar uma bicicleta é muito mais fácil e rápido do que guardar um carro, chamar um taxi ou esperar um ônibus. Como explica o jornalista Milton Jung, mesmo em uma região bizarra da cidade, onde helipontos são mais comuns do que pontos de ônibus, a praticidade da bicicleta permitiu que o ciclista abrisse uma larga vantagem enquanto o passageiro do helicóptero aguardava a chegada de seu veículo.

Assim como o bom transporte sobre trilhos (metrô), o tempo de deslocamento de uma bicicleta não depende de fatores externos. Enquanto o motorista de um carro pode levar 20 minutos ou 2 horas para fazer um mesmo percurso, o tempo da bicicleta (ou do metrô) é sempre o mesmo: a única variação diz respeito ao ritmo do ciclista ou, em casos extremos, à condições climáticas agressivas.

Bruns pedalava uma bicicleta de roda fixa, um tipo em que os pedais giram junto com a roda, ou seja, o ciclista não para de pedalar e consegue alcançar velocidades maiores do que as bicicletas comuns. Além disso, ele conhecia perfeitamente o trajeto em questão (da região da Berrini até o centro da cidade), sabendo os pontos perigosos, estreitos ou que de alguma maneira poderiam afetar seu desempenho.

Parece óbvio, mas não custa lembrar: bicicletas, ônibus, metrô, trens e motos são formas muito mais inteligentes de distribuir um recurso cada vez mais escasso na cidade de São Paulo: o espaço.

Enquanto cada motorista sozinho em seu carro ocupa mais de 12 metros quadrados na via, afetando significativamente a velocidade e o conforto de passageiros de ônibus, motos e também de outros motoristas, quem vai de bicicleta ou usa transporte coletivo contribui (e muito) para a melhora das condições de deslocamento urbano, inclusive para aqueles que precisam usar o carro.

Infelizmente, a cegueira motorizada de uma parcela ainda significativa da população e dos governantes segue considerando bicicletas e ônibus como veículos de segunda categoria, despejando rios de dinheiro e destinando milhares de quilômetros quadrados para o fluxo e estacionamento dos motores individuais e só algumas migalhas para o resto da população.

clipping de notícias, fotos e vídeos no site da Bicicletada
resultados do desafio no ciclobr

7o Pedal Verde

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arte: pedal verde

[mais informações]

Preserve o dissenso

arte: cc adbusters

Vilada Cultural nos 80 anos da Vila Itororó

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imagem: saju

A Associação de Moradores da Vila Itororó convida.

Programação completa e mais informações: [1][2][3]

Arte pela barbárie – ataque da primavera

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Terça-feira, 22 de setembro, 11h22 minutos, av. Paulista.

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Intervenção-manifesto para os ouvidos atentos e para os olhos passantes.

mais fotos: [1][2]
video, fotos e manifesto

Carrodependência tem cura

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Na manhã do Dia Sem Carro, faixas espalhadas pela cidade de São Paulo lembravam que as patologias do uso excessivo de automóveis atingem outros órgãos além do pulmão, mas que existe tratamento. No espaço urbano, a infecção se alastra com rapidez, ganhando força com maus hábitos alimentares como a Redução do IPI, a pavimentação de várzeas com finalidade eleitoral ou a total negligência com os modos de circulação ditos “alternativos”.

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Desperdício de espaço, isolamento, solidão, angústia, espalhamento e privatização da cidade são alguns dos sintomas mais visíveis. Nos casos mais graves, a Carrodependência pode levar à total fragmentação do tecido social e consequente morte das cidades.

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A doença é de difícil detecção: depois de alojado no corpo da cidade, nos gabinetes de palácios e nos tubos de televisão, a Carrodependência provoca delírios, distorções na visão, febres e alto consumo de energia e recursos naturais.

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A Carrodependência Institucional, um tipo avançado da doença, tem como principal sintoma a dificuldade de encarar o presente: pacientes crônicos geralmente são vistos em telejornais cantarolando promessas para um futuro distante, falando de um passado remoto, de terras longínquas ou de assuntos secundários. O Carrodependente Institucional é o que tem maior dificuldade de se reconhecer doente perante a sociedade.

Com alguns meses de infecção, o Carrodependente Institucional pode desenvolver outras doenças mais comuns, como a Esquizofrenia Mercadológica, a Logotipia Crônica e a Paranóia da Carreira Política.

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A Carrodependência tem cura, mas não pode ser encarada como um simples resfriado. O tratamento geralmente requer intervenções duras que  afetam os privilégios de algumas células minoritárias.  Médicos e pacientes precisam de auxílio psicológico e não devem titubear ao  enfrentar o chororô das minorias. Mas é importante lembrar que cada ataque aos tecidos podres pode resultar na multiplicação de imagens e conceitos distorcidos, dificultando ainda mais o combate às causas da Carrodependência.

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Alguns enxergam saídas…

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… outros se escondem delas

Mais fotos / fotos brunogola [1] [2] [3]
No Dia Mundial Sem Carro, SP não amplia oferta de transporte
Capital paulista não vai participar oficialmente
Praticar o “cada um por si” no trânsito

Dia Mundial Sem Carro: experimente

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arte: singer / world carfree network

Enfrentar a dependência do automóvel e suas patologias associadas parece tarefa impossível para um número cada vez maior de pessoas e para grande parte dos governantes.

Quem possui um carro (e algum dinheiro para sustenta-lo), passa a não enxergar nenhum outro horizonte de mobilidade urbana.

Do outro lado, vultuosos montantes envolvidos na construção e manutenção de tudo que os carros precisam para rodar (ruas, pontes, avenidas, combustível, pneus, autopeças, estacionamentos…) e quase 100 anos de técnicas de planejamento urbano e de políticas públicas voltados para atender o fluxo sempre crescente de automóveis deixaram o poder público amarrado ao problema, sem enxergar nem conseguir agir em favor das alternativas (a não ser quando a saturação de carros começa a ser um problema para os próprios carros).

Somado a estes elementos, interesses privados monumentais sustentam e estimulam o desperdício e o individualismo associados ao automóvel, em uma indústria responsável por boa parte do dinheiro em circulação no planeta (junto com as indústrias da guerra e do tráfico de drogas).

A epidemia mundial de cidades degradadas pela presença marcante do automóvel se alimenta desta tríade: indivíduos dependentes, iniciativas privadas altamente lucrativas e poder público inerte e/ou interessado no estímulo ao automóvel.

O Dia Mundial Sem Carro tem seus primeiros registros em São Paulo  no ano de 2004, com grupos de ciclistas e a ANTP. Em 2005, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município passou a apoiar a data. Nos anos seguintes, outras organizações também se juntaram ao processo.

A proposta do Dia Sem Carro é, em primeiro lugar, experimentar outras formas de deslocamento e deixar o carro em casa. Vivenciar a cidade, seus problemas e belezas de maneira não-mediada é um remédio surpreendente para a carrodependência,  um antídoto para a degradação do tecido social, podendo inclusive resultar em transformações coletivas maiores e inesperadas.

Infelizmente em São Paulo ainda não há nenhum estímulo público para que essa “difícil” experiência seja feita (frota total de ônibus nas ruas, descontos em tarifas, criação de corredores temporários de ônibus ou bicicletas, transformação de áreas de fluxo em locais de convivência, etc). Mesmo assim, uma parte significativa dos deslocamentos feitos por automóvel compreendem pequenas distâncias (ir até a padaria, escola, supermercado, visitar amigos, etc) e nestes casos o automóvel pode facilmente ser substituído por uma caminhada, um ônibus ou uma bicicleta.

Além disso o Dia Sem Carro é um momento de reflexão sobre o impacto do automóvel nas cidades e sobre a carrodependência urbana, momento de exigir condições de deslocamento dignas para quem não possui automóveis e de promover suas alternativas.

Confira abaixo a programação da semana do Dia Sem Carro 2009 em São Paulo (mais atividades adicionadas ao longo do dia). Aos leitores de outras cidades, pedimos desculpas mas neste ano não foi possível dar conta de divulgar tudo o que vai acontecer no Brasil. Para informações sobre outras paragens, visite a rede de notícias ou acompanhe o twitter.

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[arte: Iniciativa / em PDF– p/ imprimir e colar por aí]

SEGUNDA-FEIRA (21)

* Debate “A importância de um Plano de Transportes em SP” – das 19h30 às 21h30 – Tucarena

TERÇA-FEIRA (22)

* Vaga Viva – das 7h às 19h – r. Padre João Manoel X Av. Paulista

* Praia do Tietê – das 9h às 12h30 – próx. à ponte das Bandeiras

* Cortejo da trupe Os Sustentáveis pelas ruas do centro – das 10h às 14h – Sesc Carmo

* Exibição do vídeo Sociedade do Automóvel / bate papo sobre mobilidade urbana (Thiago Benicchio – apocalipse motorizado / Eduardo José Daros – Abraspe) – das 16h às 18h (bate papo às 17h) – Sesc Vila Mariana

* Bicicletada do Dia Mundial Sem Carro – a partir das 18h – Praça do Ciclista

* intervenção Os Autoólicos Anônimos – das 18h às 20h30 – Sesc Santana

* debate Plano Diretor Estratégico e Mobilidade – às 19h – Sindicato dos Engenheiros

* pedalada do CAB no Dia Sem Carro – a partir das 20h30 – Extra Morumbi

Curtas do fim de semana

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* CANCELAMENTO 1 – O Passeio Ciclístico da Diversidade Sexual, que aconteceria hoje, foi cancelado pelos organizadores. A nota oficial diz que a CET não pode se responsabilizar pelo apoio logístico que seria dado ao passeio. Uma dica aos organizadores: da próxima vez, exerçam seu direito de ocupar as ruas e procurem ciclistas, e não motoristas, para o “apoio logístico”.

* CANCELAMENTO 2 -Apesar de nenhum anúncio de página inteira do banco patrocinador ter sido visto nos jornais de sexta feira (como foi praxe nas últimas três semanas) informando sobre o cancelamento, a Ciclofaixa de Lazer, que ligava três parques aos domingos, não funcionará amanhã. A razão é a maratona do supermercado, que vai passar pelo mesmo local. Até as 16h de sábado, o site patrocinado da Ciclofaixa também não informa o cancelamento. Espera-se uma alegre confusão.

* SUMARÉ PARA AS PESSOAS – Neste domingo, das 6h às 14h a av. Sumaré estará aberta às pessoas (e fechada às máquinas) no trecho que vai do viaduto da Dr. Arnaldo até a R. Bartira. Próximo ao viaduto, uma tenda organizada por ciclistas paulistanos irá promover oficinas de segurança no trânsito e mecânica. A tenda dos ciclistas funciona das 9h às 12h.

Greenwashing: a Vale explica

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Uma das traduções para o termo “greewashing” é “pintar” ou “lavar” de verde.

O anúncio acima não sofreu nenhuma alteração nas suas cores originais. Foi pintado de verde pelos autores.

Indústrias de combustíveis, montadoras de automóveis, empreiteiras, mineradoras, companhias aéreas, hipermercados e outras empresas campeãs de impacto ambiental planetário são as maiores adeptas da tática eco-goebeliana. São elas as responsáveis pelo “progresso” e pelo “bom desempenho da economia”, ainda que isso geralmente não tenha nenhuma relação com a melhora da condição de vida da maioria das pessoas.

As campeãs do greewashing sustentam o modo de vida baseado na concentração e no desperdício de recursos da sociedade de ultra-consumo, mas vendem o seu negócio com a cor do momento. O greewashing limpa a alma dos pecados corporativos, cria novos “amigos da natureza”, promete salvações miraculosas e distanciam cada vez mais a humanidade de qualquer possibilidade de uma vida em mínima harmonia com o planeta.

Eco-consumismo
Carro a álcool polui tanto quanto os movidos a gasolina
Não existe carro ecológico