Vitrine

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(foto: Daniel Helene) (clique para ampliar)

Sábios e idiotas

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A foto acima registra um assassino em potencial ou, na melhor das hipóteses, um suicida motorizado. Meu amigo Zé Kley (do blog papelotes) foi quem deu a dica desta matéria da revista Quatro Rodas que traz o depoimento de um playboizinho flagrado a 189km/h na Marginal Pinheiros. E o cara-de-pau ainda reclama da fiscalização.

É bom reclamar enquanto vive: depois que encontrar um poste no caminho, fica difícil dizer alguma coisa (só torcemos para que o futuro acidente não envolva outros motoristas, pedestres ou ciclistas).

De Salvador vem uma grande notícia: a prefeitura irá proibir o acesso de veículos ao Pelourinho. A medida visa preservar o centro histórico e garantir a segurança dos pedestres. Que o exemplo ilumine a mente dos administradores paulistanos, que fazem vistas grossas à ocupação ilegal do centro por automóveis e já cogitaram abrir os calçadões para o trânsito de veículos.

USP X bicicletas: mais um capítulo

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Não tive como ir até a USP para verificar, mas chegou ao meu conhecimento que a Caloi colocou dois outdoores na entrada do campus (imagem acima). Na semana passada foi anunciado também que o autódromo de Interlagos será aberto para o treino dos atletas que praticam ciclismo.

A boa e lúcida campanha da Caloi segue a linha do chamado “bike advocacy” (defesa das bicicletas), que começa a ser usado com mais freqüência na estratégia de marketing da empresa. O primeiro passo foram os cinco filmes publicitários protagonizados pelo VJ Edgard Picolli, que mostrava nas ruas as vantagens da bicicleta como meio de transporte.

Já não era sem tempo: segundo pesquisa da Abraciclo, 53% da frota de bicicletas é de uso urbano e não dos caros modelos esportivos (apenas 1%). Resta torcer para que o preço das bicicletas também siga esta tendência de oferta/demanda: enquanto uma bicicleta de uso urbano da Caloi não sai por menos de R$600, uma mountain bike é oferecida pela metade do preço.

Interlagos é muito longe
A decisão de abrir o autódromo para os atletas órfãos da USP deverá agravar a situação kafkaniana da capital mais motorizada do país. Certamente os ciclistas-atletas vão reclamar que o autódromo de Interlagos é muito longe. Afinal, boa parte dos atletas que treinava na USP não usa a bicicleta como meio de transporte. Para levar suas bicicletas de carro até o autódromo, terão que enfrentar um trânsito insuportável.

Estranho paradoxo: os atletas não treinam nas ruas porque são ameaçados e desrespeitados pelos motoristas, além de enfrentar o asfalto esburacado pelo peso dos motorizados. Aí vão até a USP de carro e lá dentro passam a ameaçar e desrespeitar pedestres e motoristas.

Para resolver o problema da forma mais fácil, a USP resolveu proibir todos os ciclistas, deixando a universidade livre para o automóvel, meio de transporte mais nocivo à vida nas cidades. Os atletas, que eram o “problema” apontado pela USP, ganharam então um novo lugar para treino. Só que este lugar é bem pior, exatamente por causa do trânsito causado pelos automóveis dos próprios atletas e dos outros motoristas.

Boa parte dos atletas que reivindicam o espaço de treinamento perdido não participa das ações de promoção da bicicleta como meio de transporte. Talvez esta seja uma boa oportunidade para que estes se aproximem dos ciclistas urbanos na luta por uma cidade mais agradável (e não apenas para exigir espaço de treinamento). Afinal, todos foram prejudicados pela medida da USP e todos vivem nesta cidade caótica, poluída e congestionada.

Triste mesmo será se os atletas se contentarem com o novo local e os ciclistas urbanos continuarem proibidos de circular na USP. Teremos então um velódromo dentro de um local destinado aos carros (Interlagos) e um autódromo na USP, espaço que deveria estimular meios de transporte inteligentes como a bicicleta. Paradoxos do subdesenvolvimento.

(leia também outro texto publicado anteriormente neste blog ou a matéria do Estadão sobre a abertura do autódromo para os atletas)

Pode passar, a faixa é sua

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(foto: João Campos) (r. Bela Cintra)

Pedestre, a preferência não é sua.

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(praça Oswaldo Cruz)

Alguém já viu uma faixa oficial dizendo: “motorista: amarelo não é verde” ou “quando não houver semáforo específico, a preferência na faixa é sempre do pedestre”?

As campanhas, geralmente apoiadas/patrocinadas por empresas de seguro (neste caso, a Porto Seguro), visam garantir o fluxo e a segurança de quem está dentro dos veículos. “Não pare em fila dupla”, “Crianças, só no banco traseiro” ou “Use o cinto de segurança” são as campanhas educativas nesta terra. Ao pedestre, resta apertar o botão e aguardar…

EcoSport – destrua a vida

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Como diria aquela máxima da propaganda: uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. Ué, mas esta frase não é de Joseph Goebbels, nazista alemão responsável pela propaganda de guerra? Sim, mas nos tempos orwellianos do século XXI, “guerra é paz” e a paz (ou a guerra) é a paz de mercado. A democracia não é mais para as pessoas, mas sim para o mercado. Liberdade? Só para os produtos, pois os empregados indonésios ou mexicanos da Nike continuam proibidos de imigrar para os EUA, onde fica a sede da empresa.

Tenho um olhar seletivo para a propaganda. Seletivo quer dizer: mudo de canal ou deixo no “mudo” durante os comerciais, pulo sem ver as páginas de anúncios em jornais e revistas, devolvo aos Correios propaganda indesejada dizendo que o destinatário faleceu e simplesmente não presto atenção em outdoors (prefiro ver as árvores ou as expressões de tédio dos motoristas).

Mas uma matéria do Estadão (02.mai.2005, p. b12) trazia a seguinte manchete: “O vale-tudo das montadoras para conquistar o consumidor”. Passei a procurar propagandas de automóveis. São tão bizarras quanto as de cigarro que existiam antigamente. Enquanto o cigarro mostrava pessoas jovens, bonitas e praticantes de esporte, os automóveis são anunciados como a salvação moderna, trazendo conforto, segurança e prazer, além de uma forma rápida de conquistar mulheres maravilhosas como símbolo de status e glamour.

Decidi criar uma nova seção no site: “Compre! Congestione! Polua!”, dedicada aos gênios goebbelianos do marketing moderno. Pra começar, uma homenagem à nossa querida Ford, que criou uma máquina poluidora chamada “EcoSport” e ainda tem a cara de pau de colocar como slogan “bem vindo à vida”. Como sabemos, os automóveis (e seus motoristas) paulistanos são responsáveis pela morte de 1500 pessoas por ano diretamente em acidentes de trânsito. Isso para não falar nas vítimas indiretas do sedentarismo, da poluição, do estresse e da baixa qualidade de vida.

Menos vagas, mais ciclovias e faixas de ônibus

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(espaço público ocupado pelas propriedades privadas)

O Estado de S. Paulo do último domingo trouxe uma matéria sobre o gasto dos paulistanos com estacionamento. Os carro-dependentes chegam a gastar R$447 por mês só para estacionar seus automóveis.

A notícia repercutiu na segunda-feira em alguns programas de TV. A maior parte mostrava o “valor absurdo” cobrado pelos estacionamentos, chegando a sugerir que os preços fossem tabelados (ué, mas não vivemos tempos de livre-concorrência?). Transporte público? Bicicleta? Não… isso é só para quem não “venceu na vida”.

Expropriação legalizada
Os automóveis são propriedades privadas e ocupam muito espaço, ainda mais se pensarmos que a taxa de ocupação na cidade é de 1,2 pessoas por veículo. Estacionar de graça nas ruas (espaço público) é uma incongruência gigantesca; a função básica de uma rua é a circulação de veículos (motorizados e não-motorizados). Por isso as pessoas não podem montar piscinas de plástico ou churrasqueiras junto ao meio-fio nem aos domingos.

Em uma cidade que vive entupida pelos carros, uma boa idéia seria restringir ainda mais o estacionamento grátis. O monstruoso espaço ocupado pelos carros poderia ser transformado em ciclovias, praças, canteiros, corredores de ônibus e até em novas faixas de circulação para automóveis.

Sobre a matéria do Estadão, só resta dar risada ao saber que os frequentadores da nova Daslu (centro de compras para grã-finos) terão que desembolsar R$30,00 pela primeira hora de estacionamento. Será que tem estacionamento para bicicletas?

É um gênio!
Resta também lamentar a lógica automobilísitica do consultor de trânsito Luiz Célio Bottura: “Se houvesse estacionamentos privados suficientes, ninguém ia parar na rua, o que livraria pelo menos uma faixa a mais para o trânsito fluir”. Só que não há e nunca haverá espaço suficiente para todos os carros; ao menos enquanto o planejamento urbano e econômico continuar voltado para o estímulo aos automóveis.

Vale lembrar que Bottura sugeriu recentemente que os ciclistas deveriam trafegar na contra-mão. Pela lógica do engenheiro, os ciclistas devem se proteger dos carros. Imagino que os pedestres também seriam obrigados a redobrar sua atenção, já que as ruas de mão única passariam a ter tráfego nos dois sentidos (carros em um e bicicletas em outro).

Bottura subverteu a lógica de coexistência pacífica no trânsito ao afirmar que os mais fracos devem se proteger dos mais fortes, quando o Código de Trânsito e o bom-senso prevêem exatamente o oposto. O engenheiro também se esqueceu das aulas de física: em um choque de dois corpos em sentidos opostos, as velocidades são somadas (ou seja, o estrago é bem maior).

Pesquisa argentina – a maior invenção

A versão argentina do portal Terra está realizando a mesma enquete feita pela Rádio 4 da BBC, que elegeu a bicicleta como a maior invenção humana desde 1800. A pergunta é: qual a maior invenção de todos os tempos? Entre as opções, bicicleta, rádio, eletricidade e automóvel.
Vote aqui.

Bicicleta: a maior invenção desde 1800

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A bicicleta foi eleita a maior invenção humana desde 1800. A escolha foi feita pelos britânicos, através de uma enquete realizada pela Rádio 4, da BBC.

A “magrela” obteve 59% dos votos; em segundo lugar ficou o transistor (8%) e, em terceiro, o anel de indução eltromagnética (meio para produzir eletricidade). Os computadores (6%) e a internet (4%) ficaram para trás.

Os primeiros esboços de um veículo de duas rodas com tração por corrente (o princípio da bicicleta) foram traçados por Leonardo da Vinci, ainda no século XV. No entanto, a invenção “oficial” só aconteceu no final do século XVIII. (veja mais sobre a história da bicicleta aqui ou aqui)

Se você também gosta de bicicleta, asssita à coletânea de vídeos From Portland with bike love. São filmes variados e divertidos que você pode baixar gratuitamente (e legalemente) através do BitTorrent. Veja aqui a página oficial, com instruções para o BitTorrent e link para os vídeos (em inglês).

Pode passar, a calçada é sua

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Sábado, dia em que os salões de beleza ficam cheios em São Paulo. A foto acima foi tirada em frente a um destes, no Alto de Pinheiros. O pisca-alerta, que deve ser usado apenas em caso de emergência, garante a imunidade da pick-up estacionada em local proibido. Os outros dois carros afirmam que calçada não é lugar de pedestre.