Domingo no parque

Amanhã acontece de novo a ciclofaixa de lazer ligando três parques da capital. Ainda não conheci o projeto ao vivo e também não será neste fim de semana, mas o video de Tomaz Cavalieri e todas as impressões e notícias que vi durante a semana mostram que a experiência é bem legal.

Não haveria como ser de outra forma. Exceto por uma minoria barulhenta (e ainda dominante), a população de São Paulo está absolutamente disposta e ansiosa para construir outros paradigmas de convivência, mobilidade e ocupação do espaço público.

O “sucesso” da iniciativa demonstra a urgência da criação de espaços públicos destinados às pessoas, da valorização da locomoção para além do automóvel. O estado de segregação, agressividade e solidão provocados pela prioridade absoluta ao automóvel chegou a níveis insuportáveis e a população está disposta a revertê-lo.

A ciclofaixa de lazer é (mais um) símbolo deste horizonte reprimido, mais uma “falha na matrix” motorizada que começa a se tornar real no século pós-automóvel.

Dito isto, não nos furtamos de lembrar alguns pontos:

– De acordo com os Planos Regionais Estratégicos aprovados em 2004, a cidade de São Paulo deveria ter 367 km de ciclovias construídas até 2012. De acordo com a Lei, a cidade também deveria ter feito um Plano de Circulação e Transportes, jamais apresentado.

– Se a cidade tivesse cumprido a Lei (ainda em vigor), 275km de faixas permanentes destinadas à bicicleta deveriam ter sido entregues ainda em 2006. Com isto, teria sido possível avaliar, corrigir, melhorar e integrar a estrutura prevista em 2004.

– A turbulenta revisão do Plano Diretor que está em curso deverá oficializar o “não fizemos” e legitimar a atual promessa de 100km de vias destinadas à bicicletas para 2012.

– Os mesmos 100km já haviam sido prometidos para 2006 e depois para 2009.

– Qualquer um dos números acima continuaria a ser insignificante em uma cidade com 18 mil km de vias pavimentadas, tornando fundamental o estabelecimento definitivo de garantias de segurança e tranquilidade para que os ciclistas possam compartilhar a rua com os demais veículos (como prevê o Código de Trânsito Brasileiro). Em última instância, todo bordo de rua que não possua estrutura cicloviária é uma ciclofaixa, ou seja, uma faixa preferencial para bicicletas.

– A ciclofaixa de lazer marca a passagem das iniciativas cicloviárias na cidade para a Secretaria dos Esportes. Se durante os primeiros anos da gestão Serra-Kassab os rostos midiáticos que falavam sobre bicicleta eram ligados à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, depois do início das obras de construção de 6 novas pistas na Marginal Tietê, é o secretário Walter Feldman o novo “homem das bicicletas” na prefeitura e nos jornais. A Secretaria dos Transportes, que na metade deste ano assumiu a coordenação do grupo pró-ciclista (antes a cargo da SVMA), continua sendo ator coadjuvante.

Bom domingo e bom lazer a tod@s.

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