Ventos do sul

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Porto Alegre é a primeira (e única) cidade brasileira onde é possível desembarcar no aeroporto ou na rodoviária e seguir até o centro da cidade utilizando a integração metrô-bicicleta. E mais: é a primeira (e única) cidade do país a permitir o transporte de bicicletas nos vagões também nos dias úteis.

O programa Ciclista Trensurb deixou para trás as iniciatvias paulista e carioca, que só prevêm o transporte de bicicletas aos finais de semana.

Em Porto Alegre, além de servir para o lazer, a integração bicicleta-metrô também irá auxiliar os deslocamentos cotidianos de todos os cidadãos, todos os dias da semana.

Aos domingos e feriados, o transporte de bicicletas poderá ser feito das 5h às 21h. Nos dias úteis, para evitar a lotação dos trens, existem horários alternativos: das 9h30 às 11h, das 14h às 16h e das 21h às 23h20.

O transporte de bicicletas dentro dos vagões nos dias de semana só será possível porque a Trensurb fará modificações em seus trens. Ao contrário de São Paulo, onde uma bicicleta ocupa o espaço de (no mínimo) seis passageiros, a instalação de suportes para pendurar as bicicletas irá poupar espaço nos vagões portoalegrenses.

notícia e links no site da Bicicletada PoA
notícia no site da Trensurb

Clap, clap, clap

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A notícia chegou há pouco: o apocalipse motorizado foi eleito “a melhor ação social” no 5o Prêmio Spoiler de Cinema e Blog, promovido pelos colegas do Spoiler. Participaram 2640 internautas, que votaram em 17 categorias.

Destaque para uma frase que consta na apresentação do prêmio: “Poucos blogs dão furos de reportagem, e essa não é a intenção de grande parte deles, mas atualmente muitos pautam a mídia tradicional”.

E vale repetir um trecho do que foi escrito logo após o resultado do prêmio The Bobs, recebido em 2006: “mais do que a alegria de chegar em primeiro lugar fica a certeza de que questionar a predominância cultural, social e urbana dos automóveis não é coisa de maluco, “ecochato”, hippie ou de quem deseja voltar ao tempo da pedra lascada”.

Um abraço e toda sorte aos colegas do Spoiler! Que a rede de comunicação alternativa continue a mostrar que credibilidade e relevância não passam necessariamente por tiragens gigantescas, milhares de acessos por minuto ou alguns pontos no Ibope.

Spoilers 2008 – resultados

Tudo igual…

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foto: lilx

Nosso ar continua cinza.

 

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Nossas faixas continuam a não ser dos pedestres.

 

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E nossas ruas continuam a ser entupidas
por carros com apenas uma pessoa dentro.

Os carros têm que perder espaço

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Automóveis são propriedades privadas. Compra (e usa) um carro quem quer (gastar dinheiro).

Automóveis são propriedades privadas que ocupam espaço e desperdiçam recursos públicos. O automóvel é o único tipo de propriedade privada de uso exclusivamente público: ninguém compra um carro para deixar na garagem.

O espaço das cidades pertence a todos os cidadãos e o direito de acesso e uso deveria ser universal.

Apenas 30% da população paulistana possui automóveis. No entanto, o espaço público destinado a esta minoria é desproporcionalmente grande.

Estacionar uma propriedade privada no espaço público não é um direito, como pensam os motoristas, mas sim uma aberração das cidades voltadas para os automóveis, as mesmas que vivem poluídas e congestionadas e que matam milhares de cidadãos a cada ano em crimes chamados de “acidentes”.

Democratizar o acesso à cidade significa retirar espaço do automóvel e devolvê-lo às pessoas.

Substituir vagas de automóveis por calçadas mais largas para os pedestres, construir praças para a convivência entre as pessoas, terminais e corredores de ônibus para melhorar o transporte público ou até mesmo estacionamentos para bicicletas no espaço morto das bolhas motorizadas significa promover inclusão social, melhorando a qualidade de vida de todos os cidadãos.

A foto acima foi tirada na cidade de Santos, pertinho de São Paulo. No espaço ocupado por um automóvel (que geralmente leva apenas uma pessoa), espaço para seis bicicletas estacionadas.

Paraciclos e bicicletários não deveriam ser instalados nas estreitas calçadas de São Paulo, roubando o exíguo espaço dos pedestres, mas sim nas vagas de automóveis… Sonhar é que nem andar a pé ou de bicicleta: não custa nada…

vídeo: Trocando vagas de automóveis por bicicletários em Nova Iorque
fotos: paracilos no lugar de carros em Nice

Fala que eu te escuto

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foto: gira

Boa notícia: a partir desta semana a Prefeitura de São Paulo está disponibilizando um endereço para o recebimento de sugestões, críticas, comentários e idéias para melhorar a circulação de bicicletas na cidade. Anote aí: bicicleta@prefeitura.sp.gov.br.

Praça do Ciclista em obras

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Desde o começo de janeiro, metade da Praça do Ciclista está interditada.

O espaço utilizado para a concentração lúdico-educativa da Bicicletada de São Paulo agora hospeda banheiros químicos e um conteiner-escritório-depósito que está sendo utilizado pelos funcionários que trabalham na reforma das calaçadas da avenida Paulista.

Curiosamente, a troca de piso da rua mais famosa de São Paulo, que havia começado no outro extremo da avenida (na Praça Oswaldo Cruz), só foi até a esquina da Brigadeiro Luis Antônio.

No mês do aniversário de São Paulo, a prefeitura decidiu inverter o sentido da obra, “pulando” o meio da avenida. Agora as britadeiras quebram as pedras portuguesas no sentido Consolação-Paraíso.

Curiosamente, o aniversário de São Paulo (dia 25) cairá na última sexta-feira do mês de janeiro, tradicional data de encontro dos participantes da massa crítica paulistana, que prometem fazer uma Bicicletada especial por uma cidade com menos carros, mais bicicletas, melhores calçadas e um transporte público de qualidade.

Será que a Prefeitura pretende reformar a Praça do Ciclista para inaugurá-la oficialmente em fevereiro, mês do seu batismo popular em 2006? Esperamos que sim… E que a casa fique mais bonita…

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Perguntinha besta: por que apagar a arte feita por Mona Caron na Bicicletada de novembro se a praça entraria em reforma logo em seguida? Plim-plim…

Três desejos para o ano novo

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ativistas em Bali / Agence France Presse

Que a Terra se torne mais importante que o lucro.

Não é mais possível submeter o planeta e seus habitantes à lógica da exploração indiscriminada e do consumo descartável.

Em 2007, corporações multinacionais, agências de publicidade, empresas de mídia e outras instituições que lucram (e muito) com o capitalismo predatório mexeram seus tubos de ensaio e testaram algumas artimanhas do “marketing verde” (sic) para que tudo mude sem nada mudar.

“Neutralização de carbono”, plantio de eucaliptos via cartão de crédito, carros movidos a hidrogênio, sacolinhas plásticas e embalagens abusivas com símbolos de reciclagem e outras indulgências messiânicas serviram mais para acalmar as vítimas do terrorismo midiático do que para provocar reflexões e mudanças reais.

A sustentabilidade e o equilíbrio entre os diversos habitantes desta esfera azul só será conquistada quando discursos e imagens forem menos importantes que ações concretas.

O “marketing verde” (sic) segue o caminho oposto: propõe a salvação imediata e o alívio das consciências através da mesma lógica do “tudo se compra” que tantos danos já causou à humanidade e ao planeta.

A transformação da Terra em um ambiente equilibrado não será feita por patrocinadores ou heróis instantâneos, mas sim por um número cada vez maior de seres humanos dispostos a traçar o árduo caminho da educação e do fim de todas as deisgualdades.

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foto: Eduardo Green / revista Carbusters

Que o transporte público coletivo se transforme em um direito universal e seja utilizado por todos os cidadãos.

Enquanto os ônibus, metrôs, trens e lotações forem vistos como meio de transporte de quem não pode comprar um carro, a imobilidade urbana só tende a se acentuar.

A mudança radical de prioridades por parte dos governos é absolutamente imprescindível.

O transporte público coletivo no Brasil não pode mais ser tratado como um negócio controlado por submáfias do automóvel que só visam o lucro, mas deve ser um direito garantido pelo poder público.

Mudar prioridades significa retirar espaço e recursos públicos destinados ao transporte privado e investir no que é de todos.

Significa também realizar medidas simples de valorização e respeito aos usuários, proporcionar informações decentes sobre itinerários, ampliar o horário de funcionamento, proporcionar melhores condições de trabalho e salários aos funcionários, reduzir a tarifa e criar uma integração de verdade entre os diversos modais.

Por outro lado, a mudança de postura dos governos só será possível quando a sociedade se apropriar do transporte público, quando pessoas de todas as classes sociais e idades começaram a usar ônibus, metrôs e trens, exigindo que as melhorias sejam feitas.

Parece incrível, mas já existe uma casta de jovens adultos por volta dos 20 e poucos anos de idade que nunca andou de ônibus na vida. Como existe também uma imensa casta de políticos, técnicos e adminsitradores públicos que jamais utiliza o transporte coletivo (neste caso, o índice beira os 100%).

Se cada político, “especialista em transporte”, funcionário público ou planejador urbano deixasse de usar o carro pelo menos uma vez por semana, a realidade das ruas seria completamente diferente.

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Que policiais e agentes de trânsito andem mais de bicicleta e a pé pelas cidades, tornando o estacionamento de carros oficiais nas calçadas uma exceção, e não a regra.

Qual o sentido de termos apenas viaturas e motos da polícia patrulhando avenidas congestionadas, gastando combustível e estressando os policiais?

Por que não reduzir o número de policiais e agentes de trânsito em viaturas ou motos e aumentar o efetivo que anda a pé ou de bicicleta, valorizando o transporte sustentável e promovendo a paz no trânsito onde ela deve ser promovida em primeiro lugar: nas ruas.

Feliz 2008 para os que ainda sonham e constroem a cada passo um outro mundo possível.

Um desejo para o ano novo

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Do Fabio Yabu no Mude o Mundo, enviada pelo Willian Cruz.

E o apocalipse motorizado faz uma pequena correção de licença utópica: “Ao deixar o carro em casa sempre que possível (…)”

outros cartões de fim de ano no Mude o Mundo

Bicicletas em Destak

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foto: pedalante

Durante a segunda Sexta de Bike de dezembro, uma repórter do jornal Destak esteve na Praça do Ciclista para conversar com os participantes da Bicicletada.

A matéria saiu hoje e pode ser vista aqui.

E no UOL, a Bicicletada também apareceu na matéria “Mesmo sem espaço em SP, bicicleta é mais rápida que o carro”.

Progresso?

A primeira lei sobre veículos automotores na cidade de São Paulo. Encontrada pelo Zenga no site do Detran. Bastante últil como inspiração depois da carnificina de ano novo e da catástrofe climática mundial.

“Acto n.146, de 26 de fevereiro de 1903:

& 5º- Que, finalmente, todos os apparelhos se achem dispostos de maneira que o seu emprego não offereça nenhuma causa especial de perigo, não possa espantar animaes nem dar logar á formação de gazes e vapores incommodos.

Art. 6º- A ninguem é permittido conduzir automovel sem que se ache munido de uma carta de habilitação, concedida pela Prefeitura, depois do exame, no qual o peticionario mostre conhecer todos os orgams do apparelho e a fôrma de o manobrar, assim como possúa os requisitos necessarios de prudencia, sangue frio e visualidade.

Art. 8º- O conductor do automovel deverá estar em condições de dispôr sempre da velocidade do vehiculo de fórma a moderal-a ou mesmo anullal-a, quando ella possa constituir uma causa de accidente, transtorno ou obstáculo á circulação. Nos logares estreitos, ou onde haja accumulação de pessoas a velocidade será a de um homem a passo. Em caso algum, poderá a velocidade ir além de 30 Kilometros por hora em campo raso, de 20 Kilometros nos pontos habitados e de 12 Kilometros nas ruas centraes da cidade, velocidades que deverão ser reduzidas sempre que isso se torne necessario, segundo o numero de pessoas nos vehiculos em transito.”