O deus consumo

“She who measures”, linda animação de Veljko Popović, descoberta aqui

Ciclo-pelad@s em Brasília

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foto: Valter Campanato

Relato enviado por Francisco Delano:

“Apesar de poucos e em meio a um tráfego que parecia leve no sábado entre as largas avenidas do plano piloto, alguns e algumas ciclistas se reuniram sob o céu do cerrado pra pintar corpos, camisas e 1 cartaz aderindo ao World Naked Bike Ride na tarde do sábado, 14. Por volta das 2 da tarde a imprensa que se inteirou do evento ainda representava pelo menos um terço das pessoas que haviam comparecido ao chamado. Os registros do fotógrafo Valter Campanato dividiram a página da Agência Brasil com o encontro dos presidentes Lula e Obama e a Record local fez algumas imagens (alguém tem o contato deles?).

Na saída, um quadro arrebentado e um pneu que furou nos desfalcaram – além da falta de uma bicicleta pra uma motorista de apoio que prometeu logo, logo engrossar as massas críticas. Dados os descontos, saíram cerca de 14 pessoas, 13 bicicletas, entre as quais estavam membros mais e menos assíudos da Bicicletada e do Hospitality Club/CouchSurfing de Brasília, estudantes e funcionários da UnB, além de ao menos um casal de pernambucanos pedalantes e mais outras pessoas que foram alcançadas pelo convite feito na véspera. Como podem ver nas fotos, tivemos também a presença da Helena, do alto dos seus 1 ano e meio, a mais jovem ciclo-ativista da capital federal, a quem, honestamente, o ciclonaturismo dificilmente poderia chocar, se tivesse se consumado…

Enquanto em São Paulo a polícia parece ter seguido ordens claras pra tentar estragar a festa, em Brasília o quórum não tão expressivo – gente que apareceu pelos mais distintos motivos (dando a dica do potencial agregador da peladada), com talvez nenhum(a) naturista experiente (se é possível dizer isso, né…) – inibiu uma adesão maior ao naturismo sobre rodas. Ainda assim, não faltou quem tentasse se disfarçar pra perder a vergonha e tirar a roupa (!) e também quem tirou todas as peças…

Mas com certeza valeu pra marcar a primeira tentativa do Cerrado em unir-se a essa festa mundial a favor da gratuidade dos bons momentos da vida.

Vale anotar a frase pintada num dos corpos (vivos) presentes: “Somos poucos. Seremos Muitos. Um Carro A Menos”. (ou qualquer outra ordem, depende da parte do corpo que você veja primeiro). Fica registrada, portanto, a memória da data na capital federal, aberta pra quem se animar a fazer maior e menos tímida no ano que vem .

Eventuais relatos e mais fotos e notícias devem ser compilados no site colaborativo www.nakedwiki.org , ao alcance, assim como a promoção do evento, de quem quiser.”

matéria na Folha de SP

II Pedalada Pelada em SP: a ousadia possível

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fotos: felippe cesar / ciclourbano (exceto onde citado o autor)

No último sábado (14), diversas cidades do hemisfério sul do planeta participaram de mais u World Naked Bike Ride. Em São Paulo, a segunda Pedalada Pelada juntou algumas centenas de pessoas, que desfilaram pelas ruas de São Paulo “tão nuas quanto lhes foi permitido”.

Na avenida Paulista, a presença ostensiva da polícia constrangeu boa parte das pessoas a não tirar a roupa. Em uma dispersão auto-organizada, a massa seguiu fragmentada e por caminhos variados até o Monumento às Bandeiras. Só então pedalou de maneira fluida e agradável pelas ruas da cidade.

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foto: carlos alkmin

As primeiras notícias que chegavam da Praça do Ciclista na manhã daquele sábado eram desanimadoras. Antes do meio dia, a polícia já perfilava dezenas de veículos e homens nas calçadas de um lado da praça. Alguns oficiais circulavam avisando os presentes que toda nudez seria castigada.

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foto: panoptico

Do outro lado da rua, eram os veículos da mídia que ocupavam lugar proibido na via pública (em frente a um estacionamento, diga-se de passagem).

Na praça, o constrangedor circo midiático do ano passado começava a se formar com a profusão de humor sensacionalista, perguntas óbvias e ávidas lentes dispostas a sexualizar uma página de jornal ou mais alguns segundos da programação televisiva.

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foto: mario amaya

Nos primeiros quarteirões, a massa andou lenta e confusa. Ficou confinada em duas pistas por motos, bicicletas e carros da polícia (incluindo uma base comunitária móvel) e cheia de reporteres, fotógrafos, cinegrafistas e urubus a pé.

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O clima não era alegre e fluido como nas outras tantas pedaladas em grupo que acontecem na cidade. Além do anda e para causado pelo afunilamento da massa, a presença numerosa de policiais armados e dispostos a avançar sobre qualquer pelad@ não deixava o clima agradável.

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De repente, um plano B começava a surgir em boatos que pareciam fazer muito sentido: no lugar da esperada volta na Paulista, a massa iria dispersar e se reencontrar em outro lugar para uma segunda concentração, sem cameras nem cassetetes.

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Livres, as bicicletas escorregaram em pequenos grupos até o Monumento às Bandeiras, em frente ao Ibirapuera.  Depois do novo encontro, corpos pintados, outros vestidos e alguns pelados partiram para a segunda e mais interessante parte da tarde, que durou algumas horas e pouco mais de 15km.

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foto: vá de bike

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foto: flecha / cmi

A metáfora da nudez do ciclista urbano, frágil e invisível quando vestido e foco das atenções quando pelado, não pode ser encenada na avenida mais importante da cidade. Uma boa reflexão sobre os valores e espaços em disputa por causa da Pedalada Pelada pode ser encontrada em dois artigos: este do site Nus pela Terra e esta matéria no Blog das Ruas, além de outros relatos e textos publicados fora da mídia corporativa.

A fuga da Paulista certamente levanta discussões sobre outros tabus e disputas importantes, mas a escolha do incosciente coletivo pela escapada talvez tenha garantido a visibilidade para os temas evocados, além de permitir que outros espaços da cidade fossem transformados pela passagem da colorida massa em uma bela tarde de sábado.

Com isso, mesmo sem a nudez em massa, as “reivindicações” dos participantes ganharam uma ou duas boas matérias na chamada “grande mídia”, além de uma dezena de imagens e notas de “infotenimento”. Milhares de pessoas nas ruas tomaram contato direto com aquela informação inusitada, demonstrando em 99% dos casos receptividade e apoio.

Além disso, a quantidade e a qualidade dos relatos, fotos, vídeos e comentários nos blogs, na mídia alternativa e nas comunidades virtuais segue crescendo, refletindo o desejo cada vez maior por outros horizontes, outras notícias e outras formas de vida para as comunidades reais.

É sábido que a ousadia não faz parte do pensamento dominante e que as reações às mudanças geralmente são rápidas e ferozes nestas terras. A presença de centenas pessoas pedalando livres e alegres naquela tarde de sábado acelera  e potencializa transformações inevitáveis, alterando perspectivas, estimulando consciências e dando forças e voz para a construção de outros paradigmas.

Se a Pedalada Pelada não quebrou tabus, rompeu cercas, encarou exércitos ou provocou combustão instantânea no hype da notícia, certamente contribuiu com mais um passo para a visibilidade de assuntos como mobilidade urbana, mídia, transporte, distribuição e uso do solo, consumismo, guerra, sustentabilidade, trânsito, violência, meio ambiente, nudez, propaganda, liberdade de expressão e outros tantos.

E que venha a terceira edição!

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foto: mario amaya

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foto: macacoveio

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fotos: felippe cesar / ciclourbano (exceto onde citado o autor)


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foto: flecha / cmi

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foto: flecha / cmi

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foto: flecha / cmi


II Pedalada Pelada de SP – Relatos, fotos e vídeos

Paralisação de motoristas causa recorde de congestionamento. Não houve confronto com a polícia.

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arte: carol

A cidade de São Paulo registrou ontem o recorde de lentidão do ano no período da noite: 201 km por volta das 18h55, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Com a ajuda da chuva, os motoristas disseram ter alcançado os objetivo do protesto e demonstrado sua força à sociedade.

A paralisação, que envolveu diversos setores da sociedade, contou com carreatas de motoristas com destino a diferentes pontos da capital. No dia de amanhã, mais e mais motoristas prometem aderir a paralisação.

Os manifestantes buzinam porém, negam o tí­tulo de baderneiros: “Estamos criando empregos e fomentando a economia. Além disso, somos apoiados por grandes empresas e temos incentivos ficais” – disse um manifestante à nossa reportagem.

A manifestação, que ocorre todos os dias, é a única atitude que os motoristas dizem poder tomar diante da crise do petróleo e da sociedade do automóvel.

Questionados sobre os problemas ambientais da manifestação, os motoristas disseram não se preocupar com a quantidade de combustível queimado, nem com a natureza ou com a saúde: “Estamos apenas devolvendo, de forma natural, gases que pertenciam à natureza sob outra forma”.

“Temos nosso direito privado!”

A esta grande carreata somam-se fileiras e fileiras de carros e outros veí­culos motorizados protestando pelo direito privado de se locomover. A proposta deste ato particular é tornar diariamente inviável a locomoção de todas as pessoas – motorizadas ou não.

“Nós queremos mostrar à população que a mobilidade urbana deve ser um direito de poucos” – disse um manifestante. Outro motorista, que a princí­pio se recusou a abaixar o vidro, exclamou: ‘Se eu não posso, ninguém pode!’.

Para ampliar a “mobilização”, o movimento organizado faz diariamente intervenções midiáticas em diferentes jornais, revistas e canais de televisão, além de possuírem seus próprios dedicados meios de comunicação. Além disso, o governo e a prefeitura estão abertos as reivindicações e firmaram um acordo que garantirá aos manifestantes a estrutura para que as manifestações sejam cada vez maiores, garantindo as condições democráticas do direito a livre manifestação pela imobilidade urbana.

Uma importante liderança do movimento disse que a manifestação cotidiana é o único meio efetivo de afetar toda a população: “É somente através da imobilidade que alcançaremos novas soluções”.

A investigação de nossa reportagem teve acesso a diversos de seus panfletos, onde pode verificar que tais soluções variam entre a venda de carros maiores e mais confortáveis ou menores e mais ágeis. Um perito em mobilidade urbana escreve que “para os manifestantes mais conscientes(sic), a solução mais correta seria a compra de carros blindados ou a utilização de helicópteros.”

da reportagem local. Quarta-feira, 18 de Março de 2009

(ironia fina publicada originalmente aqui)

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Um vídeo obsceno

Declaração dos participantes da I Pedalada Pelada de São Paulo (2008)
Valeu a pena ser preso pelado? Valeu sim!
endereço alternativo para download do vídeo

Nus, é como nos sentimos pedalando nesta cidade

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Sob o lema estampado no título desta postagem, ciclistas, nudistas e simpatizantes paulistanos saem às ruas no próximo sábado (14) para mais uma edição da Pedalada Pelada, o World Naked Bike Ride brasileiro.

O encontro está marcado para as 12h, na Praça do Ciclista. A “peladada” começa às 14h.

Assim como na primeira edição, a idéia é pedalar “tão nu quanto você ousar”. Ou seja, a nudez não é obrigatória.

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O World Naked Bike Ride (WNBR) é uma “coincidência organizada” de ciclistas, que tem os primeiros registros na cidade de Zaragoza (Espanha), em 2001.

Desde então, se espalhou pelo mundo, juntando diferentes grupos e iniciativas ao redor do planeta.

Nas origens, a Pedalada Pelada espanhola questionava a dependência humana dos combustíveis fósseis. Em pouco tempo, outras motivações, causas e cidades se juntaram aos passeios de ciclonudistas que acontecem em datas diferentes nos hemisférios Norte e Sul.

Como todo movimento decentralizado que acontece em escala planetária, o World Naked Bike Ride estimula a reflexão sobre questões locais e globais.

Reivindicar melhores condições para o uso das bicicletas nas cidades, promover a visibilidade dos ciclistas, denunciar as guerras por petróleo, celebrar o corpo humano e a bicicleta, estimular reflexões sobre a cultura do automóvel ou alertar sobre os perigos do aquecimento global estão entre as razões que levam milhares de pessoas às ruas de suas cidades uma vez por ano.

O nakedwiki é um site internacional e colaborativo que traz uma série de textos, links e fotos sobre as Pedaladas Peladas em todo o mundo. Confira a página de São Paulo do nakedwiki e não deixe de ler seção de Perguntas Frequentes para mais informações.

No próximo sábado, não tenha vergonha de viver em uma cidade dominada pelos motores e vá até a Praça do Ciclista celebrar as duas máquinas mais perfeitas que já existiram.

nakedwiki – São Paulo
Nus diante do tráfego
Reflexões sobre a Pedalada Pelada (2008)
Relatos, fotos e vídeos – Pedalada Pelada 2008

Resgatando o espaço perdido

A ação não é tão recente, mas segue inspiradora. Em Fevereiro de 2008, o coletivo “Carré Vert” questionou o espaço ocupado pelos automóveis nas cidades, transformando por alguns minutos a avenida Périphérique de Paris em um tapete verde, com faixas para bicicletas, pedestres, ônibus e também para carros.

Em todo o mundo (e não apenas em São Paulo), a taxa de ocupação dos automóveis é absolutamente inferior à sua capacidade. Pesando quase duas toneladas e consumindo uma boa parcela do espaço público das cidades, os carros (aqui ou em Copenhagem) levam geralmente uma ou duas pessoas, ou seja, na melhor das hipóteses, 140kg de seres humanos.

A ação parisiense sinaliza que a grande barreira para a construção de estruturas para ciclistas, pedestres e ônibus é a carropatia, doença social, urbana e econômica que afeta populações nos cinco continentes, beneficiando apenas duas dezenas de corporações transnacionais e servindo para perpetuar um modo de vida predatório e insustentável.

Carré Vert – site em francês
notícia em inglês no streetsblog
O que é o que é?
Em NY, a Broadway de volta para os pedestres
Em São Francisco, a batalha pela Market Street
E São Paulo segue na contramão
São Paulo na contramão II

Nus diante do tráfego

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World Naked Bike Ride 2008 em Portland (EUA)

No próximo sábado, 14 de março, milhares de pessoas em dezenas de cidades do hemisfério Sul (e algumas do hemisfério norte) sairão às ruas em mais uma jornada do World Naked Bike Ride, a Pedalada Pelada mundial.

Para despertar consciências, promover a visibilidade dos ciclistas, questionar os padrões ultrapassados de mobilidade ou simplesmente para aproveitar o prazer entre as pernas (a bicicleta) e celebrar o espaço público, a pedalada pelada também acontecerá em São Paulo.

Na página paulistana do wiki planetário, links para relatos, fotos e vídeos da pedalada pelada de 2008 na capital. Abaixo, algumas nótícias e vários vídeos das “peladadas” em várias cidades do mundo.

nakedwiki – São Paulo

Trailer do documentário sobre o WNBR

Barcelona – [vídeo]
Bruxelas – [vídeo]
Chicago – [vídeo 1], [vídeo 2]
Copenhagen / Christiania – [vídeo]
Coruña – [vídeo]
Curitiba – [relato e foto]
Lima – [vídeo]
Londres – [vídeo]
Madrid – [vídeo]
Portland – [vídeo] – [reportagem][reportagem][relato – apocalipse motorizado][fotos – ciclonomade]
Paris – [vídeo1][vídeo 2][vídeo 3]
São Paulo – [vídeo]
Tessalônica – [vídeo]
Washington – [vídeo]
Zaragoza – [vídeo]

Falha de São Paulo

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arte: Latuff [aqui] e [aqui]

No último dia 17 de Fevereiro, começava mais um capítulo decadente na história da mídia brasileira. Em editorial, a folha de São Paulo relativizava os crimes contra a humanidade cometidos pelo Estado entre 1964 e 1985, chamando de “ditabranda” o regime militar que matou, torturou e restringiu liberdades de todos os tipos no Brasil.

Depois de dar sua opinião, digna dos tempos bushianos, o jornal seguiu na ofensiva, partindo para a baixaria e para os ataques pessoais contra dois acadêmicos que contestaram o editorial em carta.

Maria Victoria Benevides, uma das acadêmicas que se levantou contra a relativização do terrorismo de Estado, explica melhor a história em artigo publicado na revista Carta Capital.

No próximo sábado (07), a partir das 10h, acontece uma manifestação em frente à sede do jornal, na R. Barão de Limeira, 425.

*

O debate e as ações a respeito do revisionismo histórico da folha de São Paulo levantam uma parte (importante) da questão, mas não a única.

Em episódio simultâneo nos EUA, o magnata da mídia e “publisher” do New York Post Rupert Murdoch pediu recentemente desculpas públicas (na mais bela novilíngua) por uma charge que apresentava um chimpanze morto pela polícia, com a legenda “eles terão que encontrar outro para redigir o próximo plano de estímulo ” (referência ao “Stimulus Bill”, o plano econômico de Obama).

Murdoch disse que “não era para a charge ser racista, mas que, como os leitores interpretaram desta forma”, ele estava pedindo desculpas. Otavio Frias ou mesmo um editorial anônimo poderiam até fazer o mesmo, mas o buraco é muito mais embaixo.

Alguns já ironizam que o fusão da folha com a Veja é iminente, mas a decadência dos dois veículos não é semelhante apenas pela posição política comparável à da Fox News em tempos de eleições ou guerras.

Enquanto a revista semanal caiu em descrédito para uma boa parcela dos “formadores de opinião” depois de um sem-número de “reportagens” que deixariam no chinelo o informativo da Ku Klux Klan, o jornal da Barão de Limeira ainda mantém os mitos de “imparcialidade” e  de estar “a serviço do Brasil”.

Os mitos da pluralidade e do jornalismo progressita asssociados à folha de São Paulo estão fundados em seu projeto editorial, que intitula o jornal como “porta-voz” do leitor. Está em sua “carta programa” agir como “advogado de defesa” de uma então apelidada “opinião pública”.

A folha seria “o espaço público” onde se expressariam as mais plurais visões da sociedade brasileira, e o resultado do jornal seria a “soma” destas opiniões, que a folha “faria de tudo para defender”.

Não é uma visão muito distante do que, em teoria, seria a mídia em uma democracia. Mas talvez uma das causas da decadência invisível deste mito e dos episódios extremos (como o editorial) guarde alguma semelhança metafórica com outro processo do grande irmão do norte, o chamado “revolving door”.

O “revolving door” é a porta giratória dos centros de poder dos EUA, em especial o Congresso e as Secretarias (ministérios). Virou marca da adminstração federal estadunidense, impulsionada desde os anos Clinton e tornada regra durante a branda era Bush.

Por esta porta, entram e saem representantes de interesses privados, que ocupam hora um cargo público, hora a diretoria de alguma corporação. O exemplo mais claro e simbólico é  Dick Cheney: até o ano em que assumiu a cadeira de vice-Presidente de Bush, Cheney foi CEO da Halliburton (uma das empreiteiras da Guerra, entre as empresas que mais lucrou com os contratos públicos para a “reconstrução” do país bombardeado).

A porta giratória da folha não é necessariamente a dos ministros, banqueiros ou sindicalistas que escrevem suas colunas de opinião e depois (ou antes) passam para o serviço público (cuidando quase sempre de área$ afin$ nos dois setores).

Trata-se mais da auto-referenência sobre a qual gira o próprio conceito de “opinião pública” do jornal.

A folha não é plural nem fala “em nome do Brasil”. Fala de e para uma pequena parcela da população, residente especialmente em algumas regiões e áreas de cidades do Sudeste, com características específicas de cor, renda, meio de transporte e, principalmente, com uma posição bem definida na escala social de um dos países mais desiguais do mundo.

Isso não impediria o jornal de praticar a defesa da pluralidade, nem de manter alguma fidedignidade com as bonitas palavras de seu manual de redação.

Mas talvez se desvie da teoria exatamente no que alguns classificam como razões para ler a folha: seu excesso de colunistas considerados bons e seu péssimo jornalismo, que é extremamente mais “canalha” do que o dos rivais “conservadores”.

As opiniões e debates do “espaço público” da folha talvez guardem um mínimo de pluralidade, inteligência e uma visão interessante, a página de quadrinhos é sem dúvida um espaço subversivo e inspirador e o guia de atividades culturais (paulistanas) é muito melhor do que a concorrência, mas não é isso que faz algo próximo de um “bom jornal”.

Amplitude de pontos de vista, trabalho competente e independência dos jornalistas em relação aos setores comerciais e políticos das redações fazem bem para qualquer veículo.

Na democracia teórica, cabe a mídia ser um espelho da sociedade, refletindo os debates, fatos e questões do interesse público (ou seja, da maioria da população).

A porta giratória e a “ditabranda” da folha talvez escancarem a semelhança da mídia brasileira com uma casa de espelhos de parque de diversões, e pode servir também como mais um alerta para a urgência da chamada “democratização das comunicações”, ou seja, da necessidade de se tirar das mãos de meia dúzia de famílias ou grupos o controle da agenda nacional.

Petição em defesa dos professores e em repúdio à Folha

Ditabranda: o suicídio moral da Folha de São Paulo
Manual de redação da Folha, edição 2009
CMI Brasil
Porque não devemos falar em “ditabranda”
Show jornalismo canalha
Diario gauche
“Ditabranda” para quem?
Folha de S. Paulo, cínica e mentirosa
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