PDE: Pequena vitória

Na última segunda-feira (29), o Juiz Valentino Aparecido de Andrade, da 10a Vara da Fazenda Pública de São Paulo, concedeu uma liminar que suspende o processo de “revisão” do Plano Diretor Estratégico, cancelando as audiências públicas realizadas até agora.

As audiências planejadas para esta semana (incluindo a de ontem, no Sesc Consolação), foram suspensas.

A liminar foi concedida no julgamento da medida cautelar impetrada pelo Instituto Pólis e pelo Movimento Defenda SP, em nome da Frente em Defesa do Plano Diretor. As organizações alegam que o projeto de “revisão” do Plano Diretor apresentado pelo Executivo paulistano revoga uma série de garantias, direitos e procedimentos previstos na lei 13.885/04 (que dispõe sobre os Planos Regionais).

A ação principal, que questiona o mérito do novo Plano do Executivo, continua correndo na Justiça.

Sobre a política de bicicletas em Curitiba

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por Goura Nataraj, publicado originalmente no Bicicletada Curitiba

Hoje, dia 18 de junho, a prefeitura anunciou um novo pacote de medidas para ‘melhorar o trânsito’. Mais uma vez ficou explícita a falta de importância que a bicicleta tem para as nossas autoridades. Não são capazes de entender os benefícios de uma cidade mais limpa, silenciosa, com um ar mais puro. Privilegiam descaradamente o meio de transporte mais irracional, injusto e perigoso. ´Carros são acidentes esperando para acontecer´.

As visões técnicas e realmente bem intencionadas do presidente do IPPUC são direcionadas ao fluxo dos carros. Este não pode parar de jeito nenhum. ´Teremos mais binários, trinários! Mais ruas barulhentas e degradadas!´ Cidades do mundo inteiro estão despertando para a bicicleta enquanto Curitiba permanece no seu sonâmbulismo crônico, em que o carro e a cultura dos ´centros de compra´ são exaltados como a salvação da civilização.

Enquanto os motoristas recebem vários estímulos positivos, tais como isenção de impostos, ruas lisas, espaços para correrem cada vez mais, os usuários de ônibus tem que pagar uma pequena fortuna pelo privilégio de serem esprimidos, talvez até cuspidos para fora da máquina em movimento. Ah, mas isto ouvindo música clássica, com dignidade!

Os pedestres também não são ´cuidados´ com a mesma dedicação, o mesmo amor com que os empreiteiros e construtores de viadutos mostram para com os carros. E os ciclistas, por sua vez, são empurrados para o meio fio!

Para realmente melhorar o trânsito precisamos entender que as ruas são limitadas. Que uma cidade cortada pelo trânsito veloz, onde deputados voam a 190km/h, em que ciclofaixas só aparecem na retórica das campanhas políticas, onde as ciclovias existentes ou são calçacas asfaltadas cheias de obstáculos, ou tem sua manutenção completamente ignorada, não deve ser considerada, de forma alguma, uma cidade sustentável.

Se você não conhece as ´maravilhosas ciclovias´ de Curitiba aproveite para ver o ensaio do artista Bruno Machado.
Se as vias dos carros fossem tratadas com tamanho descaso a prefeitura tomaria ações imediatamente. Os motoristas fariam buzinaços, saíriam em carretas. Não pagariam mais os seus impostos.

Os ciclistas podem ser silenciosos em seus conflitos diários com a falta de respeito e segurança que recebem dos motoristas, mas estão bem acordados para o que está acontecendo.

A primeira ciclofaixa oficial da cidade deveria se manifestar na Av. Cândido de Abreu e ocupar uma das 11 faixas destinadas ao trânsito dos veículos motorizados. Paraciclos deveriam aparecer pela cidade inteira. Toda malha cicloviárea existente passar por uma revitalização completa.

Era este tipo de medida que deveria ser anunciada como proposta de melhoria do trânsito, da qualidade de vida, da saúde social.

Já disseram os Situacionistas em 1959:

“Não se trata de combater o automóvel como um mal. Sua exagerada concentração nas cidades é que leva à negação de sua função. É claro que o urbanismo não deve ignorar o automóvel, mas menos ainda aceitá-lo como tema central. Deve trabalhar para o seu enfraquecimento. Em todo caso, pode-se prever sua proibição dentro de certos conjuntos novos assim como em algumas cidades antigas.”

Debate hoje: A vitória do automóvel sobre o rio e a cidade

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Debate sobre a “nova” Marginal – “a vitória do automóvel sobre o rio e a cidade”

Convidados: Saide Kahtouni (ABAP), Marcos Bicalho (ANTP), Jorge Wilheim (Arquiteto e Urbanista), Rafael Poço (Coletivo Ecologia Urbana), Vasco de Melo (IAB-SP)

Na Casa da Cidade (R. Rodésia, 398 – Vl. Madalena)

Hoje também acontece uma das audiências públicas regionais sobre a “revisão” do Plano Diretor, no Sesc Consolação.

Pedal de Luto(a)

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Domingo na várzea

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foto: luciano ogura

No próximo domingo (28), diversos grupos e cidadãos pretendem fazer um programa diferente: experimentar (talvez) os últimos dias do que resta de espaço permeável e não dedicado ao fluxo de veículos motorizados nas margens do Rio Tietê, antes que mais uma bilionária investida dos predadores da cidade se torne (uma triste) realidade.

Às 10h da manhã, o Pedal Verde sai da Praça do Ciclista em direção ao canteiro central da Marginal Tietê. A chegada à ponte das Bandeiras deve acontecer por volta das 12h.

Sem bicicleta, a maneira mais fácil é ir de metrô até a estação Tietê e atravessar a ponte Cruzeiro do Sul. O canteiro com as raízes das árvores grandes (ou sacos pretos) estará bem à sua frente. Em direção à ponte das Bandeiras, a área ainda guarda árvores menores.

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foto: luciano ogura

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21 de Junho

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21 de Junho

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23 de Junho

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25 de Junho

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25 de Junho

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25 de Junho

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“Revisão” do Plano Diretor: Audiências regionais

27/06/2009 – SESC ITAQUERA
Av. Fernando do Espírito Santo Alves de Matos, nº 1.000 – Ginásio de Esportes.
Horário: 10 horas

28/06/2009 – SESC INTERLAGOS
Av. Manoel Alves Soares, nº 1100 – Auditório.
Horário: 10 horas

29/06/2009 – SESC CONSOLAÇÃO
Rua Dr. Vila Nova, nº 245 – Teatro.
Horário: 19 horas

30/06/2009 – SESC PINHEIROS
Rua Paes Leme, nº 195 – Teatro.
Horário: 19 horas

01/07/2009 – SESC SANTANA
Rua Luis Dumont Villares, nº 579 – Teatro.
Horário: 19 horas

Retirado do site do Movimento Nossa São Paulo, que tem também um breve relato da audiência da última segunda-feira

Novo brasão para a cidade de São Paulo

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arte: cc Tiago Nepomuceno

A explicação do autor:

“Um novo brasão para uma velha cidade. No lugar do forte braço empunhando a bandeira da cruz de cristo, a figura simbólica do soberano que há décadas tem sob suas rodas uma cidade rendida, ofendida, poluída, esgarçada, suja, segregada, barulhenta, burra e, mais que tudo, congestionada. No lugar dos orgulhosos ramos de café, a pistola de combustível que alimenta os senhores das ruas e a impiedosa motosserra, sempre pronta para tirar a vida de qualquer coisa que atrapalhe o pleno domínio do tirano poluidor.

No lugar dos frutos do cafeeiro muitos cifrões, para que ninguém esqueça o que move as autoridades e os “especialistas” a serviço da carrocracia. Por fim, substituindo a coroa de torres há o que restou das antigas, belas e cada vez mais escassas árvores paulistanas, mutiladas e assassinadas à luz do dia ou na calada da noite, maltratadas pelos próprios órgãos públicos a despeito de serem um patrimônio coletivo de valor inestimável.

Igual ao antigo brasão, apenas o orgulhoso e ufanista lema de outrora, hoje ainda mais atual do que ontem: “Não sou conduzido, conduzo”, divisa perfeita para uma cidade que orienta suas políticas e ações em benefício dos interesses dos automóveis e em detrimento da sustentabilidade socioambiental da qual todos dependem. As árvores sobreviventes da Marginal Tietê começaram a desaparecer. Os lacaios da carrocracia estão sorrindo. A história não os absolverá” – Tiago Costa Nepomuceno

Construa o futuro

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25/06 (quinta) – Debate sobre a “revisão” do Plano Diretor Estratégico

– convidados: Ver. Gilberto Natalini, Ver. José Police Neto, Arq. Nadia Somekh (Mackenzie), Arq. Renato Cimbalista (Escola da Cidade/Pólis)

– às 18h30, no IAB-SP (Rua Bento Freitas, 306 – Centro – 3259-6866)

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26/06 (sexta)Bicicletada Junina

Praça do Ciclista, às 18h

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28/06 (domingo)Pedal Verde de Luto e dia na várzea do Tietê para ver de perto as primeiras consequências da bilionária insanidade rodoviarista.

Saída do Pedal Verde às 10h, na Praça do Ciclista (av. Paulista, entre Bela Cintra e Consolação)

Encontro para quem não vai de bicicleta: Ponte das Bandeiras (próx ao metrô Tietê), às 12h

Leve a sua faixa, planfleto ou cartaz. Não esqueça protetor solar e água. Traga o que mais vier à cabeça para passar uma tarde no canteiro que vai virar pista.

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28/06 (domingo): Festa Junina na Praça Elis Regina

A demência rodoviarista pretende passar um túnel sob o Parque da Previdência e uma avenida pela Praça Elis Regina. Mais explicações sobre a cagada no Butantã Pode e no Bairros Vivos.

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29/06 (segunda): Debate sobre a “nova” Marginal – “a vitória do automóvel sobre o rio e a cidade”

Convidados: Saide Kahtouni (ABAP), Marcos Bicalho (ANTP), Jorge Wilheim (Arquiteto e Urbanista), Rafael Poço (Coletivo Ecologia Urbana), Vasco de Melo (IAB-SP)

100 anos de atraso?

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foto: Chris Carlsson

São Francisco, 2003

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foto: Jorge / PreservaSP

São Paulo, 2009

A revolta das freeways – Em qual cidade você quer viver?

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arte: Mona Caron

O texto abaixo é uma tradução do artigo de Chris Carlsson, publicado originalmente no FoundSF (de onde vem as fotos abaixo), um projeto riquíssimo de memória da cidade mais bonita da Califórnia. A “revolta das freeways” barrou, ao longo de décadas, a insanidade do rodoviarismo estadunidense, que ganhou fôlego a partir da década de 1950.

Com um atraso de meio século, o Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo insistem em fazer o que a Divisão de Rodovias da Califórnia tentou fazer com São Francisco: estimular o transporte individual motorizado, aumentar as distâncias urbanas, espalhar a cidade, agravar as condições ambientais e de mobilidade.

Em São Francisco, o longo processo de pressão, participação e revolta foi responsável pela preservação de uma das mais belas cidades do mundo. E São Paulo? Vai continuar cavando seu túmulo motorizado e individual, enterrando qualquer possibilidade de um dia vivermos em uma cidade minimamente democrática, agradável e equilibrada?

Qualquer diferença entre São Francisco e São Paulo não é mera coincidência.

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protesto contra a Embarcadero Freeway no começo da década de 1960 / foto: SF Public Library

“A revolta das freeways”, por Chris Carlsson:

Na decada de 1950, a Divisão de Rodovias da Califórnia tinha um projeto de expansão de sua malha de vias expressas em São Francisco. Era o tempo do reinado soberano das rodovias na Califórnia e também nos EUA, mas a cidade de São Francisco começou a plantar as sementes de uma revolta incipiente que, ao final, salvou diversas comunidades do assalto que estava a caminho, resultando também na primeira oposição séria ao consenso forjado ao redor de automóveis, vias expressas e suburbanização das cidades durante o pós-guerra.

O Conselho de Vizinhança do Haight-Ashbury, um dos mais antigos e persistentes grupos comunitários da cidade, tem suas origens nas lutas contra a proposta da Freeway Panhandle-Golden Gate Park, que ligaria a freeway central ao corredor Oak/Fell, cortando 60% do parque Panhandle.

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projeto das freeways em 1948

Em 2 de Novembro de 1956, o jornal San Francisco Chronicle publicou um mapa das novas freeways propostas para a cidade, acompanhado de um editorial que zombava das vozes dissonantes: “O aspecto mais importante dos protestos e calúnias (contra a freeway) é o atraso com que estão sendo feitos. Eles reclamam de projetos que constam nos planos de desenvolvimento da cidade há anos, que foram feitos com base em pesquisas e caros estudos de trânsito. Tudo isso foi ignorado ou olhado com má vontade pelos cidadãos e representantes – até o momento em que voltar atrás seria muito dificil e extremamente caro. As evidências indicam que a sociedade jamais soube ou então se esqueceu do que os planejadores das freeways tinham em mente”.

Três anos antes, São Francisco havia recebido a “curva do hospital”, que ganhou o apelido tanto pela sua localização (atrás de um hospital), quanto pelo alto índice de acidentes.

Em 1 de Outubro de 1953, a Bayshore Freeway havia sido inaugurada, ligando as ruas Army e 7, e aproximando-se da ligação com a Bay Bridge (uma das pontes que liga São Francisco à baía). Os habitantes de São Francisco podiam então dirigir tranquilamente por quilômetros de pistas expressas, de Alemany a Bryant. À medida que os planos do que viria em seguida eram revelados, a oposição pública às freeways crescia.

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Projeto da Embarcadero Freeway até a ponte Golden Gate

Em 1958, perto do início das obras da Embarcadero Freeway, uma barulhenta oposição iniciou a campanha pela remoção da via expressa assim que ela fosse concluída. Mais de 30 mil pessoas assinaram a petição em encontros organizados nos bairros de Sunset, Telegraph e Russian Hills, Potero, Polk Gulch e diversas áreas ameaçadas. Em 1959, para surpresa do Departamento de Estradas e do governo do Estado, o Conselho de Supervisores (a Câmara dos Vereadores local) votou pelo cancelamento de 7 das 10 freeways planejadas.

Os construtores de freeways continuaram a ressuscitar diversos planos antigos, encontrando sempre uma persistente e bem organizada resistência das comunidades de São Francisco.

Em 1964 era a vez da freeway que ligaria o distrito de Panhandle à ponte Golden Gate. Uma grande manifestação nos campos de polo foi realizada para salvar o Golden Gate Park. No ato, artistas cantaram um “Hino Natural” e uma canção dedicada a Malvina Reynols, além de um discurso do poeta Kenneth Rexroth. Meses mais tarde, em 13 de Outubro, a votação apertada (6 a 5) do Conselho de Supervisores rejeitou o projeto da Park Freeway. Coube ao vereador negro Terry François dar o voto de minerva, apresentando um parecer de seis páginas contra o projeto (os outros votos “não” foram dos futuros prefeitos George Moscone, do futuro empresário e consumidor de serviços sexuais Roger Boas, do futuro governador Leo McCarthy e dos supervisores Clarissa McMahon e William Blake. A favor das freeways estavam os supervisores “progressistas” Jack Morrison, Josph Casy, Jack Ertola, Joseph Tinney e Peter Tamaras), além do prefeito Jack Shelley e a sua base de apoio (essencialmente sindical). A Comissão de Transportes do Legislativo recebeu uma petição com 15 mil assinaturas, além de 20 mil cartas e telegramas. Mais de 77 organizações comunitárias declararam ser contra o projeto.

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Demolição de parte da Central Freeway em 2003 – foto: Chris Carlsson

Hoje as freeways de São Francisco mudaram de novo, graças ao terremoto Loma Prieta, em 1989. A amaldiçoada Embarcadero Freeway, afetada pelo terremoto, foi removida, assim como algumas pistas da Central Freeway. Um debate acalorado sobre as rampas de acesso da Central Freeway na altura da Market Street foi finalmente resolvido: elas serão substituídas pelo Octavia Boulevard, um parque.

A ligação entre as avenidas 101 e 280 gerou confusão entre 1989 e 1996. Novas rampas foram adicionadas à I-280 para servir o novo estádio dos Giants em 1997, mas a ideia de uma via expressa até o conjunto esportivo foi abortada. No lugar, outro parque.

O dinheiro economizado com a obra foi para o sistema de bondes e ônibus, enquanto a Companhia de Trânsito local continua a gastar vastas quantidades de dinheiro para manter o sistema viário de São Francisco.

A rápida valorização das duas regiões, assim como a rápida gentrificação ocorrida nas áreas do Halley e do Civic Center mostram que os lucros também podem ser obtidos ao se mover o planejamento urbano em direção ao futuro, tirando a ênfase aos carros e re-enfatizando as vizinhanças, as comunidades e o meio ambiente. Mas a maior parte dos planejadores urbanos dos EUA continuam a cultuar o automóvel, fazendo esforços permanentes para expandir avenidas e estacionamentos em detrimento de um transporte público decente ou de ciclovias e ciclofaixas onipresentes.

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imagens: foundSF (exceto quando citado)