Rua XV de novembro, centro: mais um domingo de carros circulando e estacionando impunemente nos calçadões exclusivos para pedestres.
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As estimativas mais otimistas afirmam que a cidade de São Paulo possui uma área equivalente a 6 parques do Ibirapuera ocupada APENAS por estacionamentos particulares. São mais de 800 mil vagas em cerca de 9000 estabelecimentos comerciais destinados ao estacionamento pago de veículos (sem contar os clandestinos, a zona azul, o estacionamento grátis nas ruas e as garagens dos prédios residenciais).
Na foto acima, dois exemplares na rua São Francisco, comecinho do centro velho para quem desce do espigão da Paulista pela Brigadeiro.
Entre os dois, remanescente, um prédinho degradado que deve ter sido construído na primeira metade do século XX. A região, farta em transporte público, comércio, serviços e lazer é mais um local de trabalho ou passagem para o paulistano, que mora bem longe dali. Afinal, quem quer morar do lado de um estacionamento?
Momento ciclístico-literário. Reproduzo abaixo o belo texto do colega de pedalada André Maleronka (www.transito.zip.net).
“Vou pedalando.
O sol queima a Rua Itaboca, me dá firme na cabeça, os bondes comem os trilhos, é um barulhão que estremece até as casas; os trens da Sorocabana e da Santos a Jundiaí vão se repetindo lá em cima do viaduto da Alameda Nothmann, carregados e feios. Gente se pendura até nas portas. Vou pedalando… Sei lá por que gosto. Sei que gosto. Atravesso essas ruas de peito aberto, rasgando bairros inteirinhos, numa chispa, que vou largando tudo pra trás – homens, casas, ruas. Esse vento na cara… Agora vou indo lá pro Pacaembu. Vou pegar a Nothmann, subir, desembocar direto na Barra Funda, ô puxada sentida! É me curvar sobre o guidão, teimar no pedal, enfiar a cara. Depois, ganho a avenida larga e, numa flechada, alcanço o estádio.”
O escritor João Antonio (nascido em São Paulo em 1937 e falecido no Rio de Janeiro em 1996), uma das maiores pontes entre o cotidiano das ruas e o papel impresso, falava em seu conto “Paulinho Perna Torta” de uma São Paulo que aparentemente não existe mais. Tanto os antigos modos da malandragem dos salões de bilhar da Lapa e dos inferninhos do Bom Retiro deram lugar à violência nos centros e nas periferias quanto os bondes (que já eram lotados) foram substituídos no dia-a-dia por um sistema de ônibus, trens e metrôs deficiente, amparado pela ampla penetração dos carros particulares – uma equação bem mais violenta e suja.
Gigantesca e inchada, prestes a se tornar a segunda cidade mais populosa do planeta, o transporte na região metropolitana não funciona legal: são mais de 17 milhões de habitantes, 7 milhões de carros particulares congestionando as vias todos os dias (na maioria das vezes só com o motorista dentro), poucos quilômetros de metrô e linhas de ônibus quase sempre lotadas. Metade das residências daqui acumula pelo menos um carango, já que muitas vezes esse é o único jeito de chegar onde se precisa. Se de dia já é difícil, imagina na balada – nem tem ônibus a noite inteira. Assim como pra ir trampar você faz um extrinha camelando na lentidão do tráfego ou se acotovelando nos transportes públicos, à noite você, ou quem estiver te levando de carona, vai ter que escolher entre dirigir e chapar. Siniiiiistro, Jamanta!
É aí que entram as bicicletas. Se você vai percorrer cerca de 10 quilômetros, que é mais ou menos a média de deslocamento diário das pessoas pra chegar ao trampo, escola ou balada, já está mais do que provado que indo de bike você chega antes. Nesses casos – ou mesmo pra distâncias maiores – poder combinar umas pedaladas com transporte público seria lindo. Ninguém ia precisar sair de carro mais, mas o esquema de locomoção em São Paulo é tão legal que você é proibido de entrar no trem, no metrô ou no busão levando sua bicicleta, pura e simplesmente, como demonstra um recente comercial da Caloi estrelado pelo VJ Edgard. Fora a estação de trens de Mauá (onde ficam estacionadas cerca de 1.700 bicicletas diariamente!), não há bicicletários. Então, pra embarcar, você teria que desmontar e empacotar (!!) sua magrela. Apesar disso, nos últimos 10 anos, o número de ciclistas diários em São Paulo praticamente dobrou. São pelo menos 400 mil bicicletas fazendo a mesma função dos carros particulares, de um jeito bem mais democrático, limpo e aproveitando bem melhor a paisagem que essa cidade ainda tem pra oferecer.
Você poderia dizer “mas eu sou louco de sair pedalando e respirar toda essa poluição?”. Na real, é bem melhor do que estar trancado dentro de um carro, que além de responsável por 70% da poluição do ar daqui, deixa você bem na altura pra inalar a podreira dele e dos outros, que vai se concentrar dentro dos veículos. No alto, de bike, na mais perfeita união entre homem e máquina (segundo os alemães do Kraftwerk), você respira melhor, além de poder observar de verdade o lugar onde você vive, fazendo um exercício da hora.
Claro, existem algumas regras e precauções pra você fazer seu rolê numa boa. Pelo Novo Código de Trânsito, a bicicleta tem preferência na pista, isto é, os carros têm que deixar você em paz, guardando um metro e meio de distância ao te ultrapassarem. Um capacete, faróis e refletores também te garantem. Encarar o mar de carros é uma tarefa que exige treinamento e atenção, mas isso em São Paulo é fácil. As chuvas quase diárias dão um belo adianto na dispersão dos poluentes, e essa pode ser a melhor desculpa pra você desencavar aquela bicicleta empoeirando na garagem e começar participando de algum dos inúmeros passeios que existem por aqui. Tem quase todos os dias e existem muitos grupos organizados. É uma ótima pra saber como anda seu condicionamento físico e adquirir segurança pra transitar. Além disso, você vai pedalar com gente experiente e a fim de te ensinar o que for preciso.
Desses todos, talvez o mais interessante seja a Bicicletada. Organizados através de uma lista de discussão por e-mail, o grupo Bicicletada faz manifestações mensais em que ciclistas ocupam as ruas pra celebrar o movimento em duas rodas e mostrar que existem outras opções além de um consórcio na sua vida.
André Maleronka
(originalmente publicado na revista Pista n. 11, janeiro de 2005)
“Quando você dirige sozinho, dirige com Hitler! Junte-se a um clube de caronas hoje!”
O cartaz norte-americano é de 1943, mas poderia ser utilizado em São Paulo do século XXI. Era só substituir Hitler por Bush, Bin Laden ou Enéas.
A capital paulista tem o menor índice de ocupação de veículos no país: 1,2 pessoas por automóvel, ou seja, cada um sozinho (estressado, amedrontado e entediado) no seu próprio carro.
Hoje fica a dica: assista ao filme “Tudo sobre rodas”, do carioca Sérgio Bloch.
“O cotidiano de 13 personagens que, puxando, empurrando ou pedalando algum veículo, ganham a vida pelas ruas do Rio de Janeiro”.
O filme será exibido no festival “É tudo verdade”.
No Rio, dia 08 de abril, às 21h, no CCBB.
Em São Paulo, dia 10 de abril, às 14h, no MIS.
A entrada é gratuita e o filme é fantástico.
Aproveite porque coisa boa assim geralmente não sai em DVD nem passa no Cinemark.
Cansados de esperar por alguma atitude oficial, um grupo de cidadãos paulistanos resolveu botar a mão na massa no último domingo (03/04).
Em uma ação bem-humorada, os veículos estacionados nas áreas exclusivas para pedestres foram “multados” pela infração (confira a multa abaixo).
Há muito tempo os calçadões do centro da cidade vem sendo ocupados com o estacionamento ilegal de automóveis, principalmente aos domingos.
A atual administração, além de manter a política de “vistas grossas”, vem manifestando o desejo de abrir algumas dessas áreas para a circulação de veículos. (veja mais informações na seção cidade do arquivo)
Esta foi a “multa” aplicada. Clique na imagem para ampliar.
Calçadão da rua XV de novembro, em frente ao prédio da CET.
Praça do Patriarca
Às 14h45 resolvemos ligar para o 156 (telefone de denúncias da CET).
Informamos que dezenas de carros estavam estacionados na praça do Patriarca. A atendente, muito simpática e prestativa, informou que a denúncia seria atendida com urgência.
Esperamos no local por exatos 45 minutos e nada, ninguém apareceu.
Como o sol estava quente e o domingo ainda na metade, resolvemos tomar uma água de coco.
Se você quer participar de ações como esta, entre em contato pelo nosso e-mail.
Vai chegar um dia que o homem perceberá que criou as máquinas e toda essa parafernália tecnológica para que ele (homem) possa trabalhar cada vez menos. Nesse tempo, certamente o meio de transporte não será o automóvel. Utopia ainda distante na cidade dos “carros gaseados a prestação (Tom Zé, “São, São Paulo”, A grande liquidação)”…
O que você gosta e gostaria
de estar fazendo noite e dia
Ler, andar, ir ao cinema, brincar com seu neném,
e até mesmo trabalhar também
Quando quiser, se assim quiser
Se assim quiser, como quiser
Como quiser, quando quiser
Ir de bicicleta ao mercado
Escolher um peixe pro jantar
Encontrar a namorada ou o namorado
Escolher alguém pra visitar
Quando quiser, se assim quiser
Se assim quiser, como quiser
Como quiser, quando quiser
Ao contrário do que vem sendo divulgado pela imprensa, o prefeito José Serra afirmou no dia de hoje que o número de calçadões no centro será ampliado (e não reduzido). As novas áreas ganharão bancos, jardins, banheiros públicos e estacionamentos para bicicletas. A cidade ganhará ainda novas praças e parques, além de uma campanha permanente de desestímulo ao uso do automóvel.
As novidades municipais também incluem o aumento significativo do subsídio ao transporte público, a troca de 100% da frota de ônibus por veículos movidos a gás e a instalação de paraciclos em todos os terminais de ônibus. O prefeito também afirmou que a CET passará a autuar veículos estacionados sobre a calçada, em cima de faixas de pedestres, aqueles que não dão seta ao fazer conversões ou ameaçam pedestres e ciclistas, incluindo os que circulam nos bairros nobres.
As principais avenidas, incluindo as marginais Tietê e Pinheiros, ganharão ciclovias ou ciclofaixas. A partir de segunda-feira, todos os prédios públicos serão equipados com paraciclos e o comércio receberá incentivos para implantar estacionamentos para bicicletas. As máfias de guardadores de carro e valet-park também serão extintas com rapidez.
Os carros de polícia serão proibidos de estacionar em cima das calçadas e os veículos oficiais passarão a ser rigorosamente punidos quando cometem infrações de trânsito. Os veículos utilitários (SUVs), como Cherokee, Pajero e “Eco-sport”, soferão aumento do IPVA, por ocuparem muito mais espaço que os convencionais.
Integração com o metrô
A integração do sistema de ônibus com o metrô, prometida em campanha, passa a vigorar a partir de hoje. O usuário pagará apenas uma passagem (que será reduzida para R$1,00) e terá direito a realizar o número de viagens necessárias durante o dia inteiro. O passe livre para estudantes de escolas públicas também foi autorizado pelo prefeito e passa a vigorar na segunda. Também serão vendidos bilhetes semanais e mensais (com desconto), a exemplo de países como a Inglaterra e a França.
Já o governo estadual irá tirar do papel a inspeção veicular contra a poluição, punindo com rigor aqueles que não mantém seus veículos regulados e equipados com catalisadores.
Alckimin afirmou que não irá esperar o período eleitoral para inaugurar a linha 4 do metrô e disse que novas linhas serão construídas em caráter de urgência. A frota de trens (incluindo os da zona leste) será rapidamente substituída e o tempo de espera será significativamente reduzido. O governador também iniciou uma limpeza administrativa no Detran, órgão mais corrupto da esfera estadual. As empresas de recursos de multa estão proibidas de funcionar a partir de hoje.
Volta dos trens
O presidente Lula afirmou no dia de hoje que irá transformar em caráter de urgência o sistema transporte no país. Acabará imediatamente com a máfia dos ônibus interestaduais. Também ressucitará e ampliará o transporte ferroviário de passageiros, extinto com a chegada das montadoras de automóveis nas décadas de 50 e 60. O presidente acabará com a notória corrupção na Polícia Rodoviária Federal.
Lula também afirmou que irá acabar com os a mamata das fábricas de automóveis, que deixarão de receber os monumentais incentivos fiscais que nenhum outro setor tem no país. Disse ainda que irá transferir estes recursos para o setor de transporte público, que hoje não recebe nenhuma ajuda governamental.
O presidente também revogou a lei que permite a circulação de carros com vidro fumê. Lula apresentou ainda um decreto que permite a todo cidadão destruir ou atear fogo em veículos com alarme disparado por mais de 10 minutos.
São 7 carros e 8 bicicletas. Compare o espaço ocupado pelos dois meios de transporte e você entenderá o nome deste blog. Vale lembrar que a cidade tem o absurdo índice de 1 veículo para cada 2 habitantes, ou seja, é praticamente cada um no seu próprio carro.
Infelizmente a região central (bem como o resto da cidade) é forrada por estacionamentos para carros, negócio altamente lucrativo. Afinal, espaço também é dinheiro na capital brasileira da especulação.
Já os paraciclos, como o da Pinacoteca, são espécie rara, pra não dizer imaginária. Ainda bem que existem postes e grades, onde podemos amarrar nossas bicicletas sem ter que ligar o irritante alarme, pagar flanelinha ou ficar com medo de ter o som roubado.