Porto Seguro

Cicloviagem do colega Ateu, de BH, passando pelo litoral da Bahia.

Reféns das rodovias


(foto: Adriano Martins)

A foto acima é do belíssimo site www.estacoesferroviarias.com.br (dica do colega Dysprosio), um retrato completo do criminoso sucateamento da malha ferroviária brasileira por TODOS os governos a partir de JK.

É revoltante ver que dava para andar por quase todo o estado de São Paulo de trem e que hoje não é possível ir nem até Campinas sem ser refém das rodovias, de seu alto custo e do risco de acidentes graves.

A Bicicletada é quarentona

Na última sexta-feira (03.fev), oito ciclistas festejaram a 40a edição da Bicicletada paulsitana ajudando na sinalização das ruas. O encontro aconteceu, como sempre, na praça que existe no finalzinho da Paulista (quase na Consolação).

Entre a torre gospel e o prédio-outdoor, nossa pequena mensagem.

Fim de tarde bonito e trânsito lento enquanto colocávamos as primeiras placas.

Últimos acertos antes de sair.

Paulista X Augusta.

A cada parada, panfletos eram entregues para motoristas e pedestres.

Descemos a rua Augusta, que foi recapeada no final do ano passado. Quase dois meses depois da troca de asfalto, a pintura das faixas no chão ainda não foi efetuada. Alega-se que a chuva tem impedido os trabalhos…A informação sobre a sinalização pendente é destinada apenas aos motoristas. Afinal, pedestre não precisa saber sobre as faixas preferenciais para sua travessia.

Resolvemos dar uma força à Secretaria de Obras, que deve andar ocupada construindo rampa anti-gente (veja também este blog, no post de 21/12/2005) e cobrindo pedras portuguesas com asfalto nos calçadões do centro.

Senador Eduardo Suplicy, a caminho do cinema, recebeu panfleto da Bicicletada, gostou da idéia e disse que a bicicleta deixa em forma, é silenciosa e não polui o ambiente.

Nós seguimos a descida, deixando nossas pequenas bicicletas pelo caminho.

Como é bom pedalar no asfalto novo. Pena que os veículos motorizados e as concessionárias de serviços públicos esburacam tudo. Aí cada prefeito que assume, sem distinção partidária, faz um programa de recapeamento para mostrar que a gestão anterior não cuidava da cidade. Deve ser um tipo específico de asfalto, chamado “asfalto eleitoral”, feito para durar apenas 4 anos.

Nossa pequena mensagem no meio do caos. O giganstismo dos anúncios paulistanos é proporcional ao número de veículos e ao tamanho das avenidas. Para que o motorista consiga ser “atingido”, tudo tem que ser grande, apelativo, excessivo.

Nosso presente para o pessoal da Coopbike, a cooperativa de bicicletas que está surgindo em São Paulo: deixamos uma placa na árvore em frente à futura sede.

Chegando ao Theatro Municipal.

Em frente à prefeitura

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Na entrada do estacionamento oficial.

Pedalamos até a 24 de maio, onde o antigo calçadão de pedras portuguesas foi coberto por asfalto e “aberto” para os carros. Na nova e larga “rua”, um carro passando. Na “calçada”, duas caçambas de entulho são suficientes para impedir o fluxo de pedestres.

Um carro estacionado em local proibido na “rua”…

… outro carro em cima da “calçada”.

Aproveitamos o começo de noite para mais uma volta por São Paulo, que tinha lua crescente, céu claro e trânsito bom… pelo menos para quem estava de bicicleta.PS: Antes que alguém pergunte, sim, fomos abordados duas vezes pela polícia.

Na primeira, a guarda municipal em frente à prefeitura achou que era a sinalização de um passeio ciclístico.

Na segunda, a Força Tática da PM cantou o pneu da viatura e abordou o grupo. De arma em punho, perguntaram o que se passava. Foram informados que era apenas uma ajuda à prefeitura para sinalizar as ruas. Policiais e guardas municipais também receberam panfletos da Bicicletada.

video: português: [archive.org]

portuguese with english subtitles: *[blip.tv][youtube]

40a Bicicletada de São Paulo – edição extraordinária


(arte: pedalero)

Sexta-feira, 3 de fevereiro, dia de Bicicletada em São Paulo.

Como sempre, às 18h, no finalzinho da av. Paulista, quase esquina com a Consolação.

Aqui, um relato da última Bicicletada de 2005.

Sem Minhocão e com muita ciclovia?

No Brasil, notícia boa geralmente é dada em tempo verbal futuro e incerto.

O Estado de São Paulo (01.fev, p. C8) noticiou que a prefeitura irá lançar um concurso para premiar projetos que solucionem o entrave urbano chamado Minhocão (a via expressa que, em 1971, sepultou a vida no centro de São Paulo).

O nome utilizado para a premiação de R$50 mil reais é bastante simbólico: prefeito Prestes Maia. Simbólico porque o homenageado foi responsável pelo primeiro “plano de avenidas” da cidade no início do século XX. Simbólico também porque o prêmio Prestes Maia foi entregue pela primeira vez em 1998, durante a gestão de Celso Pitta, discípulo de Maluf, que é pai das duas aberrações: o Minhocão e o próprio Pitta.

A premiação de 1998 também foi simbólica: os arquitetos embolsaram o prêmio, o projeto nunca saiu do papel e a zona leste continua enchendo em dia de chuva.


(clique na imagem para ampliá-la ou veja o local no Google Earth: 23°51’1.57″S, 46°41’47.41″W)

A Folha de São Paulo informou que o prefeito José Serra “planeja entregar” duas ciclovias ainda este ano. Uma está sendo construída em algum lugar perto do ponto amarelo, no bairro de Parelheiros, extremo sul da capital, a 31km em linha reta dos Jardins (o outro ponto amarelo lá no fundo). A outra, medindo dois simbólicos quilômetros, deverá ser construída na Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade, fronteira com Ferraz de Vasconcelos.

Se o futuro indeterminado virar presente concreto, teremos longínquos 7,8km de pistas, mais que o dobro dos atuais 3,1km (!!!) existentes. A atitude é simbólica, tanto no tamanho das pistas quanto na escolha dos bairros na periferia. Resta saber quanto deste simbolismo é vontade e quanto é propaganda que vira notícia.

Por um lado, a presença do poder público nos esquecidos barirros de Parelheiros e Cidade Tiradentes é louvável. Por outro, me recordo de um texto de Alfredo Sirkis (secretário do Meio Ambiente do Rio) no livro “Ciclovias cariocas“. O ambientalista conta que a escolha da orla da zona sul para as primeiras ciclovias foi proposital.

O raciocínio é que, ao realizar as obras no berço da classe média, retirando inclusive vagas de automóveis à beira-mar, a prefeitura estaria colocando a bicicleta na “pauta” da sociedade, legitimando seu uso como meio de transporte.

A lógica de começar pelas áreas ricas parte do princípio (infelizmente verdadeiro) que só é notícia e só vira assunto de interesse público o que acontece com a classe média “formadora de opinião”. Dez mortos no Capão Redondo viram, no máximo, uma notinha no caderno policial; um morto nos Jardins é comoção nacional, pedidos de pena de morte e clamores por “segurança”.

O grande problema é que as ciclovias cariocas, ainda que tenham estimulado o uso da bicicleta, foram pouco além das áreas nobres e são utilizadas principalmente para o lazer. Moradores da zona norte, por exemplo, continuam vítimas da agressividade do trânsito motorizado se optarem pela bicicleta para chegar ao centro da cidade.

Se o Rio de Janeiro, cidade pequena e plana, não integrar suas diversas regiões em uma verdadeira rede cicloviária, teremos a consolidação de uma política elitista e excludente. Se a ação paulistana não acontecer também nas áreas nobres (onde as famílias têm 5 ou 6 carros e os utilizam para ir até a padaria), pouco será alterado no quadro de imobilidade e caos generalizado da capital.

A retirada dos carros da orla para dar lugar às ciclovias no Rio de Janeiro poderia servir de exemplo para uma atitude corajosa em São Paulo, cidade com alta permissividade de estacionamento: diversas ruas poderiam ter as vagas junto ao meio-fio transformadas em ciclovias, ciclofaixas, calçadas maiores ou corredores de ônibus.

Imagine a rua Augusta ou a Estados Unidos sem nenhum carro estacionado e com uma bela ciclovia na lateral? Ou a Pamplona com largas calçadas? Ou então imagine se a praça Charles Miller voltasse a ser uma praça e não um amplo estacionamento para os alunos da FAAP?

Rodízio: o paliativo que virou política

O rodízio municipal está de volta à São Paulo depois de 35 dias de “férias”. Criada em 1997, a restrição à circulação de veículos em boa parte da cidade perde eficiência a cada ano que passa.

Segundo a CET, a média de congestionamentos de janeiro aumentou 12% em relação ao mesmo mês de 2005. No ano passado, no período da manhã, a média era de 84km de congestionamento. Neste ano subiu para 100km.

Será que ninguém enxerga o óbvio? O rodízio é uma medida paliativa, extrema, que acabou virando política pública em São Paulo. Todo paliativo usado sozinho e em excesso causa dependência e agrava o quadro do “doente”: hoje a cidade não vive sem o rodízio, mas seus habitantes agonizam no trânsito que é muito pior do que em 1997.

O engraçado é ver engenheiros da CET e jornalistas buscando razões para explicar o que é óbvio. Justifica-se o trânsito com chuva, acidentes de carretas na marginal, feriados que levam multidões para as estradas ou às compras…

A causa do trânsito que paralisa a cidade e destrói a qualidade de vida é o excesso de veículos combinado com políticas públicas voltadas exclusivamente para o transporte individual motorizado. O resto é procurar pêlo em ovo.

Fotos – “On your bike”

Sérvia, 1965, pelas lentes do mestre Henri Cartier-Bresson.

Essa e outras 59 fotos da exposição virtual “On your bike” podem ser conferidas no site da Magnum Photos.

Oração do ciclista urbano

Pai nosso que estás na Holanda,
Bicicletário seja o teu nome.
Venha a nós as tuas ciclofaixas,
seja feita a tua rota segura
assim na pista como na calçada.
O pedal nosso de cada dia nos dá hoje.
Perdoa-nos nossas contramãos,
assim como nós perdoamos os motoristas que nos tem massacrado.
E não nos deixeis cair nos bueiros,
mas livra-nos das vans e dos ônibus,
pois teu é o paralama, o bagageiro e a campainha
para sempre.
Amém.

(por Sérgio Tourino. Mais em www.bicicletanavia.cjb.net)

Veja Mente – desassine


(foto: CMI)

A foto acima é da rampa anti-gente, construída pela prefeitura para impedir a permanência de seres humanos no local. Na madrugada do dia 24, a bizarra obra da arquitetura do medo virou anti-propaganda: “Veja – desassine”. A ação de repúdio à publicação da Editora Abril também aconteceu em outros locais da cidade.

A Veja é porta-voz da política higiênico-especulativa em curso nas regiões centrais, destinada à garantir os lucros e o bem-estar de uma minoria que não quer ver a miséria nem da janela do carro. “Limpe os pobres, mande-os para a periferia”: a distância e o transporte público que só funciona para levá-los ao trabalho se encarregam de manter a cidade “segura e bonita” para quem tem dinheiro e um automóvel.

A “revista” ainda se destaca pelo uso de linguagem preconceituosa e pela manipulação indiscriminada de fatos e informações. Leia este trecho de “reportagem” sobre o padre Júlio Lancelotti e tire suas conclusões.

A rampa anti-gente é o nosso muro da vergonha em Tijuana, a nossa barreira israelense, a nossa cerca de Varsóvia: do medo que ergue fortalezas ao facismo que constrói campos de concentração é um passo muitas vezes curto, imperceptível.

O colega José Chrispiniano, autor do boletim Veja Q Porcaria indica dois textos: 1) um manifesto de repúdio da Abong em relação à matéria “A solução é derrubar”, 2) um texto de Fernando Altemeyer Júnior, professor da PUC-SP. Eu indico o boletim, que pode ser assinado pelo e-mail vejaqporcaria@yahoo.com.

Também vale dar uma olhada sempre no blog integração sem posse.

sexta: Bicicletadas em Curitiba e São Paulo

Meio em cima da hora, mas vai a divulgação das duas Bicicletadas que acontecem pelo Brasil nesta sexta-feira (27):

Em Curitiba, a terceira edição da Bicicletada tem encontro marcado para as 17h, no pátio da reitoria da UFPR. Veja aqui como foi a última edição.

Em São Paulo, chegamos à 40a edição da Bicicletada. Como sempre, o encontro é no finalzinho da Paulista (quase esquina com a Consolação), às 18h. Veja aqui como foi a última edição.