Durante a semana, a rua ao lado é só poluição, barulho e agressividade. Aos domingos, o Minhocão se transforma: o longo pedaço de asfalto suspenso que rasga o centro da cidade vira praia de alguns paulistas.Barraquinhas servem lanches e bebidas, uma bicicletaria conserta e aluga bicicletas, pessoas caminham, correm, pedalam, crianças brincam, famílias passam o dia, casais passeiam e muita gente só vai jogar conversa fora com os vizinhos.
Ao contrário das avenidas Paulista e Sumaré, que ficam em regiões nobres e eram fechadas para o lazer até o ano passado, no Minhocão nada é oficial ou patrocinado: não existem banheiros, shows, cortes de cabelo, ambulâncias ou palhaços para animar as ciranças.Ícone da degradação
Alegria de pobre dura pouco: o presente dado por Paulo Maluf em 1971 fica aberto 6 dias por semana, com tráfego intenso e constante. A pista fica a 5 metros das janelas, o que obriga a prefeitura a deixar os moradores em paz no turno das 22h às 6h. O Minhocão é hoje o maior ícone paulistano dos desastres causados pelo planejamento urbano que privilegia o automóvel.
Em São Paulo ninguém quer morar de frente para o mar. Os prédios, construídos nos anos 40, 50 e 60, abrigam cortiços, quitinetes, motéis baratos, botecos sujos, prostituição, escritórios e lojas.
Morfina para o trânsito
Ainda na década de 90, com o início do processo de “revitalização do centro”, chegou a ser cogitada a demolição do Minhocão. Mas nos seus 20 anos de existência, a via expressa tornou-se um anestésico poderoso para a quantidade crescente de veículos em circulação.
A curto e médio prazo, a remoção do viaduto só é provável se houver uma mudança radical nos rumos do transporte em São Paulo. Como o brasileiro não é muito chegado em mudanças radicais e o paulistano está cada vez mais dependente do automóvel, resta apenas aproveitar o domingão na praia de asfalto.