Residencial Vladimir Herzog: de frente para a praça, de costas para a televisão e sem o barulho do Estilingão

praça Arlindo Rossi, Jardim Edith, 2008 d.C.

Na semana passada, durante a vistoria às obras do Estilingão, o governo municipal anunciou a construção de 1016 unidades habitacionais em três favelas que estão na área da Operação Urbana Água Espraiada (Buraco Quente, Jardim Edith e rua Corruíras).

A Operação Urbana é decorrência do último Plano Diretor Estratégico. No projeto aprovado durante a gestão de Marta Suplicy, além do Estilingão, também constavam 8500 unidades habitacionais para substituir as favelas.

Com 7484 unidades a menos do que o previsto no projeto original, a criação das mil e poucas  moradias populares no coração da especulação imobiliária é uma conquista importante. Não só dos moradores, mas de todos que acreditam nas cidades como espaços de diversidade e convivência, e não de exclusão, medo e violência.

O exôdo causado pelos agentes da especulação imobiliária já provocou centenas de baixas entre os moradores. Muitos preferem sair do terreno onde vivem há décadas e receber uma indenização  que varia entre R$ 5 mil e R$ 8 mil do que apostar no enfrentamento com os construtores do alto luxo.

A favela do Jardim Panorama, vizinha ao nosso Castelo de Versalhes, já  foi esvaziada. Dará lugar a um bosque privativo, construído para para manter a bolha fechada e bonita  – ao menos para quem está do lado de dentro.

As operações urbanas são um instrumento previsto no Plano Diretor municipal para  garantir a atuação do poder público em áreas específicas. Seu principal instumento econômico são as Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção).

Em linhas gerais, funciona assim: a prefeitura abre excessões no planejamento de uma determinada região para que as construtoras possam fazer prédios mais altos ou utilizar um tipo de zonemento não permitido.

A construtura paga à prefeitura e recebe o certificado que autoriza a obra.  Com o dinheiro, o poder público realiza melhorias na região. A ponte Octavio Frias, por exemplo, teve 70% de seu custo bancado com dinheiro arrecadado com as Cepacs.

Segundo o anúncio da prefeitura, a favela do Jardim Edith, vizinha à nova ponte, terá 582 unidades habitacionais, construídas em um prazo de 6 anos.

A obra poderia ser batizada de Residencial Vladimir Herzog. Ficaria na esquina oposta ao novo prédio da Globo, de costas para o trânsito do Estilingão e com vista para a bela Praça Arlindo Rossi.

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