Manifesto dos invisíveis

Em uma tarde de setembro, meia centena de ciclistas urbanos reunidos nos espaços virtuais resolveram colocar no papel algumas opiniões e análises sobre as dificuldades, conquistas e necessidades de quem usa bicicleta em São Paulo.

O texto coletivo, que cirulou por listas de email, foi assunto de chats e conversas, recebeu centenas de alterações não é uma versão conclusiva nem estática. Como disse um dos autores, talvez nunca existirá uma versão definitiva. Mas a análise e a opinião destes especialistas empíricos sobre as ruas da capital merece ser escutada.

Manifesto dos Invisíveis

Motorista, o que você faria se dissessem que você só pode dirigir em algumas vias especiais, porque seu carro não possui airbags? E que, onde elas não existissem, você não poderia transitar?

Para nós, cidadãos que utilizam a bicicleta como meio de transporte, é esse o sentimento ao ouvir que “só será seguro pedalar em São Paulo quando houver ciclovias”, ou que “a bicicleta atrapalha o trânsito”. Precisamos pedalar agora. E já pedalamos! Nós e mais 300 mil pessoas, diariamente. Será que deveríamos esperar até 2020, ano em que Eduardo Jorge (secretário do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo) estima que teremos 1.000 quilômetros de ciclovias? Se a cidade tem mais de 17 mil quilômetros de vias, pelo menos 94% delas continuarão sem ciclovia. Como fazer quando precisarmos passar por alguma dessas vias? Carregar a bicicleta nas costas até a próxima ciclovia? Empurrá-la pela calçada?

Ciclovia é só uma das possibilidades de infra-estrutura existentes para o uso da bicicleta. Nosso sistema viário, assim como a cidade, foi pensado para os carros particulares e, quando não ignora, coloca em segundo plano os ônibus, pedestres e ciclistas. Não precisamos de ciclovias para pedalar, assim como carros e caminhões não precisam ser separados. O ciclista tem o direito legal de pedalar por praticamente todas as vias, e ainda tem a preferência garantida pelo Código de Trânsito Brasileiro sobre todos os veículos motorizados. A evolução do ciclismo como transporte é marca de cidadania na Europa e de funcionalidade na China. Já temos, mesmo na América do Sul, grandes exemplos de soluções criativas: Bogotá e Curitiba.

Não clamamos por ciclovias, clamamos por respeito. Às leis de trânsito colocam em primeiro plano o respeito à vida. As ruas são públicas e devem ser compartilhadas entre todos os veículos, como manda a lei e reza o bom senso. Porém, muitas pessoas não se arriscam a pedalar por medo da atitude violenta de alguns motoristas. Estes motoristas felizmente são minoria, mas uma minoria que assusta e agride.

A recente iniciativa do Metrô de emprestar bicicletas e oferecer bicicletários é importante. Atende a uma carência que é relegada pelo poder público: a necessidade de espaço seguro para estacionar as bikes. Em vez de ciclovias, a instalação de bicicletários deveria vir acompanhada de uma campanha de educação no trânsito e um trabalho de sinalização de vias, para informar aos motoristas que ciclistas podem e devem circular nas ruas da nossa cidade. Nos cursos de habilitação não há sequer um parágrafo sobre proteger o ciclista, sobre o veículo maior sempre zelar pelo menor. Eventualmente cita-se a legislação a ser decorada, sem explicá-la adequadamente. E a sinalização, quando existe, proíbe a bicicleta; nunca comunica os motoristas sobre o compartilhamento da via, regulamenta seu uso ou indica caminhos alternativos para o ciclista. A ausência de sinalização deseduca os motoristas porque não legitima a presença da bicicleta nas vias públicas.

A insistência em afirmar que as ruas serão seguras para as bicicletas somente quando houver milhares de quilômetros de ciclovias parece a desculpa usada por muitos motoristas para não deixar o carro em casa. “Só mudarei meus hábitos quando tiver metrô na porta de casa”, enquanto continuam a congestionar e poluir o espaço público, esperando que outros resolvam seus problemas, em vez de tomar a iniciativa para construir uma solução.

Não podemos e não vamos esperar. Precisamos usar nossas bicicletas já, dentro da lei e com segurança. Vamos desde já contribuir para melhorar a qualidade de vida da nossa cidade. Vamos liberar espaços no trânsito e não poluir o ar. Vamos fazer bem para a saúde (de todos) e compartilhar, com os que ainda não experimentaram, o prazer de pedalar.

Preferimos crer que podemos fazer nossa cidade mais humana, do que acreditar que a solução dos nossos problemas é alimentar a segregação com ciclovias. Existem alternativas mais rápidas e soluções que serão benéficas a todos, se pudermos nos unir para construirmos juntos uma cidade mais humana.

A rua é de todos. A cidade também.

Nós, que também somos o trânsito:

Alberto Pellegrini
Alexandre Afonso
Alexandre Catão
Alexandre Loschiavo (Sampabiketour)
Alex Gomes ( U-Biker )
Ana Paula Cross Neumann (Aninha)
André Pasqualini (CicloBR)
Antonio Lacerda Miotto (Pedalante)
Aylons Hazzud
Ayrton Sena Santos do Nascimento
Bruno Canesi Morino
Bruno Gola
Carolina Spillari
Célia Choairy de Moraes
Chantal Bispo (Eu vou voando)
Daniel Ingo Haase (FAHRRAD)
Daniel Albuquerque
Eduardo Marques Grigoletto (CicloAtivando)
Fabrício Zuccherato (pedal-driven)
Flávio “Xavero” Coelho
Felipe Aragonez (Falanstérios)
Felipe Martins Pereira Ribeiro
Fernando Guimarães Norte
Gustavo Fonseca Meyer
Hélio Wicher Neto
João Guilherme Lacerda
José Alberto F. Monteiro
João Paulo Pedrosa (Malfadado – PT)
José Paulo Guedes (EcoUrbana)
Juliana Mateus
Laércio Luiz Muniz
Leandro Cascino Repolho
Leandro Valverdes
Lucien Constantino
Luis Sorrilha (BIGSP)
Luiz Humberto Sanches Farias
Marcelo Império Grillo
Márcia Regina de Andrade Prado
Márcio Campos
Mário Canna Pires
Matias Mignon Mickenhagen
Mathias Fingermann
Otávio Remedio
Paula Cinquetti
Polly Rosa
Ricardo Shiota Yasuda
Rodrigo Sampaio Primo
Ronaldo Toshio
Silvio Tambara
Thiago Benicchio (Apocalipse Motorizado)
Vado Gonçalves (cicloativismo)
Vitor Leal Pinheiro (Quintal)
Willian Cruz (Vá de Bike!)

Dias intensos

arte:marcelo siqueira

Hoje tem desafio intermodal em São Paulo, desta vez medindo também quem respira mais poluição.

Amanhã tem Bicicletada Toda Sexta e também Vaga Viva.

No domingo, tem CicloCine.

Na segunda-feira, Dia Interplanetário Sem Carro, a invasão das mil bicicletas na paulista e mais uma porção de atividades espalhadas pela cidade.

E você: vai ficar dentro do carro?

atividades preparatórias em Curitiba
Pedalante explica: “como ficar um dia sem carro?”

Cumprimente o ciclista

No último dia 10, a London Cycling Campain convidou os ciclistas da capital britânica a cumprimentarem outros ciclistas nas ruas com o um toque da sineta e um “olá.

O Ding Day tem como objetivo “criar um ambiente alegre e reforçar o senso de comunidade”.

A idéia é simples, mas o “ding ding” (ou “ring ring”) pode funcionar como um poderoso antídoto poético para o esfacelamento do tecido social nas cidades contemporâneas.

Como disse um amigo, “nada que eu não faça diariamente em São Paulo”.

De fato, o senso de comunidade é mais possível e presente entre os que não se locomovem cercados por uma armadura metálica.

Automóveis são, por natureza, dispositivos de restrição da visão. Além disso, o ritmo de anda-e-pára do trânsito não permite que “olás”, “bom dias” ou “boa noites” sejam distribuídos aos concidadãos sem que o vizinho do carro de trás comece a buzinar.

Dirigir um automóvel requer atenção. O motorista tem que lidar com uma alavanca de marchas, três espelhos retrovisores, três pedais, volante, seta…. Sem falar nos inúmeros dispositivos anestésicos como celulares, aparelhos de som, ar condicionado e outros.

De bicicleta ou à pé, o contato humano é possível e não é raro, mesmo em São Paulo, ver ciclistas se cumprimentando em semáforos, esquinas ou ruas.

Dê bom dia à vida: cumprimente o ciclista!

Carro, veículo do passado

Locomoção no meio-fio

foto: Henirque Parra

Nesta quarta-feira (17), a partir das 19h, acontece no Centro Cultural São Paulo o debate “Locomoção no meio-fio”, reunindo usuários de meios de transporte que não são bem acolhidos no espaço das cidades.

A conversa é parte do ciclo de debates da Experiência Imersiva Ambiental (EIA) 2008.

Os convidados:

Alexandre Delijaicov – arquiteto e urbanista que se dedica à projetos de prédios e equipamentos públicos, ciclovias e projetos para a utilização da orla fluvial e dos rios das cidades.

Eliezer Santos – do grupo Zexe.net, formado por motoboys paulistanos que tiram fotos do cotidiano usando telefones celulares.

Mariana Cavalcante – Artista, cicloativista, usa todos os meios disponíveis para se locomover na cidade, menos um: o carro.

Filmes e motores

foto: stella weinert / adbusters

Nesta terça-feira (16), a partir das 19h, o Cineclube Pólis exibe o filme “Agrocombustível: outra verdade incômoda”, da argentina Silvana Buján. O documentário será acompanhado de um debate sobre o tema.

Na quinta-feira (18), a mini-mostra sobre o Dia Mundial Sem Carro apresenta “Em Trânsito”, de Henri Arraes Gervaiseau, seguido de debate com o diretor. A sessão também começa às 19h.

Nas duas sessões, haverá exibição de curtas produzidos pelo Museu da Pessoa.

O Pólis fica na Rua Araújo, 124 (Vila Buarque).

Todos os filmes exibidos no Pólis terão sessão extra no dia 22 de Setembro, no Centro de Cultura Judaica.

Em virtude da sessão de quinta-feira no Pólis, o CicloCine desta semana (que irá exibir Still We Ride) foi transferido para domingo, a partir das 19h, no Espaço Contraponto.

Bicicletas, todas as noites no metrô

A partir da próxima quarta-feira (17), o Metrô de São Paulo começa a aceitar bicicletas em seus vagões todos os dias da semana, das 20h30 até o último trem.

Aos finais de semana e feriados, as bicicletas também são bem-vindas até o fechamento das estações (no sábado, a partir das 20h30, e aos domingos e feriados, a partir das 4h40).

O acesso de ciclistas durante a semana não vale para os trens da CPTM, que continuam a permitir bicicletas apenas aos finais de semana e feriados.

O estímulo à bicicleta integrada aos trilhos vem caminhando em ritmo bastante interessante em São Paulo.

Desde o final de Fevereiro, com a liberação das bicicletas nos trens aos finais de semana, Metrô e CPTM deram passos bastante largos para estimular o uso da bicicleta na cidade. Além do transporte de ciclistas nos finais de semana, a rede sobre trilhos também teve bicicletários construídos em algumas estações.

No próximo domingo (21) deve ser inaugurada uma ciclovia construída pelo Metrô na Radial Leste, ligando a estação Corinthians-Itaquera ao Tatuapé.

A cerimônia, na véspera do Dia Sem Carro, também deve anunciar a construção de novos bicicletários, acompanhados por um serviço de bicicletas públicas em sete estações. Outras oito estações da rede receberão paraciclos com espaço para 20 bicicletas.

notícia no site do Metrô

Gente estranha em lugares conhecidos

Na última sexta-feira, mais de 80 pessoas em bicicletas, patinetes e skates se deslocaram pela cidade de São Paulo, propagando alegria, se fazendo visíveis e transformando por alguns instantes os espaços por onde passavam.

Pessoas desconhecidas, que se encontraram em um local público, apenas para compartilhar algumas horas com outras pessoas, se divertir e participar ativamente na construção de cidades humanas.

A massa tranquila, sem muitos panfletos ou faixas e nenhuma discussão ou faísca com motorizados, fez o tradicional roteiro do centro, descendo a Vergueiro, passando pela Sé, Viaduto do Chá e São João. Subida no Minhocão até a Barra Funda, meia-volta até a Augusta, debaixo de chuvinha fina, mas nem um pouco chata.

fotos: sandinista

Um dia antes, na quinta-feira (11), cerca de 20 pessoas assistiram à primeira sessão do CicloCine, que exibiu o filme Taken for a Ride e alguns curtas sobre bicicletas e mobilidade urbana. Depois do filme, uma conversa sobre bondes, ônibus, pontes e viadutos.

No sábado foi a vez do bonde para Sorocaba levar mais de 20 pessoas para o interior paulista.

E na semana que antecede o Dia Sem Carro tem mais. Visite a página da Bicicletada de São Paulo ou fique de olho nos na rede de notícias que você não vai ver na tevê.

Ay Carmela! – inauguração amanhã

arte: Flávio Bá (através do gira-me)

Neste domingo, a partir das 16h, o espaço Ay Carmela! abre suas portas no centro de São Paulo.

“O Espaço Ay Carmela! é um centro político-cultural autogestionário mantido por grupos autônomos da cidade de São Paulo. A idéia é ser um lugar de construção de ações e conhecimentos coletivos, além de um pólo de produção, reunião e dispersão de informações, saberes e transformações.”  (princípios que orientam as ações no espaço)

Confira a programação deste domingo (14):

* LOUNGE: Espaço de sociabilidade e conversa com música ambiente e canções libertárias.

* EXPOSIÇÃO: Traços Libertários – Ilustrações anarquistas (Curadoria: Flávio Ba). Desenhos de Frederico Freitas, Flávio Ba, Klaus Weber, Vinício Otto, Chico Feliz, Mário de Alencar, Luiz Gustavo Insekto, Alex Vieira, Joacy Jamys (in memorian), Grupo 1t3ze, Valéria Göss e André Mesquista.

* SHOWS: RÄTTÜ MORTÖ (comemorando 10 anos de sua campanha pela destruição da música!) e ORDINARIA HIT (Rock torto faça-você-mesmo lançando o disco “Sem Título, Técnica Mista”!)

* Comida vegana e bebida à venda no local, exposição e venda de material independente e anarquista

* A entrada custa R$5,00

ESPAÇO AY CARMELA!
Rua das Carmelitas, 140 – Sé (próximo ao Metrô Sé / travessa da R. Tabatinguera)

Hoje tem

foto: bicicletada curitiba

Em São Paulo, Bicicletada Toda Sexta.

Em Curitiba, Música Para Sair da Bolha. <- falha nossa (veja os comentários)

Na rua, de graça.

A segurança da baixa velocidade

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O comercial é de uma rede alemã de ferramentas e produtos para a bricolagem.

No bairro carioca da Tijuca, o dispositivo “faça você mesmo” não será necessário. As ruas da Tijuca serão primeiras a experimentar a segurança das “Zonas 30”, áreas onde a velocidade dos motorizados será reduzida para aumentar a segurança de ciclistas e pedestres.

Além da Tijuca, outros bairros do Rio de Janeiro poderão ser beneficiados pela redução do limite de velocidade, caso o projeto das “Zonas 30”, apresentado pela associação Transporte Ativo, seja colocado em prática.

Máquinas pesadas e velozes são uma ameaça à vida e uma das grandes barreiras para quem está começando a usar um veículo a propulsão humana.

A equação é simples: mais velocidade = menos tempo de reação, tanto para o motorista, quanto para os demais ocupantes das ruas.

A redução da velocidade é imprescindível para a criação de cidades humanas. Permitir que automóveis, ônibus, caminhões e motos trafeguem a 70 ou 80km/h dentro do perímetro urbano é legitimar o genocídio motorizado, perpetuando o assustador índice da OMS, que aponta os “acidentes” de trânsito como a principal causa de mortes de jovens e crianças no mundo.

Em 1961, os estadunidenses Paul e Percival Goodman já afirmavam que não havia razão para que os veículos em circulação na ilha de Manhattan trafegassem em velocidades superiores a 40km/h. Mais ousada era a proposta de simplesmente banir os automóveis da “grande maçã”.

Infelizmente um dos pilares do lobby automobilístico é o estímulo à velocidades criminosas, perpetuando a ilusão de que o deslocamento em automóveis é algo instantâneo: basta entrar, girar a chave, acelerar e pronto, você já chegou ao seu destino.

A redução da velocidade e as iniciativas que visam propagar o respeito e a convivência nas ruas são tão ou mais importantes que a construção de ciclovias. Aliás, faixas segregadas para bicicletas não seriam sequer necessárias se a velocidade máxima permitida  em algumas ruas fosse a velocidade média do trânsito, ou seja, 30km/h.