foto: igor abreu, em fortaleza (CE)
Será que foi por causa das burkas?
foto: Jonathan Maus / BikePortland
Sam Adams, ex-Secretário de Transportes, novo prefeito de Portland.
Mais sobre a cidade nos relatos (ainda incompletos) da Towards Carfree Cities 2008.
Portland’s new mayor bring circus to City Hall
Adams wants Portland to be hub of the “green revolution”
Portland’s safer streets: how do they do it?
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vídeo: Haase
A imagem acima é de Asaf Zulah no calendário da Inkworks Press, uma coletânea de obras de artistas radicais que trouxe inspiração à minha parede ao longo de 2008.
“Verde X Verde”, é a previsão do final de ano. A batalha entre o greenwashing corporativo e a real sustentabilidade está apenas começando.
Do lado direito do ringue, as empresas e governos que começam a pintar de verde suas práticas destrutivas de estímulo à competição, de manutenção das desigualdades e de exploração indiscriminada de recursos para sustentar o também indiscriminado consumo. Do lado esquerdo, a humanidade e o planeta, resistindo e propondo criatividade, novas soluções e novos paradigmas de convivência e vida.
E você, vai continuar acreditando em Papai Noel e automóveis verdes?
Outro mundo é possível, outro caminho também.
Paz
Na noite de terça-feira, os arautos do cinza reportaram que um perigoso elemento circulava nas terras de Piratininga com uma bicicleta de bronze.
No alerta audiovisual emitido pelos paladinos do espaço 100% comercializado, o tal “Francisco Miranda” foi imediatamente transformado em símbolo da cidade, ainda que nenhuma nota ou matéria tivesse sido publicada a seu respeito anteriormente. *
Acusado de venezuelano, o perigoso ciclista despertou a ira do general Pizarro, que mobilizou seus exércitos para impedir a fuga no meio do congestionamento de final de ano.
Como é de conhecimento geral, venezuelanos, coreanos, iraquianos, pichadores, palestinos, afegãos, mendigos, irlandeses e camelôs são povos bárbaros, perigosos, capazes de atrocidades como a utilização de bombas atômicas e armas químicas, apoio a golpes de estado, sabotagens e outras formas de terrorismo.
Depois de intensa batalha, as tropas de Pizarro conseguiram remover o perigoso objeto e prender o até então obscuro “general e poeta”.
O “venezuelano” alega ter sido torturado, mas o Departamento de Defesa dos Motores declarou que manter suspeitos de pé durante 24 horas do dia em câmaras gás de escapamento é apenas uma técnica de investigação, necessária quando os suspeitos se negam a fornecer informações.
O DDM afirma ainda que os gases utilizados no procedimento causam apenas problemas cardíacos, sedentarismo, redução da expectativa de vida, estresse, alterações comportamentais e problemas respiratórios, não representando qualquer tipo de ameaça física ou psicológica aos investigados.
Enquanto o sangue corria na Praça do Ciclista, do outro lado da avenida Paulista um índio observava a cena. Vítima da degradação do espaço público, peste que ameaça a província desde a imposição do Deus Carro pelos colonizadores, o último remanescente da tribo tentou apartar a briga e impedir a prisão de Miranda, alegando que bicicleta é um veículo que não polui, não faz barulho, não congestiona as ruas, permite a integração com o espaço público e com as outras pessoas e ainda faz bem a quem utiliza.
Mas tropas de Pizarro eram mais fortes e não queriam saber de veículos que não fossem os movidos a combustão. Auxiliados por mercenários anônimos (também chamados de Vândalos), mesmo sob o olhar atento da temida Guarda Real Metropolitana, roubaram o arpão do nativo e fizeram secar o riacho de onde vinha seu alimento.
arte: Marcelo del Campo
O bravo índio não conseguiu impedir a prisão de Miranda. No entanto, depois de uma batalha heróica, conseguiu resgatar um pedaço do artefato libertador, que levou consigo até sua morada na metade escura (e não patrocinada) da Praça Oswaldo Cruz.
O nativo lembrou-se então de um antigo feitiço ensinado pelo pajé de sua tribo, que seria capaz de reconstruir objetos danificados. Seguiu todos os passos da receita, mas a magia deu chabu: em vez de reconstruir o objeto, o ritual apenas transformou o material: a roda de bronze virou prata.
Segundo um especialista em feitiços, o ingrediente “ar” teria sido contaminado por monóxido de carbono, dióxido de enxofre, chumbo, partículas em suspensão e dióxido de carbono.
O Departamento de Defesa dos Motores também nega essa acusação e afirma que já está desenvolvendo fantasias tecnológicas para que ninguém mais acredite em bobagens como poluição, mudanças climáticas, desintegração do tecido social, abandono do espaço público, confinamento de idosos e cadeirantes ou que os veículos motorizados representem algum perigo para as crianças.
O índio segue alerta com seu artefato de prata em mãos, escondido em alguma pedra da cidade e pronto para conter as novas investidas do general Pizarro.
A população paulistana, que aplaudiu as bicicletas de prata e de bronze, agora espera que a Profecia da Bicicleta de Ouro se torne realidade.
Segundo uma lenda nativa, um animal de ouro cairia do céu e, depois de transformar suas asas em rodas, sinalizaria aos habitantes da cidade que a tirania monoteísta do Deus Carro estaria perto do fim, trazendo de volta entidades místicas como o Bonde, o Ônibus de Qualidade, a Rede de Trilhos, as Calçadas Decentes, as Praças sem Cercas e Com Bancos, o Respeito aos Ciclistas, os Espaços Públicos Para a Convivência e até as quase extintas Faixas de Pedestres.
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* A assessoria de imprensa do Departamento de Defesa dos Motores informou que o deslize com o nome de Francisco de Miranda (citado na nota do Diário Videoficial como “Francisco Miranda”) não representa tática de desinformação ou tentativa de colonização da informação disponível na internet, mas apenas um pequeno erro de fabricação que só afeta as notícias com os números de série entre 0059357/08 e 1358187/08. O órgão informa também que já providenciou o recall do estagiário defeituoso.
O Departamento de Promoção da Guerra da Segregação e da Caretice informou que age com a mesma presteza a qualquer reclamação ou denúncia de degradação do do espaço público, seja ela veiculada em horário nobre ou não. Qualquer plebeu também pode solicitar pinturas de faixas de pedestres, ciclofaixas, remoção ou autuação de automóveis estacionados sobre a calçada, instalação de bicicletários, conservação de calçadas e pontos de ônibus, remoção de lixo, podas de árvore ou retirada de correntes que ameaçam monumentos através do Serviço de Atendimento aos Colonos.
Curitiba: ciclofaixa não pode, propaganda pode
Vídeo: when seattle critical mass turns violent and the local media screw up the story
Última sexta-feira de 2009, última bicicletada do ano em São Paulo.
Em tempo: até a noite de segunda-feira (29), Francisco de Miranda, o mais novo ciclista de São Paulo, continuava orgulhoso com seu presente de natal entre as pernas.
A mídia terrorista noticiou o assunto e, como no ano passado, expressou seu desejo de território limpo para os seus anúncios de final de ano.
O veículo de desinformação, é claro, não mencionou o nome correto do espaço. Tá certo, era querer demais, já que até os órgãos oficiais continuam ignorando a existência da única Praça do Ciclista de São Paulo, batizada pela população e oficializada por uma lei.
Além disso, a utilização de nomes pela emissora dos Kane não segue nenhum padrão jornalístico.
Quando relata denúncias de superfaturamento da avenida Roberto Marinho, a emissora utiliza o nome antigo, Águas Espraiadas.
No Rio de Janeiro, a empresa se antecipou à História e conseguiu impedir que outra obra suspeita fosse batizada com o nome do patriarca. Para evitar o mesmo destino da Águas Espraiadas, a Cidade da Música Roberto Marinho virou apenas “Cidade da Música”.
carlos alkmin – fotos
luddista – fotos
mídia terrorista – nota em vídeo
rafael rodolfo – vídeo
uol – sexta não é terça, ferro não é bronze
São os mimados da família.
São glutões, devoram petróleo, gás, milho, cana-de-açúcar e o que vier.
São donos do tempo humano, dedicado a banhá-los, a dar-lhes comida e abrigo, a falar deles e para eles abrir caminho.
Reproduzem-se mais do que nós, e já são dez vezes mais numerosos do que há meio século.
Matam mais gente que as guerras, mas ninguém denuncia seus assassinatos, e menos ainda os jornais e canais de televisão que vivem de sua publicidade.
Nos roubam as ruas, nos roubam o ar.
E dão risada quando nos escutam dizer: eu sei dirigir.
(Eduardo Galeano – Adivinhança, em “Os Espelhos”)
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flobot – “handlebars”, descoberto no submedia
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