A gente quer inteiro, e não pela metade: a ciclovia de lazer da Marginal Pinheiros

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Na próxima quarta-feira (14), uma comissão de sete ciclistas estará reunida com representantes do Governo do Estado e da Prefeitura de São Paulo para discutir a criação de uma ciclovia nas margens do rio Pinheiros.

O “projeto conceitual” foi apresentado no último dia 05, em um reunião com mais de 50 ciclistas que teve a presença do Chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes, dos secretários municipais Eduardo Jorge (Verde e Meio Ambiente) e Walter Feldman (Esportes), além do arquiteto Ruy Ohtake e de Stella Goldenstein (Secretária Adjunta do Governo do Estado) [veja o vídeo da apresentação na íntegra aqui]

Uma ciclovia nas margens do rio Pinheiros é uma ideia antiga: pelo menos dois outros projetos já haviam sido concebidos e apresentados por arquitetos e urbanistas ao longo da última década. Um deles pode ser conferido nesta postagem do Ecologia Urbana ou no vídeo de Renata Falzoni.

O projeto atual está sendo desenvolvido pelo arquiteto Ruy Ohtake, contratado pela Associação Águas Claras do Rio Pinheiros. Não houve licitação e não há nenhum registro na internet sobre tal associação.

A lei de licitações, no entanto, foi a justificativa apontada pelos representantes dos governos para que não exista prazo para a conclusão de toda a obra (que iria do Parque Villa Lobos até o Autódromo de Interlagos). Assim como a ciclovia da Radial Leste, que permanece incompleta 13 meses depois de inaugurada, esta também deverá ser entregue “em etapas”.

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foto: ciclobr

A primeira etapa ligará apenas a usina de Traição (estação Vila Olímpia da CPTM) às proximidades do Autódromo de Interlagos, em um terreno já asfaltado e pertencente à CPTM. Terá apenas um acesso em cada ponta e outro no meio dos 14km prometidos. Um estacionamento (!!) também está planejado.

Este primeiro trecho deve ficar pronto até o início de fevereiro de 2010, período farto de inaugurações no ano eleitoral. Além da Ciclovia de Lazer do Pinheiros, as seis novas pistas para carros na Nova Marginal do Tietê também ficarão prontas nesta época. Já o Parque Várzeas do Tietê, as calçadas permeáveis e outros “detalhes” do Tietê, assim como a conclusão da ciclovia do Pinheiros, ficam para depois.

Se o projeto seguir o rumo delineado na primeira reunião, não há dúvidas de que esta ciclovia, quando inaugurada, não terá nenhuma finalidade de transporte para quem anda de bicicleta em São Paulo, devendo permanecer ociosa durante cinco dias da semana.

Para que a ciclovia sirva ao transporte, deve estar integrada à cidade. Bicicletas não são trens que seguem uma linha reta de um ponto até o outro. Bicicletas, como carros e pedestres, circulam por toda a cidade. Infelizmente, entre a margem do rio e a “cidade” existem de seis a oito pistas de alta velocidade para veículos motorizados.

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obstáculo entre o rio e a cidade / foto: cc Paulo Fehlauer

A única forma de integrar a futura ciclovia à malha urbana é construir acessos elevados até as pontes existentes ou construir pontes exclusivas para bicicletas em intervalos regulares, “desembarcando” o ciclista que vem da ciclovia em ruas minimamente adequadas (locais de baixa velocidade motorizada ou ruas com ciclovias e ciclofaixas). Para integrar a futura ciclovia às pontes existentes, é necessário adapta-las às para o fluxo cicloviário e, para isso, é necessário uma participação efetiva da Prefeitura (responsável pelas pontes). A Secretaria de Transportes do município, no entanto, não apareceu na apresentação do projeto.

A ideia de resgatar as margens do Pinheiros com a construção de um grande parque linear, cortado por uma ciclovia com acessos em cada ponte que atravessa o Rio é fabulosa. O rio como eixo estruturador da metrópole e como espaço de convivência é um sonho de todo paulistano.

Durante a reunião, os representantes do governo afirmaram que “esta ciclovia vai sair, porque o governador quer”. A frase é assustadora. Vontades de ocupantes de cargos públicos não podem determinar os rumos de uma cidade. Para isso existem as políticas públicas, construídas pelo conjunto de suas sociedades e representantes.

Uma das políticas públicas que define os rumos das cidades é o Plano Diretor. De acordo com a lei em vigor, a cidade de São Paulo já deveria ter 275km de ciclovias (em 2006) e estaria rumando para os 367km, que deveriam estar prontas até 2012.

Nada foi feito. E se somarmos a movimentação pela chamada “revisão” do Plano Diretor com o projeto inicial da ciclovia da Marginal, a sensação que fica é de uma corrida desesperada para que, no ano eleitoral, a cidade tenha algumas dezenas de quilômetros de estrutura cicloviária. Assim os  governantes de hoje, que serão os candidatos de amanhã, podem dizer “estamos fazendo”.

Ciclovias de lazer é o nosso carma – Renata Falzoni
vídeo da reunião sobre a ciclovia da Marginal Pinheiros – Aline Cavalcante
Ciclovia da Marginal Pinheiros, finalmente – CicloBR
Como foi a reunião sobre a ciclovia da Marginal Pinheiros – Vá de Bike
Vídeo sobre o antigo projeto de ciclovia na Marginal – Renata Falzoni
Proposta de ciclovia na Marginal Pinheiros – Ecologia Urbana
Ciclovia na Marginal: “esqueceram do peão de bicicleta” – Milton Jung
Panis et Circenses – Ciclovia da Marginal Pinheiros deve sair do papel – Renata Falzoni
E o rio Pinheiros continua sendo – blog Transporte Ativo
… e as falsas manchetes:
Ciclovia na Marginal vai ficar pronta em Fevereiro – Destak
Marginal Pinheiros terá ciclovia em quatro meses, afirma CPTM – Folha

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