Caro senhor,
nos encontramos esta tarde na Avenida Bedford. Eu era a pequena garota morena de roupa branca, pedalando uma bicicleta vermelha debaixo da chuva. Você era o senhor que dirigia um SUV azul, que chegou buzinando e encostou na minha roda traseira e que tentou me jogar para fora da ciclofaixa antes de me dar uma fechada e me empurrar para a calçada.
Você se recusou a abrir o vidro depois deste incidente e me deixou sozinha gritando “Isto é contra a lei” antes de continuar o seu caminho para casa. E ainda que isso seja mesmo contra a lei – tanto as leis que valem na cidade de Nova Iorque, quanto as que governam a convivência humana – o que eu realmente queria dizer a você era, ao mesmo tempo, menos acusatório e mais importante.
Eu sei que ciclofaixas não são uma maravilha. Você provavelmente não acredita nisso, mas os ciclistas não gostam de pedalar perto de você, da mesma forma que você não gosta de compartilhar a rua conosco. Se eu pudesse escolher entre inalar a poluição do seu carro ou pedalar em uma ciclovia cercada de árvores, eu certamente escolheria a segunda opção.
Eu também sei que a presença de ciclistas em ruas congestionadas faz com que seja ainda mais desesperador que o normal dirigir na cidade, e que alguns de nós ridicularizam vocês, desobedecendo leis de trânsito ou agindo como se nós fossemos os donos da rua (eu não sou uma dessas, mas esse não é o ponto). E eu entendo perfeitamente que, nesse momento, o sangue de vocês sobe ao avistar uma bicicleta com a qual serão obrigados a compartilhar a rua. Eu enfatizo: eu tenho um carro. É uma merda. Eu sei.
Ainda assim, não podemos todos nos mudar para Amsterdã, e as frustrações sobre o compartilhamento da rua não mudam os fatos: você está em um carro, e eu não. Você está protegido por airbags, para-choques e uma gaiola de aço; eu não estou. Você está pilotando uma tonelada de aço; eu estou pilotando algo que pesa tanto quanto um cachorro pequeno.
Se as suas frustrações de compartilhar a rua te levarem a brigar comigo, senhor, não tenha dúvidas de que você vencerá.
Você vencerá…. E eu estarei morta.
Era isso que eu queria dizer: você pode não gostar de ciclistas, e tudo bem. Mas você tem uma responsabilidade com a raça humana, e eu não deixo de existir quando subo em minha bicicleta. Eu sou a esposa de alguém, a irmã de alguém, a filha de alguém.
E se você tem uma dessas pessoas – uma esposa, uma irmã, uma filha – faça-me esse favor: pense nelas. Pense em quando você encontra a sua esposa para o almoço; imagine você esperando a sua filha voltar para casa da escola.
Agora imagine receber uma ligação, escutando uma voz do outro lado dizendo que essa pessoa – a pessoa que você ama – está morta, porque um idiota qualquer em um Audi pensou que a vida dela era menos importante do que esperar cinco segundos a mais.
Este foi um anúncio público do Departamento de Por Favor Não Mate Outros Seres Humanos.
(tradução livre de carta publicada aqui)
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