As ruas para as pessoas de Portland acontecem em diversos locais da cidade, várias vezes ao ano.
Os moradores se reunem para pintar rotatórias “acalma-trânsito”, promover festivais e celebrações, dar rolês de bicicleta em grupo ou simplesmente aproveitar uma praça em uma tarde qualquer, fazendo com que os espaços urbanos se tornem também humanos.
A Davis Street é um destes espaços onde o fluxo motorizado é interrompido para que as pessoas possam conviver. Projeto oficial, recebeu adaptações de “traffic calming”, paisagismo e mobiliário urbano.
No quarto dia de conferência em Portland, um baile de rua aconteceu no local. Perdi a dança, mas ganhei boas conversas e bons amigos na cerveja de fim de dia.
Mais tarde, os amigos e as cervejas fizeram o próprio baile nos últimos instantes da Davis aberta para as pessoas (e fechada para os carros).
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A rua fica no começo da Chinatown local, entrada de um dos focos de “revitalização” na cidade, área onde antigos galpões e prédios “degradados” se transformam em “lofts” e comércios modernos.
Ao Norte da Davis fica a estação de trem, outro vértice do triângulo revitalizatório na cidade.
No caminho entre uma e outra, boa parte das calçadas acabou de ser reformada com cores e estruturas de traffic calming e acessibilidade total.
Não muito longe da estação, um grande Minhocão delimita mais uma borda do “ex-centro-barra pesada” de lá.
Apesar da cidade ter conseguido barrar algumas iniciativas rodoviaristas ao longo das últimas décadas, a paísagem é marcada por viadutos, “highways” e “freeways” como qualquer outra cidade dos EUA.
a morte de um calçadão – são paulo, janeiro de 2005
O triângulo “viaduto, estação de trem e chinatown” é bastante familiar ao paulistano.
Processos de “revitalização” de áreas urbanas são inerentes às disputas que acontecem no interior das cidades contemporâneas, deixando muitas vezes impactos visíveis em seus territórios e populações.
Gentrificação e encarecimento de moradias e serviços na região “revitalizada” são parte dessa história, removendo direta ou indiretamente uma parte da população que antes utilizava ou morava naqueles espaços.
Portland está em uma região rica, politicamente progressista, não muito populosa e extremamente “verde” no país do capitalismo em abundância.
Mesmo com alguns pequenos surtos higienistas, a saída de pessoas da região especulativa de Portland não se parece nem de longe com um filme de bang-bang à italiana.
Miséria, abusos de autoridades, presença endêmica das máfias público-privadas, situações extremas de vidas colocadas em risco e outras violências físicas, psicológicas e econômicas não são tão comuns aos gentrificados do Oregon.
Uma sociedade civil minimamente consolidada, que ocupa os espaços públicos, sejam eles institucionais ou concretos, consegue ainda impulsionar a transparência e a busca de um “bem comum” nas ações, políticas e negócios dos governos.
foto: NeiTech – portland streetcar set
Com isso, os habitantes e empresas locais começam a consolidar formas realmente mais sustentáveis e menos desiguais de produção e comércio.
O “capitalismo verde” de lá se faz visível na quantidade de lojas e serviços em sistema de cooperativa, na abundância de práticas ecológicas de produção e venda de alimentos e produtos, no estímulo ao comércio local e justo e até na política de transportes para a área do hype imobiliário central.
A Streetcar Inc é “parceira na revitalização”. Está gastando seu dinheiro instalando bondes nas ruas do bairro. Ganhou autorização municipal para explorar o serviço e vai ganhar dinheiro transportando os passageiros.
Enquanto os bondes são resgatados em mais de 40 cidades dos EUA, São Paulo promete para este mês o edital para a construção três garagens no centro, totalizando 1290 vagas para automóveis.
A “revitalização motorizada” dos subterrâneos é projeto antigo em São Paulo. Tem custo estimado atualmente em R$ 20 milhões, valor que a iniciativa privada local não estaria interessada em desembolsar para bancar as obras, mesmo com o direito de explorar as garagens por 30 anos.
As iniciativas de renovação ou requalificação urbana podem servir tanto para garantir o acesso à cidade e a diversidade de riquezas, raças, credos e visões políticas, quanto para estimular a formação e a militarização de guetos.
Em outras palavras, cabe às populações e governos escolherem se a “revitalização” terá como a objetivo a construção de cidades para todas as pessoas, ou se servirá apenas para dar mais vida a alguns bolsos.
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