Seres humanos não precisam obedecer mãos de direção para se locomover. Não existem calçadas exclusivas para ida e outras para a volta, nem trilhas de mão única. Um esbarrão em outro pedestre não representa grande transtorno, nem tampouco resulta em ferimentos graves. No máximo, um xingamento.
Já os veículos, em especial os motorizados, representam perigo: são mais pesados e mais velozes que os homens. Por isso são submetidos a regras de circulação. Bicicletas, automóveis, caminhões, motos e ônibus devem obedecer o sentido designado para uma determinada via.
Afinal, qualquer choque envolvendo um veículo tem grande chance de resultar em ferimentos graves ou em um grande aborrecimento. Se um dos veículos for motorizado, a chance de morte aumenta e o aborrecimento pode virar um grande prejuízo ou uma discussão agressiva.
A praça em questão ligava o calçadão da XV de Novembro a rua Boa Vista. Era um espaço destinado aos pedestres, que não precisavam se preocupar com máquinas, fumaça ou buzinas. No máximo eram obrigados a desviar de uma barraca de camelô ou de outro pedestre. E foi exatamente para tirar os camelôs e adequar a região aos hábitos e vícios de 30% da população que o calçadão foi extinto.
Em agosto de 2005 um jornal paulistano chamou o fechamento dos calçadões de “traffic calming”. “Já é assim em países como Itália e Inglaterra, e em Estados americanos, como a Califórnia. O conceito é o do chamado traffic calming. Os motoristas sentem que estão transitando por um lugar no qual a prioridade é do pedestre. Vão devagar, com cuidado – pelo menos é assim no exterior. A velocidade prevista para São Paulo é de 10 a 15 quilômetros por hora.”, dizia a reportagem.
“Traffic calming”, na tradução do inglês, quer dizer “acalmar o trânsito”. O que foi feito nos calçadões paulistanos é exatamente o oposto, ou seja, a implantação do perigoso tráfego de veículos motorizados.
As ações de “traffic calming” são adotadas em locais onde já existe trânsito de veículos para torná-lo mais ameno, não em calçadões ou praças que, por definição, não hospedam máquinas de locomoção.
A ocupação dos calçadões pelos automóveis não é novidade. Antes do fechamento, as máquinas já eram vistas em circulação e estacionadas na região proibida para carros.
A velocidade era baixa, como os 10 ou 15km/h previstos na reportagem de 2005. O limite atual foi estabelecido em 20km/h e os carros, exceto os oficiais ou policiais, continuam a circular devagar.
Um domingo, fevereiro de 2005, rua XV de Novembro.
Na esquina, o prédio da Secretaria Municipal de Transportes.
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