Quando acaba a crise?

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Pouco tempo depois do ex-deputado Roberto Jefferson lançar o “escândalo do mensalão”, o ex-humorista Jô Soares pegou carona na onda e passou a discutir os rumos do país, mais especificamente “a crise política”.

Para acompanhar a produção de notícias, factóides e relatórios do expediente parlamentar, o ex-humorista escolheu a quarta-feira para o seu debate. Nos outros dias da semana ele continua sua rotina de “entrevistas”, geralmente dedicadas à auto-promoção e promoção dos interessados na cota de fama e de marketing na vitrine do Brasil (afinal, “a gente se vê por aqui”).

Será que Jô Soares, que se mostra escandalizado com a política, vai suspender suas longas férias de verão para discutir “a crise” entre o natal e o carnaval? Os parlamentares já decidiram: em troca de alguns milhares de reais a mais no salário, irão trabalhar no período de férias escolares. A presença não é obrigatória e as faltas não serão descontadas: vai quem quer aparecer na TV ou descolar alguns trocados para emendas e projetos.

Até o dia 16 de janeiro não haverá votação de projetos: apenas as CPIs, o Conselho de Ética e a Comi$$ão do Orçamento irão funcionar. Jô Soares deve sair de férias antes do apagar dos holofotes da crise. Como a memória é curta neste país, no ano que vem ele volta e nem precisa explicar porque parou de discutir política às quartas.

No mais, o ano de 2006 tá do jeito que Roberto Marinho e o Diabo gostam. No ano eleitoral, a Globo exibe logo em janeiro uma minissérie sobre Juscelino Kubitchek (aquele que condicionou o desenvolvimento do país à indústria automobilística estrangeira). Logo depois, é carnaval. Em seguida, o delírio patriótico da Copa do Mundo. A diferença na abordagem de assuntos tão diversos pela mídia é praticamente nula: tudo é marketing, tudo é hype, tudo é passageiro e efêmero, servindo apenas para vender, escandalizar ou manipular corações e mentes.

Sobre Copa do Mundo, fica um trecho da excelente entrevista Mino Carta à revista Caros Amigos deste mês: “Eu torço desesperadamente contra a seleção brasileira de futebol (…). Eu não entendo porque torcer a favor. Ela (…) faz muito mal ao povo brasileiro. (…) Essa gente deveria fazer é a revolução, mas não vão fazer nunca. Aliás, o Marx e até o Tocqueville diziam a mesma coisa: ‘Não espere que povos apáticos, os povos da miséria verdadeira e total façam a revolução. A revolução quem a faz são aqueles que percebem que lhes cabe um quinhão, um pedaço do latifúndio e estão dispostos a brigar por isso’.”.

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