Bicicletada junina – a quadrilha da paz

arte: cibol e lulu

Junho chegou e nos trouxe mais uma Bicicletada. A Massa Crítica Paulistana convida as pessoas a ocuparem o espaço público de uma maneira muito mais inteligente, do que simplesmente ficarem escravas de suas propriedades privadas moveis de uma tonelada.

Dessa vez com muitas roupas, pessoas em seus veículos não-motorizados irão comemorar de uma maneira pra lá de tradicional uma das maiores festas populares do Brasil.

Você aí parado, saia dessa prisão e venha dividir seu espaço com pessoas, verá que a vida é muito mais divertida e interessante aqui fora. Aqui você sempre será bem vindo, não importa o valor do seu carro ou a grife da sua cueca. Coloque seu chapéu de palha e venha a caráter.

A Bicicletada (Critical Mass) Paulistana acontece sempre na última sexta feira do mês há mais de 5 anos, e em mais de 400 cidades em todo mundo. Para participar, a única obrigatoriedade é comparecer ao ponto de encontro com um meio de transporte não motorizado. Pode ser Bicicleta, Patins, Skate ou até mesmo com seus próprios pés.

Não tem bicicleta ou não sabe pedalar, sem problemas. Apareça o quanto antes na praça e veja como fazer para pegar uma bicicleta emprestada, ou mesmo fique na Praça para o nosso Arraiar, a concentração é a partir das 18:00.

As 20:00 começa o pedal lúdico-educativo, retornando a praça para a continuação da “Festa do Interior” em plena Avenida Paulista.

Em caso de chuva o evento está automaticamente CONFIRMADO, já que não teremos fogueira, pois essa coisa de emitir poluição deixaremos para os veículo motorizados.

.::. Bicicletada .::. Massa Crítica em São Paulo .::.
:. sexta-feira (27/06)
:. concentração lúdico-educativa: 18h
: . Massa Crítica para humanizar o trânsito: 20h00
:. Praça do Ciclista: av. Paulista, alt. do 2440 (mapa)

cartaz de divulgação em alta resolução

Sara’s garden

Sara Stout organizou a mostra de cartões postais durante a conferência Towards Carfree Cities. Artista e ciclista, é uma das poucas pessoas que conheci em Portland que tem um carro. Aliás, Sara tem dois carros.

Um funciona como depósito…

… e o outro como escritório. Explica-se: de dentro do carro azul ela consegue sinal de internet compartilhada por um vizinho.

O escritório de Sara fica em um prédio histórico, tombado pela natureza.

Para se deslocar pela cidade, Sara usa bicicletas. Tem várias, incluindo um triciclo e uma bicicleta de carga.

Ciclozine, número 1

Saindo do forno: ciclozine número 1

e veja também o número 0

Portland não tem ciclovias

Pois é, é isso mesmo: uma das melhores cidades das Américas para se locomover de bicicleta tem apenas alguns poucos quilômetros de ciclovias.

Ciclovias são espaços segregados fisicamente para o trânsito de ciclistas. No Brasil, o total desconhecimento de qualquer tipo de planejamento urbano que não o voltado para o automóvel faz com que o trânsito seguro de bicicletas seja diretamente associado à construção de vias separadas dos carros.

Portland não tem ciclovias. Mas tem uma extensa malha cicloviária cobrindo quase toda a cidade e uma série de políticas urbanas que tornam o trânsito de bicicletas bastante seguro.

As ciclovias existem apenas nos locais mais perigosos, como as pontes que atravessam o rio Willamette. Aliás, todas as pontes possuem espaços seguros para a travessia de pedestres e ciclistas.

Nas ruas mais movimentadas, a estrutura cicloviária consiste apenas em faixas pintadas no chão. Não é preciso dizer que elas são respeitadas pelos motorizados.

Nos bairros residenciais, apenas uma pequena bicicleta pintada no chão indica as rotas para ciclistas. Placas indicando os caminhos onde o trânsito é mais tranqüilo também estão espalhadas pela cidade.

As ciclofaixas e as rotas para ciclistas são possíveis também porque a cidade vem proibindo gradativamente o estacionamento de veículos em vias públicos. É raro encontrar uma rua movimentada onde o estacionamento de veículos seja livre e gratuito como em São Paulo.

Mesmo assim, estamos na “América”, país que adora SUVs e outros monstros que consomem muito combustível e espaço (falaremos deste assunto em breve). Os estacionamentos privados estão por todo lado, tornando a cidade espalhada.

Durante a conferência Towards Carfree Cities, o assunto das vias segregadas ganhou destaque nas falas de Andy Clarke (diretor da Liga Americana de Ciclistas) e Gil Peñalosa (consultor cicloviario, irmão de Henirque Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá).

Clarke afirmou que a League of American Bicyclists considera Portland a melhor cidade para o uso de bicicletas dos EUA. Penñalosa, por sua vez, disse que a cidade não deveria mais “competir” com as cidades estadunidenses, mas sim com as capitais mundiais da bicicleta, como Copenhagem ou Amsterdã.

Peñalosa destacou a importância das vias segregadas: “A idéia é que as cidades estejam preparadas para que crianças e idosos possam pedalar sem riscos e isso só é possível com algum tipo de segregação em alguns espaços. Carros são perigosos e o seu filho de 8 anos deve ter o direito de ir para a escola de bicicleta sem correr o risco de ser atropelado”.

Um passo depois do outro. Talvez Portland ainda seja uma cidade excludente para ciclistas de oito anos de idade. Mas certamente conseguiu criar um sistema cicloviário de dar inveja a boa parte do mundo, gastando pouco dinheiro com a pintura das suas ciclofaixas, ao contrário das cidades que continuam insistindo apenas na construção das caras vias segregadas em canteiros centrais de avenidas sem se preocupar com educação ou punição daqueles que colocam em risco a vida dos outros nas ruas.

Sexta junina em Aracaju

mais informações: ciclo urbano

E a massa se espalha

A próxima sexta-feira (27), é a última do mês de junho. Dia mundial de reocupação dos espaços públicos perdidos para o automóvel.

No Brasil, cidadãos de mais um canto do país tomam as ruas para celebrar a convivência entre as pessoas. Em Maceió, a partir das 18h, acontece a primeira Bicicletada local.

Pelas bandas do Tio Sam, a vida segue agitada. A conferência da World Carfree Network acbou ontem, mas as dezenas de atividades do Pedalpalooza seguem movimentado a cidade. Na noite de ontem, o “Pedal do Solstício” reuniu mais de 300 pessoas para celebrar a chegada do verão no hemisfério norte.

Ainda não consegui escrever nem postar as fotos de Porland. Afinal, o sol está brilhando lá fora e as bicicletas estão em todos os lugares. Com o fim da conferência vai ficar mais fácil escrever e mostrar um pouco do que rolou por aqui na última semana.

Quarta-feira que vem, sigo para São Francisco. Visitar amigos, conhecer a cidade e participar da Massa Crítica de lá. Aliás, o debate sobre “a batalha de São Francisco” durante a conferência foi sensacional. Chris Carlsson escreveu um pouco no seu Nowtopian.

Eram muitos os pelados

foto: polly

Declaração dos participantes da I Pedalada Pelada de São Paulo

Motivações

A I Pedalada Pelada de São Paulo, ou World Naked Bike Ride (WNBR), ocorreu no dia 14 de junho de 2008. Esta foi a primeira edição do evento realizada no Brasil, nos mesmos moldes das ações que acontecem em diversas cidades do mundo com o apoio da população em geral e do poder público.

Nus é como nos sentimos por ter que disputar espaço nas ruas de São Paulo, em meio à violência gerada pelo stress dos motoristas parados em congestionamentos, confinados em máquinas poluentes de vidros escuros. Diariamente essa situação coloca em risco a vida de ciclistas, de pedestres e até de outros motoristas.

Pelados, os ciclistas pretendem chamar a atenção para a exposição indecente à poluição dos carros, para a morte dos espaços públicos tomados por esses veículos e principalmente, para sua fragilidade diante das poderosas máquinas motorizadas, muitas vezes guiadas por pessoas agressivas que não respeitam a bicicleta como o veículo que é, previsto no artigo 96 do Código de Trânsito Brasileiro.

O CTB ainda prevê que, na ausência de local específico para o deslocamento, a bicicleta deve ocupar a faixa da direita da via com preferência sobre os veículos automotores (artigo 58 ) e obriga os veículos a guardarem uma distância lateral de um metro e meio ao ultrapassarem uma bicicleta (artigo 201).

Mas a maioria dos motoristas desconhece ou simplesmente desrespeita essas regras, e se recusa a compartilhar as ruas com os ciclistas. E isto acontece com a conivência do poder público, que não pune as infrações cometidas por esses motoristas contra nós.

Somos constantemente ignorados, somente nus somos vistos?

A concentração na praça e o assédio da mídia

Na Pedalada Pelada cada ciclista poderia participar vestido (ou não) da maneira como se sentisse mais confortável. O lema era “tão nu quanto você ousar”. A nudez nunca foi uma imposição nem uma obrigatoriedade, mas a expectativa gerada durante a semana levou à concentração na Praça do Ciclista um número enorme de curiosos, dezenas de policiais, jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos da grande imprensa.

Mais de quatrocentas pessoas estavam lá para pedalar. Os demais queriam ver e registrar a nudez prometida. Especialmente a nudez feminina. Foi Renata Falzoni, ciclista de longa data e avó, quem ousou primeiro e logo na largada da pedalada ficou completamente nua.

Como ela, outras mulheres tiveram que corajosamente suportar o assédio invasivo de muitos “jornalistas”, ávidos por erotizar e tornar públicos seus corpos em busca de audiência. As câmeras saltaram sobre elas, acompanhadas muitas vezes por comentários machistas de conotação sexual. Esse comportamento lamentável fez com que muitas deixassem de se despir.

Apesar disso, no meio da confusão, ciclistas pintaram os corpos uns dos outros com tintas coloridas. Frases divertidas ou de protesto, desenhos surgindo na pele, todos se enfeitavam para a pedalada, e para trazer um pouco de alegria para a cidade cinza coberta de asfalto.

Celebração da nudez não sexualizada e não comercializada.
Liberdade de expressão e manifestação.

Iniciada a pedalada na Avenida Paulista, à medida que os ciclistas se distanciavam da praça foram tomando coragem de expor mais seus corpos. Seguindo o lema naturista, puderam celebrar sua nudez não sexualizada e não comercializada, muito diferente da exposição sexual dos corpos padronizados tão comum nas emissoras de TV e revistas.

Centenas de pessoas puderam expor por alguns instantes seus corpos “imperfeitos”, gorduras a mais ou a menos, celulites e estrias livres da ditadura estética vigente que causa distúrbios alimentares, complexos e depressões.

A alegria desse momento foi tão contagiante que provocou aplausos da “platéia”. Pessoas que caminhavam pelas ruas, passavam dentro de ônibus ou automóveis, riam, assobiavam, apontavam a massa de pelados que pedalava. Câmeras e mais câmeras de celulares foram apontadas para a avenida.

E a prova máxima de civilidade foi dada pelos próprios ciclistas nus (ou seminus), que abriram mão de assédios e piadas de mau gosto para compartilhar respeitosamente um momento de pura liberdade de expressão e manifestação.

Criminalização da nudez, neutralização da massa e violência policial

Infelizmente, aprendemos com nossa ação que a nudez que se manifesta livremente a favor da vida é criminalizada, enquanto a nudez explorada, sexualizada e comercializada nos carnavais, novelas e revistas é permitida.

Durante o trajeto, um comandante da polícia militar deixou claro a quem ele pensou ser o organizador da ação, que o nu frontal não seria tolerado, somente corpos pintados como no carnaval. Apesar das dezenas de ciclistas completamente nus, André Pasqualini acabou sendo escolhido como o “bode expiatório” e foi levado nu para a delegacia, como forma de neutralizar nossa ação.

Alguns ciclistas tentaram se manifestar contra a prisão e foram agredidos com pontapés e gás de pimenta, como mostra diversas fotos e vídeos publicados pela grande mídia (matéria no Estadão) e pela mídia independente. Como sempre é feito em manifestações ciclo ativistas, os ciclistas ergueram suas bicicletas no ar. Foram absurdamente acusados de usá-las como arma.

O comandante da operação declarou diante das câmeras que fez o que estava planejado, prendeu o “líder” da ação para acabar com a manifestação. A lógica estava errada, já que não existem líderes ou organizadores da Pedalada dos Pelados, mas a tática deu certo, porque seja lá quem tivesse sido detido, nós não deixaríamos de apoiá-lo.

Com a prisão de um dos seus participantes, a massa perdeu um pouco em alegria e parte dela seguiu escoltada pela CET rumo ao 78º DP na Rua Estados Unidos. A festa continuou ali, aos gritos de “Ô seu delegado, libera o pelado!”.

A massa segue feliz e orgulhosa

Confirmado que o participante preso seria liberado, a massa seguiu de volta a Praça do Ciclista. Cruzou a Oscar Freire e subiu a Rua Augusta em ritmo de festa, feliz e orgulhosa, humanizando o engarrafamento de quem descia num coro bem-humorado de “Não fique aí parado! Vem pedalar pelado!” ou “Carro parado é coisa do passado! A moda agora é pedalar pelado!”.

A população nas ruas de São Paulo saudou a massa em festa durante todo o trajeto. A cidade, a Avenida Paulista, já acostumadas com a gigantesca parada do Orgulho GLBT, sentiram a alegria de ver o desfile das bicicletas e seus ciclistas nus e seminus, a despeito das leis antiquadas que (ainda) vigoram nesse país.

Mas podem se preparar, a festa será ainda maior em 2009.

Assinado,
Participantes da I Pedalada Pelada de São Paulo 2008

fotos, vídeos e relatos da I Pedalada Pelada de São Paulo

Para servir e proteger

baixaria policial no Naked Ride em São Paulo / André Penner – AP – Estado de SP

Já passava das dez horas da noite do último domingo (15) quando um carro de polícia se aproximou de uma casa em Portland. Sozinha, uma policial desceu da viatura e bateu à porta. Foi recebida pela ciclista Meghan. No dia anterior, Meghan estava entre os 1500 participantes do World Naked Bike Ride na cidade.

A policial entrou, disse boa noite e tomou assento em uma poltrona. Começaram a conversar.

Meghan contou que durante a noite de sábado estava parada (sem roupa) na frente de um SUV branco, fazendo o tradicional “corking” (bloqueio do tráfego) para a massa de ciclistas passar quando o motorista, impaciente depois de três ciclos inteiros de semáforo, resolveu avançar com o carro. Seus gritos de “o que você está fazendo? vai me atropelar!” não fizeram o motorista recuar.

Mesmo devagar, o SUV branco avançou para cima da ciclista nua, que foi retirada da frente do carro por alguns amigos. Ela sofreu apenas dois pequenos hematomas na perna e teve o quadro de sua bicicleta amassado pelo carro. Por isso resolveu ligar para a polícia no dia seguinte.

Em quase uma hora de conversa, a policial perguntou todos os detalhes do ocorrido e recomendou que Meghan tirasse fotos dos hematomas para anexar ao inquérito.

Meghan contou ainda que depois do incidente ouviu alguns ciclistas dando tapas no capô do carro e também o barulho de um farol quebrado, provavelmente por uma trava de bicicleta de algum ciclista revoltado com a cena. Ao final da conversa, Meghan perguntou à policial se o fato de estar bloqueando o tráfego de um carro no sinal verde representava algum problema ou poderia ser usado contra ela.

A policial explicou: “De jeito nenhum. É como laranjas e maçãs. Se estivessemos no local, poderíamos ter impedido você de bloquear o tráfego ou até proibido a pedalada por não ter autorização. Mas o que estou investigando aqui não é isso. Não se trata de uma possível infração que você estaria cometendo ao bloquear a passagem do carro no sinal verde, muito menos a contravenção que você pode ter praticado por estar nua. Trata-se de um atentado à vida praticado pelo motorista, que avançou com seu carro para cima de um ser humano. Esse é o objeto da minha investigação. Além do que, estamos em Portland e sabemos como as coisas funcionam aqui: existem muitas pedaladas que não têm autorização e isso nunca foi um problema para nós. Sabemos como é importante valorizar o uso de bicicletas.”

Bikeland – EUA

Se Portland é a capital estadunidense da bicicleta, Junho é o mês da bicicleta em Portland. Além da conferência da World Carfree Network, que acontece pela primeira vez na cidade, uma série de eventos, encontros e outras maluquices de gente legal acontece por aqui durante este mês.

No sábado, antes da Naked Bike Ride, uma parada de bicicletas tomou conta da Mississipi Avenue. Depois da parada, shows, música, teatro, celebração e uma prova de velocidade mostraram que, ao menos por aqui, as várias “turmas” da bicicleta adoram ocupar as ruas para festejar juntos.

As meninas de rosa são do grupo Sprockettes. Cultura, ativismo, música, diversão e bicicletas.

Portland ao vivo

Assista agora e durante toda a semana a conferência Towards Carfree Cities.

Visite: http://www.carfreeportland.org/live.html