Por que a massa é crítica?

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Última sexta-feira de Fevereiro, entre 400 e 500 ciclistas presentes na Bicicletada de aniversário da Praça do Ciclista. Massa pelas ruas na noite quente, grafitti em homenagem à ciclista Márcia e valet-parking sustentável na rua que não gosta do trânsporte coletivo.

A Bicicletada é uma utopia no tempo presente, é a subversão dos paradigmas urbanos e humanos vigentes, a afirmação de outras possibilidades de ocupação do espaço público, é o exercício contínuo e rico da vida em coletivo.

Suversão em movimento, a é contestadora pela simples existência. Subverte a idéia de que é “normal” uma cidade matar 10 pessoas gaseificadas todos os dias e outras quatro sob as rodas dos motores, não aceita uma cidade que anda a 22km/h, mas buzina, tira finas e atropela ciclistas porque eles estavam “atrapalham o trânsito”.

A cada mês, esta massa coloca em cheque a visão corrente de que a vida vale menos do que a pressa ou a propriedade, questiona sem discursos a idéia de que é “normal” uma cidade onde as únicas leis de trânsito obedecidas são aquelas que garantem o “bom” fluxo de veículos motorizados, onde o espaço público é reduzido a espaço de passagem para queimar combustível.

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Movimento auto-organizado de ciclistas, a massa-crítica (ou bicicletada) não tem líderes nem organizadores. Cada participante traz visões, comportamentos e experiências distintas. Juntos na massa, compartilham, constroem, erram e aprendem com todas as situações vivenciadas durante aquelas poucas horas.

Depois dos encontros, as alegrias e tensões seguem reverberando nos meios digitais e nas conversas reais, exercitando neurônios, estimulando o pensamento, motivando imagens, pensamentos e sensações ímpares, muito distintas do mundo pré-fabricado, emabalado e pronto para a digestão rápida (e para o câncer, quando acumulada durante muitos anos).

A paz e a convivência pacífica e sustentável são exercícios que dependem de ações, reações e construções. Não são conceitos abstratos ou produtos encontrados no supermercado.

A experiência da massa crítica é ímpar e potente, talvez única. Está sujeita a erros, equívocos e caminhos tortuosos, mas também a alegrias, conquistas e sensações que não podem ser mesuradas pelas formas tradicionais de análise.

Longa vida à massa crítica!

Relatos, fotos e vídeos:
blog.transporte ativo
ciclobr
el diario de notas y fotografias [1], [2], [3], [4], [5]
falanstérios
feliz cidade feliz
fixa sampa
mercado ético
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fotos:
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luddista
luna rosa – [flickr] ou [multiply]
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vídeos:
ciclobr

(mais uma) Triste bicicletada

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foto: Daniel Moura Soares

No último sábado (28), a bicicletada de maceió estava de luto. Em 12 de fevereiro, o ciclista José Carlos Félix Pereira foi assassinado por um ônibus enquanto trafegava na Av. Durval de Góes Monteiro.

A bicicletada de fevereiro na capital alagoana pendurou uma bicicleta fantasma no local do “acidente” (ironicamente, em frente ao IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).

José Carlos usava sua bicicleta como instrumento de trabalho. Equipado com um sistema de som, circulava por Maceió fazendo propaganda do comércio local.

A mídia carrocrata mais uma vez distorceu os fatos, ignorou a lei e culpabilizou a vítima. Como no atropelamento da paulistana Márcia Prado, alegou que José Carlos “fez uma manobra errada”. Em São Paulo, chegou-se a dizer que Márcia perdeu o equilíbrio e só então foi morta pelo ônibus (fato desmentido por testemunhas e não considerado por jornalistas sensatos – a maior parte dos que cobriram a morte da Márcia, diga-se).

O Código de Trânsito Brasileiro, ao prever a distância lateral de 1,5 metros e exigir a redução da velocidade durante a ultrapassagem de ciclistas busca exatamente preservar a vida do “elo mais fraco” em caso de “manobras erradas” (geralmente desviar de buracos, que não são causados pelo fluxo de bicicletas nem de pedestres). Em ambos os casos, é fato que esta distância não foi respeitada e que o motorista não reduziu a velocidade “de maneira compatível com a segurança”

Além disso, em qualquer cidade brasileira é notório que a convivência com os ônibus é a pior possível, o que se torna mais grave quando lembramos que o transporte coletivo é uma responsabilidade do Estado.

No entanto, o modelo de transporte no Brasil é apenas um modelo de negócios baseado no capitalismo selvagem: maximizar os lucros dos donos das empresas, sujeitando motoristas a prazos e condições desumanas, entupindo os coletivos de passageiros, cobrando tarifas extorsivas e sobrepondo rotas nos locais mais ricos das cidades.

Ainda são poucas e pífias as iniciativas de treinamento de motoristas de ônibus para convivência pacífica no trânsito e, em boa parte das cidades, esta responsabilidade é deixada a cargo das próprias empresas, sem nenhuma supervisão ou “interferência” do poder público.

Trocando em miúdos, o poder público brasileiro é menos responsável e gasta menos recursos para zelar pelo direito de ir e vir dos cidadãos do que, por exemplo, para cuidar das regras de consumo de telefones celulares.

Quem já andou de ônibus em São Paulo se lembra do irritante apito que soava quando o motorista “esticava” uma marcha. De pequena importância, mas de forte poder simbólico, o dispositivo servia apenas para salvar dinheiro das empresas em combustível ou manutenção.

José Carlos é mais uma vítima da cultura do motor e da pressa, que coloca o lucro acima da vida. Infelizmente, não será a última.

O jornal
Tudo na hora
GazetaWeb (a mídia motorizada – deixe comentários)

Curtas da carrocracia

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Este carro não terá que passar pela inspeção veicular da Prefeitura, que só irá vistoriar em 2009 os motorizados fabricados entre 2003 e 2008. Os veiculos fabricados antes disso ficam sujeitos à vistoria nas ruas, “através do sensoriamento remoto (aparelho que mede as emissões dos carros em movimento)”.

Dos 6 milhões de motores da capital, 29 fabricados antes de 2003 já foram detectados pelo avançado aparelho e chamados para a vistoria.

O custo da inspeção veicular será pago por todos os contribuintes paulistanos. Uma empresa privada, custeada pelos cofres públicos, irá realizar a vistoria. O dono da lata paga uma taxa, mas apenas os motores reprovados no teste não têm direito ao reembolso.

Alguns poluem, todos pagam.

A carrocracia é injusta.

Não tem nada para fazer às 2 da tarde? Então participe da audiência pública sobre o tema, nesta quarta-feira (04).

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Como muitos estabelecimentos comerciais, o puxadinho motorizado desta badalada padaria no bairro do Sumaré invade a calçada, prejudicando a circulação de pedestres e cadeirantes.

A última vaga da foto tem acesso pela faixa de pedestres (ou será que a culpa é do poste?).

A carrocracia é míope.

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Mesmo proibido por lei, muitos veículos circulam livremente por São Paulo com televisões instaladas no painel do motorista (segundo a lei, elas são permitidas apenas no banco de trás).

Da mesma forma, a maioria dos motoristas que usam burkas têm vidros escurecidos acima do aceitável por lei.

Atire o primeiro comentário quem já viu um motorista ser parado ou autuado por estas duas infrações. Todos circulam livres pela cidade, colocando em risco a vida de pedestres, ciclistas e de outros motoristas.

A carrocracia é perigosa.

Direitos X serviços

Vídeo realizado pela UNB e publicado no blog In transitu, onde você encontra outros dois vídeos sobre a tarifa zero e o direito à mobilidade urbana. Para ver e pensar.

Atualizações técnicas

Durante este fim de semana, algumas atualizações técnicas estão sendo feitas no apocalipse motorizado. A mudança de servidor e o uso do software wordpress em um servidor próprio (em vez do pré-instalado wordpress.com) abre alguns caminhos e possibilidades para o site no futuro.

A primeira é o uso integrado (e bonitinho) do twitter na seção Microblog (veja a coluna da esquerda). Atualizações diferentes e mais frequentes do que as postagens do blog, com links, notícias e textos curtos, que podem ser acompanhadas tanto aqui neste endereço, quanto através do twitter.

Alguns perrengues técnicos surgiram na transição e estão sendo resolvidos.  Então se perceber alguma coisa estranha, algum link quebrado, letra ruim para ler, figuras desformatadas e outras anomalias, por favor deixe um comentário neste post ou entre em contato por email.

Em breve e no tempo possível, um tapa no conteúdo de algumas seções da coluna da esquerda que andam precisando de cuidado.

No momento, tento resolver um problema irritante do Internet Explorer 7, que não carrega o título do primeiro post até que a página seja rolada para baixo. Deve ser o CSS…

De qualquer forma, este e todos os sites serão sempre melhor visualizados em outros navegadores que não o Explorer (exceto os sites que fogem dos padrões da web ao adotar “invenções exclusivas” da Monopolisoft). Firefox e Opera são as opções mais comuns, mais rápidas e seguras ao lixo do tio Bill.

Brasil, fevereiro de 2009

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Bragança, PA

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Brasília, DF

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Campo Grande, MS

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Curitiba, sábado

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Florianópolis, SC

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Guarapuava, PR, voltando às aulas no sábado

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Maceió, sábado, Ghost Bike para José Carlos Félix Pereira

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São José dos Campos, SP

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São Paulo, SP

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Taubaté, SP

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Vitória, ES

outras cidades brasileiras onde a massa também sai às ruas

O melhor instrumento de comunicação e de conscientização que eu jamais gostaria que viesse a existir

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O título é do Mário Amaya, que escreveu um pequeno texto sobre a Ghost Bike instalada na avenida Paulista em homenagem à ciclista Márcia Prado, morta em Janeiro.

A foto acima foi tirada em um domingo de Fevereiro e apenas ilustra o texto do Mário. Ciclistas desconhecidos em lugares conhecidos, lendo, vendo e sentindo o que aconteceu naquela tarde .

Apesar do despertar de consciências trazido pela instalação, a cidade de São Paulo não quer mais bicicletas fantasma.

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De trás para frente V – A comunidade visível

Três carnavais

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Na próxima sexta-feira (27), a Praça do Ciclista faz mais um aniversário, o terceiro de sua curta existência. Como sempre, a data será comemorada com uma bicicletada. A concentração festiva começa às 18h e a massa crítica toma as ruas às 20h.

Ainda que tenha sido batizada, crismada e tenha certidão lavrada em cartório, a Praça do Ciclista segue pagã, ignorada sutilmente pelos barões da paulistania acinzentada.

Filha da alegria e do protesto, não leva em seu nome nenhum sobrenome famoso, não homenageia nem um ex-qualquer-coisa, nem traz estrangeirismos tão bem quistos nas terras dos “Maisons” e “Gardens” feitos de “drywall”.

Como a antiga rodovia dos Trabalhadores, a praça é apenas “do Ciclista”. De qualquer ciclista. De todos os ciclistas.

2006 – Inauguração da Praça do Ciclista
2006 – inauguração da Praça do Ciclista (vídeo)
2007 – 1 ano da Praça do Ciclista
Praça do Ciclista, a mais nova praça da Avenida Paulista
Bicicletada faz festa sem praça
2008 – 2 anos e a festa das celebridades
Praça do Ciclista faz 3o aniversário, mas continua invisível

Sua pressa não vale nada

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arte: carol / co2zero

Crise se escreve com quatro rodas e muito espaço

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arte: Thomas Bayrle, publicada aqui e antes aqui

Autos nuevos que no se han vendidos
Automakers seek $14 billion more, vowing deep cuts