Calçadão do Mosteiro ao Mercado

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Este é o Mosteiro de São Bento, ponto turístico do centro de São Paulo.

Aos domingos, o largo em frente fica cheio de carros estacionados. Pobre turista, que tira foto do Mosteiro e leva pra casa a imagem de um estacionamento.

A Prefeitura anunciou recentemente que pretende abrir calçadão da Florêncio de Abreu (ao lado do mosteiro) para o fluxo de automóveis. Pobres monges, que terão que conviver com poluição e barulho.

A justificativa é a “revitalização do centro”. Acreditam (eles) que ao facilitar o fluxo dos motorizados, a região ganhará mais vida.

Fica a sugestão: em vez de acabar com os calçadões, que tal criar mais áreas livres de carros, afinal o uso indiscriminado do automóvel só gera poluição, barulho e degradação do ambiente urbano.

Imagine que delícia uma caminhada do mosteiro de São Bento até o Mercado Municipal, passando por um enorme calçadão cheio de bancos, cafés, árvores e artistas de rua.

A Florêncio de Abreu tem um patrimônio arquitetônico riquíssimo, casas com mais de um século de vida em ótimo estado de conservação. Algumas, infelizmente, cobertas pela poluição visual de outdoores gigantescos.

Privar o cidadão de contemplar com tranquilidade a história da cidade em detrimento do tráfego motorizado é um crime. Esperamos que ainda reste alguma lucidez aos que administram esta cidade, pois o tempo do “rouba mas faz (viadutos)” já é passado. Ou não?

Panacéia para os infratores

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Que atire a primeira carteira de motorista quem acha que não existe corrupção no Detran.

34a Bicicletada – Estivemos nas ruas

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Na última sexta-feira (24), 11 ciclistas ocuparam as ruas de São Paulo para celebrar o transporte não motorizado. Nossa mensagem estava em panfletos, faixas, nas bicicletas e nas conversas com os motoristas.

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Desta vez tivemos a presença de dois “estrangeiros (de Florianópolis e Araçatuba)” e outros dois novatos na Bicicletada. Bem-vindos!

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Faixa durante a panfletagem.

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A velocidade que mata (só em São Paulo, são 1500 vítimas fatais por ano) e a tranquilidade da bicicleta.

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Confraternização ao final da Bicicletada. Depois da pedalada, a galera foi assistir ao vídeo Sociedade do Automóvel, que em breve estará disponível neste site.

Não se esqueça, é sexta!

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Algumas vítimas

Duas notícias da Folha Online de ontem:
– “dois morrem e três ficam feridos em acidente entre carro e lotação
– em Santo André, 14 pessoas foram atropeladas em um ponto de ônibus por um carro desgovernado.

Destaque para a frase “a motorista do Uno não sofreu nenhum ferimento”.

Ou seja, uma pessoa deixou sequelas graves em outras 14 e não sofreu um arranhão. Isso porque os milhões de dólares investidos em pesquisas de “segurança” pelas indústrias visam apenas a proteção de quem está no interior da jaula móvel (air-bags, cinto, carros que absorvem o impacto). Para quem está do lado fora, os automóveis são máquinas cada vez mais letais devido ao aumento criminoso de sua velocidade ao longo das décadas. E depois chamam isso de “acidente”…

A religião do automóvel e a liturgia do divino motor

(texto de Eduardo Galeano / tradução livre (e meio porca) do original em espanhol)

Ao deus das quatro rodas acontece o mesmo que aos outros deuses: nascem a serviço das pessoas, mágicos conjuros contra o medo e a solidão, mas terminam invariavelmente colocando as pessoas ao seu serviço. A religião do automóvel, com o seu Vaticano nos Estados Unidos, põe o mundo em rodas.

Seis, seis, seis
A imagem do Paraíso é simples: cada norte-americano tem um automóvel e uma arma de fogo. Nos Estados Unidos concentra-se o maior número de automóveis e também o maior arsenal bélico, os dois principais negócios da economia nacional.

Em cada 6 dólares que gasta o cidadão médio norte-americano, um é destinado ao automóvel; de cada seis horas de vida, o mesmo cidadão reserva um hora para viajar de carro ou então a trabalhar para pagar seu veículo; e de cada 6 empregos existentes no “paraíso”, um está direta ou indiretamente relacionado com a violência e as suas indústrias.

Quanto mais gente os automóveis e as armas assassinam, mais o Produto Interno Bruto cresce. Como bem escreve o investigador alemão Winfried Wolf: no nosso tempo, as forças produtivas se transformaram em forças destrutivas.

Talismãs contra a solidão ou convites ao crime? A venda de automóveis é simétrica com a venda de armas, e pode-se afirmar que ambas fazem parte de um todo. A cada ano os acidentes de trânsito matam e ferem mais americanos que todos os soldados norte-americanos mortos e feridos na guerra do Vietnam. A carta de motorista é o único documento necessário para que qualquer cidadão possa comprar uma metralhadora e com ela alvejar a vizinhança.

Nos Estados Unidos a carta de motorista faz as vezes de um documento de identidade. São os automóveis que outorgam identidade às pessoas.

Diz-me que carro tens e direi quem és e quanto vales. Esta civilização que adora os automóveis tem pânico da velhice; o automóvel, promessa da eterna juventude, é realmente o único “corpo” que se pode trocar.

A jaula
A este corpo de quatro rodas é destinada a maior parte de publicidade televisiva, a maior parte das horas de conversa e a maior parte do espaço das cidades. O automóvel dispõe de restaurantes, onde se alimenta de gasolina e óleo; ao seu serviço existem farmácias onde compra remédios, e não lhe faltam hospitais para diagnósticos e curas, quartos onde dorme e cemitérios onde morre.

Os automóveis prometem liberdade às pessoas (não por acaso as auto-estradas se chamam “freeways”), mas na realidade ele funciona como uma jaula móvel.

O tempo de trabalho humano se reduz pouco a pouco, mas em troca, a cada ano aumenta o tempo necessário para ir e vir do trabalho no trânsito caótico. Vive-se dentro dos automóveis e ele não te solta.

“Drive by shootting”: sem sair do automóvel, a toda velocidade, se pode apertar o gatilho e disparar sem mirar, como é moda em Los Angeles. “Drive-thru teller”, “drive in restaurant”, “drive-in movies”: sem saiir do automóvel é possível retirar dinheiro, comer hamburgers e ver filmes. A última novidade é a possibilidade de se casar sem sair do automóvel: é o “drive-marriage”. Em Reno (Nevada), o automóvel entra por debaixo de arcos repletos de flores de plástico, por uma janela aparecem as testemunhas e por outra o padre, que abençoa e declara solenemente como marido e mulher os felizes passageiros. No fim da trajeto, uma funcionária entrega a certidão de casamento.

O automóvel, corpo renovável, tem sempre mais direitos que o corpo humano, condenado à decrepitude. Os Estados Unidos fizeram nos últimos anos uma guerra santa contra o tabaco. Não há publicidade de tabaco que não tenha advertências contra os malefícios para a saúde pública. Todavia, em nenhuma publicidade aos automóveis se adverte que os carros emitem muito substâncias tóxicas do que o cigarro. Ou seja, as pessoas não podem fumar, mas os automóveis podem.

(veja o texto na íntegra clicando aqui)

Sexta: mais uma vez nas ruas

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Na próxima sexta-feira (24.jun) tem Bicicletada em São Paulo.
Como sempre na última sexta do mês, às 18h.
Ponto de encontro: Paulista X Consolação.

Veja os posts anteriores sobre o assunto:
abril: [1], [2] / maio: [3], [4], [5], [6]

A idéia é carbonizar os monges

Construção Catedral Se
Na última sexta-feira (17.jun) os jornais trouxeram o anúncio de que a ameaça era verdadeira: alguns calçadões do centro serão realmente abertos para o fluxo de veículos. Saem as pessoas, entra a poluição, a fumaça, o barulho, os atropelamentos, a fila-dupla, os flanelinhas…

O primeiro calçadão a ser extinto será o da rua Florêncio de Abreu, ao lado do Mosteiro São Bento, cartão postal da cidade. Algo como transformar o Coliseu em estacionamento ou o a Muralha da China em autoestrada.

Segundo o sub-prefeito da Sé, Andrea Matarazzo, a idéia é “oxigenar um pouco as regiões onde você não tem acesso a prédios com vias de circulação local”… Matarazzo, apesar de bom em retórica, não foi bom aluno em química: confundiu oxigênio com monóxido de carbono, metano, enxofre, fuligem e outras substâncias letais. Oxigênio é tudo que deixa de existir quando um automóvel é ligado.

Uma pena que a Prefeitura acredite que “revitalização do centro” significa trazer pessoas com automóveis, quando a experiência mundial já comprovou exatamente o contrário: os automóveis degradam o patrimônio, estrangulam a vida e privatizam os espaços públicos.

Até São Paulo já passou por isso: na foto acima, a Praça da Sé durante a construção da Catedral. Quando a igreja ficou pronta, os administradores decidiram que era melhor remover os carros dali e deixar que a praça fosse ocupada pelas pessoas.

(veja o nosso arquivo ou utilize a busca para encontrar outras matérias sobre os calçadões)

Afinal, quanto custa ter um carro?

:. texto: Inácio Guerberoff (“Na Estrada e ao Vento” – visite!)


Vejamos no meu caso, um cálculo mensal aproximado:

  • Parcela mensal: R$ 500,00
  • Seguro: R$ 2.500,00 por ano, R$ 208,00 por mês (é caro sim, mas era o mais barato. O Porto Seguro custava R$ 4.000,00. Não tenho vaga de garagem, o carro dorme na rua, tive um carro roubado recentemente e tenho 25 anos)
  • IPVA: R$ 600,00 por ano, R$ 50,00 por mês
  • Gasolina: um tanque por mês, uns R$ 80,00
  • Manutenção: tem sido baixa, mas vamos imaginar uns R$ 500,00 por ano (já que é carro novo), o que dá R$ 42,00 por mês
  • Estacionamentos: aqui em São Paulo esse item pesa. Primeiro, o flanelinha. Não adianta, TODAS as vagas têm um flanelinha. Saindo umas 5 vezes por semana, 1 real por cada vez, R$ 20,00 por mês de flanelinha. Mais uns estacionamentos à noite, mais uns R$ 30,00 reais por mês, por baixo. Total, R$ 50,00.
  • Lavagem: vamos ser econômicos: uma por mês, R$ 12,00

Devo ter esquecido de algumas coisas, mas podemos parar por aqui, já é o suficiente. Total? R$ 942,00 por mês. Ok, existe o fator “valor de revenda” do carro. Fazendo outro cálculo aproximado, utilizemos 8% de depreciação anual. Em 4 anos (período de pagamento do financiamento), o carro que valia à vista R$ 20.000,00 passa a valer cerca de R$ 14.300,00. Mas o valor que eu pago é R$ 3.000,00 + 48 x 500,00. Total: R$ 27.000,00. Ou seja, a cada R$ 500,00 que pago no carro, vou conseguir no máximo R$ 264,81 depois dos quatro anos do financiamento. R$ 235,19 são fundo perdido.

Em suma, o gasto mensal efetivo com o carro, supondo que você nunca vá batê-lo, tê-lo roubado ou qualquer outro imprevisto, é de R$ 706,81.

No meu caso, trabalho 44 horas por mês para ter um carro. E o pior: uso pouquíssimo. Durante a semana vou de bicicleta ao trabalho e a boa parte do meu lazer. Se for pensar em usar o carro principalmente nos finais de semana, ele está custando R$ 88,20 por dia. Dá pra ir e voltar do aeroporto de taxi todos os dias.

Meu intuito era aproveitar o carro para viajar. Ok. Com R$ 705,81 por mês posso ir e voltar ao Rio de avião (R$ 95,00 por trecho pela BRA, taxas inclusas) três vezes por mês ou ir a Maceió (R$ 349,00 por trecho na BRA) todo mês. Se quiser ir de ônibus então, nem se fala.

Não tem carona para sair no fim-de-semana? Tem R$ 88,00 pra torrar em taxi por dia. E pode aliar velocidade e conforto, se quiser: um taxi até o metrô e outro do metrô até o destino. No máximo uns R$ 30,00.

Isso tudo imaginando que você realmente vá gastar R$ 705,81 por mês com transporte. Não precisa mesmo. Sobra o suficiente para cinema todo fim-de-semana, shows, saidas em barzinhos…

É, acho que é bom rever conceitos…

Para que servem os viadutos

pontes
(clique para ampliar)

Em São Paulo, viadutos, pontes e túneis têm apenas uma função: ligar um ponto de congestionamento a outro.

Na foto acima, o complexo viário chamado “Cebolinha”, que liga o congestionamento da av. Ibirapuera ao congestionamento da 23 de maio.

Repare ainda no vendedor ambulante (de bermuda vermelha), que vende seus amendoins tranquilamente no meio de uma via expressa (sem semáforos) de alta velocidade. O relógio marcava apenas 16h30. Haja amendoim para entreter os elefantes enjaulados nas celas motorizadas às seis da tarde.