Aqui pra você

A foto acima foi inspirada pelo site Fuck You and Your H2, uma sublime declaração de repúdio ao Hummer, o automóvel mais boçal e agressivo já inventado pela espécie que decidiu que os polegares opositores servem essencialmente para disparar mísseis, apertar botões e empunhar armas (de fogo ou movidas a combustível).

Hummers são raridade nas ruas brasileiras. Custam caro. Por aqui, o grande sucesso são os monstros coreanos com nomes de cidades americanas (mais baratos, passíveis de um endividamento em prazo maior), quase sempre com vidros anti-gente e apenas uma pessoa dentro.

O Hummer é um veículo de guerra, “adaptado” para promover a guerra no espaço urbano. No vídeo acima, um Humvee “em ação” nas ruas de Bagdá durante a ocupação estadunidense. O Humvee é a versão original das armas de destruição em massa vendidas a qualquer cidadão que possua algumas centenas de milhares de dólares.

Sem limites nem leis, o soldado invasor pilota sua máquina de guerra da mesma maneira que boa parte dos motoristas urbanos gostaria de dirigir, jogando todos os obstáculos para longe, com medo, com pressa ou com qualquer outra desculpa de guerra.

Arrefecer o impulso individualista e destrutivo de uma máquina de guerra transformada em meio de transporte é parte do contrato social estabelecido pelas leis de trânsito. Em lugares onde o pacto que nos permite viver juntos continua colocando o “ser” depois do “ter”, comportamentos semelhantes ao do soldado invasor são frequentes, cotidianos e destrutivos, ainda que praticamente invisíveis aos olhos oficiais.

A cotidiana guerra urbana tem como principais motores a velocidade, o anonimato, a impunidade e a segregação. Tem seus generais encastelados em escritórios corporativos, sua infantaria pronta para morrer em larga escala, sua cavalaria armada com muito desperdício para derrubar rapidamente qualquer um que se oponha e até sua central de inteligência e contra-informação, pronta para sufocar com uma enxurrada de anúncios e notícias “verdes” e de “responsabilidade social” qualquer tentativa de libertação dos territórios ocupados.

O estado de guerra causado pelo domínio do automóvel e de seus soldados apressados é claro e explícito, enfrentado cotidianamente por qualquer um que ouse desertar e enfrentar o mundo do lado de fora da bolha.

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