Três vidas

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fotos: willian cruz / vá de bike

No final de Setembro, a CET divulgou que o número de mortes no primeiro semestre deste ano havia sido menor do que no mesmo período do ano passado.

Números e pesquisas deste tipo costumam dançar ao sabor do maestro que escreve o release. O destaque na divulgação da informação foi a queda do número absoluto de mortos no trânsito de São Paulo.

A mesma pesquisa poderia dar origem a conclusões diferentes como “cresce o número de pedestres mortos”, “aumenta o respeito de motoristas a ciclistas” e até “congestionamento diminui número de motociclistas mortos”. Se fosse um site do governo federal, quem sabe a razão apontada seria a existência da chamada “lei seca”.

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Segundo os dados da CET, 741 paulistanos morreram no trânsito entre Janeiro e Junho de 2009. Entre os mortos, sejam eles motoristas, motociclistas, pedestres, ciclistas ou patinadores, não há nenhuma vítima que tenha sido atingida por um pedestre e muito provavelmente também é zero o número de pessoas que morreram por causa de um choque com uma bicicleta.

Entre os mortos computados pela CET está Márcia Regina de Andrade Prado, que completaria hoje 41 anos de vida. Márcia foi morta por um ônibus na avenida Paulista no começo de 2009. No primeiro semestre deste ano, 29 ciclistas tiveram suas vidas interrompidas (número 21% menor do que o mesmo período de 2008).

Pedestres, no entanto, são as maiores vítimas dos “acidentes” em número absoluto. Andar a pé em São Paulo se tornou estatisticamente mais letal na comparação com o mesmo período do ano anterior: 344 pedestres foram mortos no 1o semestre de 2009, contra 329 no mesmo período de 2008.

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fotos: willian cruz / vá de bike

As vidas de dois outros paulistanos não foram contadas na estatística divulgada em Setembro. Fernando Couto e Antonio Ribeiro foram mortos na manhã de 26 de Outubro, atingidos por um ônibus na Av. Robert Kennedy. Entrarão para a estatística do segundo semestre, junto com mais algumas centenas de paulistanos que apenas se deslocavam pela cidade.

O aumento do número de mortes de pedestres é um forte indicativo do desbalanço no funcionamento das ruas paulistanas, um “efeito colateral” inerente à sociedade que continua estimulando o automóvel e fazendo pouco ou quase nada pelas outras formas de deslocamento.

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Fernando, 32 anos, biólogo, usava a bicicleta para se transportar em São Paulo. Antonio, gari, 45 anos, era um pedestre experiente e provavelmente conciliava seus quilômetros de caminhadas no trabalho com o transporte público.

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Na manhã de sábado, 14 de Novembro, cerca de 100 pessoas entre familiares de Fernando, colegas de Antonio e dezenas de ciclistas prestaram uma homenagem às vítimas: uma bicicleta fantasma (ghost bike) e uma vassoura também pintada de branco foram instaladas no local. Um trecho do asfalto foi sinalizado com os dizeres “devagar” e “vidas”, um chamado à prudência dos motoristas.

relatos com fotos:
Ghost Bike de Fernando Couto – vá de bike
Quanto custa sua pressa? – ainda chego lá
Ciclista morto é homenageado com uma bicicleta fantasma – blog das ruas
Dia 14… 10 meses depois – psico ambiental
Uma ghost bike e uma ghost vassoura – Babikers
Manifestantes protestam contra a morte de dois pedestres na Zona Sul – Folha de SP

fotos:
aline
bruna tristão
ciclobr
claudio lins
pedalante

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