Sinais disciplinadores de trânsito só existem porque existem veículos. Pedestres não estão sujeitos a contra-mão, limites de velocidade ou restrições para estacionarem seus corpos.
Uma colisão entre dois pedestres pode resultar, no máximo, em um xingamento (ainda que em 98% dos casos o “acidente” termine com um pedido de desculpas, atitude rara no mundo motorizado).
Bicicletas e outros veículos a propulsão humana também machucam pedestres, especialmente se confinados em parques, ciclovias de lazer ou calçadas lotadas.
Pedestres, ciclistas, skatistas e patinadores conviveriam em harmonia se as cidades fossem livres de veículos motorizados sobre pneus (já que trens e bondes são previsíveis, oferecendo menos riscos aos demais ocupantes das ruas).
Ainda que a sinalização de trânsito tenha surgido na época das charretes e carruagens, a idéia de segregar pedestres em calçadas só se tornou imprescindível com a popularização de outro veículo privado de grande porte: o automóvel. Antes dele, as ruas eram de todos.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, cabe ao condutor do veículo maior zelar pela segurança do menor. E todos devem tomar muito cuidado com a vida de quem não está usando nenhum veículo.
A educação e a engenharia de trânsito deveriam seguir o mesmo princípio: evitar que os motoristas de veículos “perigosos” atentassem contra a vida dos demais seres humanos.
Em São Paulo, no entanto, a prática tem sido exatamente oposta. Nunca houve tanto desleixo com a pintura e manutenção das faixas de pedestre, que estão simplesmente desaparecendo em boa parte da cidade.
“Para não atrapalhar o trânsito”, a capital paulista segue como uma das metrópoles com menos semáforos de pedestres do mundo.
A mais recente medida de proteção dos pedestres segue a cartilha da novilíngua bushiana. Os dispositivos anti-pedestres para a segurança de pedestres se espalham com velocidade pela capital.
Um bocado de dinheiro tem sido gasto em grades e cercas para evitar que os perigosos pedestres atravessem fora dos locais designados pelos “especialistas”.
Se a cidade estivesse cheia de semáforos nas esquinas, com faixas em boas condições, motoristas educados e agentes de trânsito punindo quem desrespeita a preferência dos pedestres, as grades seriam apenas um detalhe.
Em São Paulo, no entanto, as estruturas anti-pedestre se apresentam como mais um desvio de foco dos administradores das ruas. Desperdício de dinheiro público que passa longe de atingir as causas da carnificina motorizada.
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