A periferia é viva


(fotos: Ilha da Fantasia)

Desde o começo de setembro, participo de um projeto de oficinas integradas que reúne outros cinco educadores no bairro de Taipas, extremo norte da capital paulista. No último sábado, as turmas das oficinas de fotografia e “blogue, internet e jornalismo” se reuniram para uma saída fotográfica/jornalística. O material coletado pelos alunos alimentará um blogue que está sendo criado e as discussões nas aulas de fotografia.

Lusival, o cadeirante da foto acima, é um dos alunos, morador do bairro.

Assim como os demais cadeirantes da cidade, Lusival teve o seu direito de ir e vir tolhido pela sociedade do automóvel e da corrupção. Postes e outros obstáculos no caminho fazem Lusival preferir andar pelas ruas, já que o asfalto em toda a cidade é sempre melhor do que as calçadas.

Quando as ruas são muito perigosas, Lusival tem que enfrentar buracos, calçadas estreitas e outros obstáculos.

Mesmo sem calçadas, Lusival anda sozinho por todo o bairro.

Ele gosta de fotografia.

A periferia de São Paulo é viva. Ao contrário do que pensa a preconceituosa e amedrontada classe média que vive em castelos televigiados no centro expandido, a “quebrada” é um lugar relativamente tranqüilo (nem mais nem menos que o resto da cidade) e, em muitos aspectos, muito mais “europeu” do que as “maisons”, “chateaus” e “lofts” de Pinheiros ou da Vila Nova Conceição.

Na “quebrada”, assim como na Europa, os prédios são baixos, com quatro ou cinco andares. O convívio entre as pessoas no espaço público é infinitamente maior do que no Morumbi ou em Alphaville. Vizinhos jogam dominó com vizinhos, crianças brincam nas ruas e o encontro entre as pessoas é freqüente.

Problemas, é claro, não faltam. Inclusão social significa acabar com esta cena. Significa construir moradias decentes, resolver de uma vez o problema do saneamento básico e proporcionar oportunidades para todos, inclusive de mobilidade urbana.

Racismo, corrupção, resquícios da escravidão, má distribuição de renda, mesquinharia, ausência do poder público, planejamento urbano voltado a interesses especulativos e violência estatal são algumas das raízes do problema. O assalto cometido contra motoristas de carros importados nos semáforos das regiões nobres é apenas uma das conseqüências, certamente a menor.

 

São Paulo é excludente. O “muro” do transporte separa os cidadãos em duas categorias: os que estão “do lado de cá da ponte” e os que estão do lado de lá.

A construção da Linha 5 (Lilás) do metrô é um exemplo claro do desinteresse público pela inclusão: iniciada antes da nobre Linha 4, a ligação entre o Capão Redondo (zona Sul) e a estação Santa Cruz foi suspensa e sabe-se-lá quando será reiniciada.A linha da zona Sul tem horário de funcionamento diferenciado e o morador da periferia que quer chegar ao centro tem que dar uma volta absurda ou então enfrentar congestionamentos dentro de ônibus que saem do Largo 13.

Outro exemplo é a diferença de qualidade entre os trens que ligam a Zona Leste ao centro e os que passam pela Marginal Pinheiros, ligando a USP à Berrini.

Morador “do lado de cá da da ponte”, eu levo cerca de duas horas para chegar em Taipas e duas horas para voltar de lá. R$4,60 para usar quatro ônibus.

Taipas tem muitas bicicletas.

Coletivas, individuais, elas estão por todos os lados.

Para crianças e adultos de todas as idades.

One Comment