ou “como sete atrapalham sessenta”
Enquanto a linha 4 do metrô não passa na porta dos moradores dos Jardins e de Higienópolis, fazendo com que os tais “formadores de opinião” passem a usar o transporte público (ainda que de vez em quando), a maior parte da população (principalmente quem mora além do chamado “centro expandido”) continua a sofrer com a baixa valorização do sistema de ônibus.
São Paulo precisa de metrô, disso até as pedras sabem. Mas o metrô é caro e lento de ser construído, principalmente porque as obras costumam seguir o calendário eleitoral. Perto das eleições, promessas de linhas e mais linhas. Passada a votação, surgem os problemas, os adiamentos, as mudanças de planos, a “contenção de recursos” ou a amnésia eleitoral.
Um sistema de transporte de massa mais barato e mais rápido de ser construído que o metrô pode ser composto por ônibus em corredores exclusivos, veículos leves sobre pneus (o famigerado Fura-Fila, transformado em “Expresso Tiradentes”), trens pequenos e até bondes.
A fiscalização dos corredores é eletrônica e humana, com câmeras e agentes da CET. Ao longo do corredor, alguns sensores detectam se o veículo é um carro ou um ônibus (provavelmente através da distância entre os eixos ou do peso) e acionam câmeras, seguindo o princípio dos radares de velocidade.
Para alguns motoristas, basta saber onde estão radares fixos e partir para a roleta russa, afinal o “prejuízo” sequer passa perto da proibição do direito a dirigir. Se forem pegos pela fiscalização móvel, pagam as migalhas da multa (isso quando não ficam impunes com placas de outro estado ou mutretas diversas). Segundo porque os agentes da CET e os radares móveis não são tão móveis assim, nem conseguem dar conta de toda a área de caos motorizado na cidade.
Os “espertos” ainda são beneficiados pela lei brasileira, que obriga os órgãos de trânsito a identificar os locais onde existem radares ou câmeras de fiscalização. Se transportássemos este princípio para o direito criminal, seria como afirmar que um cidadão só não pode roubar o outro onde existem placas explícitas dizendo “roubar é crime”.
Se nos corredores exclusivos não é possível controlar a fome do automóvel por espaço (para saciar a angústia de seu motorista por velocidade), é nas faixas “preferenciais” que o transporte coletivo perde grande parte de sua qualidade. Como é difícil fiscalizar se o carro saiu de alguma garagem ou vai virar em alguma rua, prevalece o bom e velho jeitinho brasileiro, beneficiado pela sensação de “invisibilidade” do vidro escuro e fechado.
Quem anda de ônibus também é prejudicado pelo carro no horário de lazer. Desde julho do ano passado a Prefeitura permite o trânsito de automóveis particulares nos corredores aos sábados, domingos e feriados. Ou seja, além de contar com frota reduzida de ônibus, os passageiros dos coletivos ainda são obrigados a dividir o espaço com os carros que geralmente transportam apenas uma pessoa dentro.
Diz a notícia oficial que “o objetivo é melhorar a distribuição do fluxo de veículos na cidade (…) quando as faixas exclusivas ficam ociosas por mais tempo”. Ou seja, melhorar o trânsito para quem usa carro. E que se dane o cidadão que escolhe ir até a Vila Madalena de ônibus em um sábado à noite pelo corredor da Rebouças, por exemplo.
Quem mora no chamado “centro expandido” já dispõe de um sistema de ônibus razoável, que pode perfeitamente ser utilizado na rotina (ou pelo menos algumas vezes por semana) sem grandes dores de cabeça. Basta um pouco de força de vontade, disposição de ver a cidade com outros olhos e a consciência de que o automóvel não pode ser a única forma de locomoção pretendida por todos os habitantes de uma cidade.
ciclovia e TransMilênio em Bogotá / foto: João Guilherme mais sobre Bogotá e transporte público no blog da Transporte Ativo
e vale dar uma olhada no Mountain Bike-BH, que também está de olho no assunto
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