Uma das frentes deste processo é o fechamento dos calçadões, criados na década de 70 como espaço agradável de convivência e circulação de pessoas. A mídia corporativa reproduz o discurso oficial divulgando a inciativa como “abertura”, deixando claro qual é o ponto de vista que orienta a escolha do termo, a divulgação da informação e a implementação da política.
“Abrir” um calçadão significa transformar um espaço urbano em local adequado para pedestres. “Fechar” um calçadão é exterminá-lo, é abocanhar mais um espaço público para a lógica de circulação e estacionamento dos carros.
E assim o espaço urbano se transforma em um local de barulho, congestionamento e poluição, com manobrista no local, onde quem tem carro acessa lojas, cinemas, centros culturais e até farmácias sem perceber que está no Brasil, onde existem camelôs, moradores de rua, crianças abandonadas e até criminalidade.
A primeira experiência de assassinato dos calçadões aconteceu nas ruas D. José Gaspar e 24 de Maio no aniversário de 452 anos da capital, em 2006. O “presente” foi uma malha de asfalto preto cobrindo as pedras portuguesas e a diminuição pela metade do espaço livre de atropelamento, buzina, barulho ou fumaça.
Como o asfalto foi colocado sobre o antigo calçamento, em dias de chuva toda a água escorre para as laterais, ou seja, para o espaço destinado aos pedestres.
O segundo homicídio aconteceu de forma menos porca que o primeiro. Na rua XV de novembro, um dos calçadões mais movimentados da região, não houve asfalto preto, mas apenas a delimitação de um espaço de circulação para os veículos e a instalação de sinalização de trânsito.
Desta vez a inovação foi a criação surealista da primeira “praça de mão única” do mundo, a Manoel da Nobrega. Só na capital do congestionamento…
E assim segue a “revitalização do centro”, jogando a “sujeira” humana pra baixo do tapete e abrindo espaço para a sujeira motorizada.
Na semana que vem uma análise mais detalhada do fechamento dos calçadões da XV de Novembro e Florêncio de Abreu.

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