A utilidade do automóvel é inegável. Em viagens podemos percorrer largas distâncias, escolher quando e onde queremos parar, levar mais bagagem e até facilitar os deslocamentos nos locais visitados.
No Brasil das ferrovias destruídas pelo modelo rodovigarista predatório e corrupto, o carro ainda é o rei da estrada. A gestão privada das linhas rodoviárias de transporte coletivo é tão nebulosa quanto as concessões de rádio e televisão no Brasil: o cartel impera, não há concorrência, a qualidade é baixa e em muitos pontos do país a viagem de ônibus ainda é algo terrível e extremamente cansativo.
A Ayrton Senna foi inaugurada por ninguém menos que Paulo Maluf no sugestivo Primeiro de Maio de 1982, com o nome de “Rodovia dos Trabalhadores”. Foi renomeada em 1994, durante a gestão do governador Fleury, logo após a morte do piloto de fórmula 1 (ironicamente) em um “acidente” automobilístico.
A nova ligação rodoviária serviria para desafogar o trânsito da via Dutra, já saturado e perigoso para os banhistas paulistanos que começavam a descobrir (e especular n)o litoral norte.
O lobby automobilístico vigente desde a era JK e a conseqüente destruição da malha ferroviária fez com que o transporte de pessoas e mercadorias entre as duas maiores cidades do país passasse a ser feito apenas por ônibus, caminhões e automóveis. Hoje, estima-se que 52% do PIB brasileiro circule pela Via Dutra.
O estado que se orgulha de ter “as melhores rodovias do país” é o mesmo que não possui nenhuma ligação ferroviária de passageiros para litoral nem para o interior, apesar dos trilhos ainda permanecerem instalados em diversos trechos (como é o caso da ligação entre São Paulo e Campinas).
Beneficiam-se do lobby rodovigarista que sufocou o trem as empreiteiras, os governos, as transportadoras, os policiais rodoviários corruptos e, claro, as montadoras de automóveis, caminhões e ônibus. Pagam a conta os milhares de mortos e feridos em “acidentes”, o sistema de saúde pública, o meio ambiente e o trabalhador comum, escravo das máfias automobilistas e do alto custo econômico, social e ambiental embutido nesta forma de transporte.
é mais uma grande estupidez deste modelo.
Não são poucas nem raras as rodovias que atravessam regiões centrais e cidades inteiras (basta citar o exemplo de São Paulo, com as marginais, e Rio de Janeiro, com a Avenida Brasil). Uma rodovia passando pelo meio de uma cidade não é apenas um problema para os moradores destas regiões, mas também representa a degradação do próprio funcionamento da rodovia, obrigando o motorista a reduzir sensivelmente a velocidade e atrasando a viagem.
No litoral norte de São Paulo, um bom exemplo dessa destruição é a Rio-Santos. Construída a poucos metros do mar, a rodovia celebrizada por Roberto Carlos corta ao meio praias e bairros inteiros nas cidades de Caraguatatuba e Ubatuba, obrigando os moradores a realizar diariamente perigosas travessias para chegar ao outro lado da rua. Para evitar derramamento de sangue em níveis maiores, todo o trecho urbano está forrado de desagradáveis lombadas e redutores de velocidade.
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