Exibicionismo privado e irresponsabilidade no espaço público


no detalhe, o congestionamento causado para realizar
o exibicionismo privado de estímulo ao comportamento irresponsável

Apesar dos congestionamentos e das perdas econômicas estimadas em R$600 milhões/ano por causa do uso excessivo de veículos, a Prefeitura de São Paulo se prestou ao ridículo papel de fechar ruas e avenidas para um show de exibicionismo privado e de estímulo à direção irresponsável.

Na manhã da última quarta-feira, avenidas importantes da cidade como a 23 de maio foram interditadas ao tráfego para que um carro de fórumla 1 pudesse fazer o seu showzinho promocional.

A CET mobilizou dezenas de agentes e veículos para interditar as ruas, prejudicando a circulação dos cidadãos paulistanos pouco antes das 6 horas da manhã (um dos poucos horários em que não há congestionamentos na capital).

Segundo a lei 14.072 e o decreto 46.942, os organizadores de eventos que interditem as ruas devem comunicar a CET com 45 dias de antecedência e arcar com os custos operacionais do órgão de trânsito.

Na madrugada de sexta-feira (20) foi enviado o e-mail abaixo perguntando se a empresa realizadora do evento cumpriu as leis paulistanas, avisou no prazo estipulado e arcou com os custos operacionais do fechamento das ruas. Até o início da tarde de sábado (21) não havia resposta. As perguntas também foram enviadas ao gabinete do prefeito e através da seção “fale conosco” do site da CET.

Só a capital do automóvel e da estupidez para se prestar a um papel ridículo como esse. É difícil acreditar que outras cidades decentes do mundo mobilizariam recursos públicos interditando avenidas importantes em um dia comum para uma atividade promocional de uma empresa.

Além disso, os critérios para a aprovação do evento são absolutamente duvidosos. O excesso de velocidade é a principal causa de mortes no trânsito brasileiro. Ao permitir que um automóvel de corrida circulasse em um dia de semana pelas ruas comuns a 250km/h, a CET deu um péssimo exemplo para a educação no trânsito. Só no Terceiro Mundo mesmo…


(agradecimentos: Goura Nataraj / Lilx)

O e-mail abaixo também foi enviado através do site da CET (imagem acima):

To: CET – Imprensa , gabinetedoprefeito@prefeitura.sp.gov.br,
Date: Oct 20, 2006 2:13 AM
Subject: perguntas sobre evento publicitário de Fórmula 1

Bom dia,
meu nome é ******, sou jornalista, ciclista e, antes de tudo, cidadão paulistano.

Li com grande espanto a notícia de que uma empresa privada de “Fórmula 1” realizou um evento publicitário utilizando-se de importantes ruas e avenidas da cidade e que tal evento publicitário contou com apoio logístico e operacional da Companhia de Engenharia de Tráfego. Diversas ruas foram interditadas para a circulação dos cidadãos em automóveis, motos, bicicletas e no transporte público, incluindo o principal eixo viário da cidade (a avenida 23 de maio).

Ciente da lei número 14.072, que prevê o pagamento dos custos operacionais da CET pelo realizador do evento, e do decreto 46.942, que prevê a comunicação com 45 dias de antecedência para a realização de eventos que interrompam vias de trânsito rápido, pergunto:

1) a empresa pagou os custos operacionais da CET? Se sim, qual foi o valor e, como cidadão e jornalista, onde posso consultar e comprovar este pagamento?

2) a empresa comunicou a CET com 45 dias de antecedência? Se sim, em qual data foi feita a comunicação?

3) O evento foi único no mundo. Nenhum outro país ou cidade havia autorizado a utilização de suas vias para veículos de corrida em dias “normais”. Quais foram os critérios que motivaram a CET a autorizar o evento, que permitiu um veículo atingir 250km/h em uma via onde o limite de velocidade é de 80km/h?

Por fim, faço algumas considerações:
Lamento que a Prefeitura desta cidade, através de seu órgão de trânsito, tenha permitido a realização do supracitado evento promocional. Como sabemos, o excesso de velocidade é a principal causa de mortes no trânsito brasileiro e a principal infração cometida em São Paulo. Ao permitir que o estímulo à velocidade aconteça nas ruas da capital (e não em local apropriado, como um autódromo), a Prefeitura está, no meu entendimento, estimulando o comportamento irresponsável e perigoso de nossos motoristas.

No aguardo das respostas,

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