As corporações multinacionais da indústria automobilística continuam adorando o Brasil.
No último mês de julho, dois recordes foram batidos: o dia mais quente de todos os invernos paulistanos e o melhor mês de julho na história das montadoras em território brasileiro. Mudanças climáticas resultantes da queima de combustíveis? “Bobagem”, diria George Bush.
Enquanto centenas de paulistanos morriam por causa da poluição do ar e outros tantos em “acidentes”, as montadoras vendiam em um mês 165,8 mil veículos no Brasil. Somente neste ano, até julho, foram vendidos 1,027 milhão de veículos no país.
Nos chamados países “desenvolvidos”, a indústria automobilística vive em crise. Abaixo do Equador, fabricar e vender carros ainda é um ótimo negócio. Por aqui transporte público ainda é “coisa de pobre” e o subsídio estatal aos ônibus e metrôs é visto como uma afronta ao “mundo moderno” pós-Reagan, Tatcher e Collor.
A prosperidade dos fabricantes não é apenas fruto do “livre mercado” e da “paixão do brasileiro por automóveis”. Os lucros astronômicos (boa parte remetidos para as matrizes no exterior) também são fruto de largos benefícios concedidos por governos de todos os níveis. Quem não se lembra da patética disputa pela fábrica da Ford entre o Rio Grande do Sul e a Bahia? Ou da implantação da fábrica da Renault no Paraná?
As montadoras gozam de incentivos fiscais, isenção de impostos, ganham terrenos e energia elétrica de graça e conseguem empréstimos camaradas dos bancos públicos. Somente no ano passado o BNDES emprestou 3,7 bilhões de reais para a indústria automotiva. A Volkswagen, que está ameaçando fechar uma fábrica no ABC e demitir mais de 3 mil trabalhadores, solicitou a liberação de mais R$ 497 milhões do BNDES.
“A fabricação de automóveis movimenta a economia”, diria algum “apaixonado” pelas máquinas de quatro rodas ou um entusiasta dos números. Mas será que é necessário movimentar a economia desta forma, produzindo a destruição da vida nas cidades com dinheiro público? Será que é necessário produzir tanto lixo ou tanto luxo inútil simplesmente para movimentar a economia?
O estrago causado pelo excesso de automóveis chega a pontos de fina ironia. Segundo reportagem do Estadão (para assinantes), a Volkswagen começou a estocar veículos temendo uma greve dos funcionários ameaçados de demissão. A empresa resolveu mudar de tática e diminuiu a jornada de trabalho de 5 para 4 dias na fábrica de São Bernardo. O motivo? A montadora não tem onde guardar tantos carros…
PS: o BNDES suspendeu o empréstimo de R$497 milhões à Volkswagen, a empresa demitiu 1,8 mil funcionários na última quarta-feira e os empregados entraram em greve.
2 Comments