Sociedade das motocicletas

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Faz algum tempo que queria escrever algo sobre as motos, em especial sobre os protestos dos motoboys no começo do ano. Faltou tempo e a inspiração não veio, então seguem algumas dicas.

A primeira é “Motoboys – Vida Loca”, ótimo documentário de Caíto Ortiz, disponível nas locadoras.

Vale destacar a escolha das locações para as entrevistas, subliminarmente genial: com excessão do brilhante Paulo Mendes da Rocha, todos os especialistas, técnicos e intelectuais que aparecem no filme falando sobre o tema dão entrevista dentro de seus carros.

E esse é o ponto: boa parte dos intelectuais, técnicos, especialistas, jornalistas e planejadores urbanos que falam sobre a cidade geralmente só a conhecem por detrás do pára-brisa. Ou seja, não a conhecem. Para os “especialistas de camarote”, a resposta de Paulo Mendes da Rocha no final do filme é impecável.

A segunda dica é a coletânea de textos abaixo, dos blogues Panóptico e Different Thinker:

Motos – parte I
Motos X Carros
Motoboy, invisível que incomoda
Mentira para idiotas é a alma da Veja
A criminalização dos motoboys em SP

Você não precisa de um 4×4

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Poluição off-road – matéria na CartaCapital
A indústria do medo
Cidade dos 4×4

Benefícios de uma bicicleta

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arte: cibol

baixe o panfleto em PDF ou a imagem em tamanho grande

Carro ecológico

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=pSwig1tgUtY]

Carros a motor jamais serão ecológicos.

A razão é simples: o aproveitamento de energia. Um automóvel “leve” é um equipamento que pesa 1,5 tonelada e serve para transportar uma pessoa de 70 quilos.

Mesmo se a ocupação do veículo for total (o que deve acontecer em cerca de 1% de todos os deslocamentos feitos por um automóvel), a proporção objeto transportado X objeto que transporta é absolutamente irracional.

Uma pessoa em um automóvel gasta pelo menos 15 vezes mais energia para mover o próprio carro do que para deslocar o seu corpo.

O motor a combustão (etanol, gasolina, diesel, óleo de mamona, etc) tem impacto direto sobre o planeta e sobre a vida humana, sendo o principal responsável pela poluição atmosférica nas cidades. Fontes ditas “limpas”, como a energia elétrica, também tem profundo impacto ambiental. A construção de usinas, represas e barragens são obras responsáveis pela destruição de ecossistemas inteiros.

Um veículo ecológico é aquele que maximiza o gasto de energia e minimiza seu impacto no ambiente. Um ônibus a diesel, com motor bem regulado e circulando por corredores exclusivos com 60 pessoas dentro é muito mais ecológico do que um Ecosport que só leva uma pessoa e é utilizado para percorrer distâncias curtas.

O monstro em seu ninho

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SUV (Stupid User Vehicle) roubando espaço dos pedestres no puxadinho da concessionária Chevrolet Carrera, na rua Marquês de Itu.

O puxadinho doce e o monstro ladrão de espaço
Receita para as calçadas estreitas

Parabéns, São Paulo: chegamos aos 6 milhões

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Segundo esta reportagem, na quinta-feira (21) a frota de veículos motorizados da cidade de São Paulo alcançou o fabuloso número de seis milhões de unidades. Deste total, 75% são automóveis (4,5 milhões).

Quem causa o trânsito? Quem polui o ar? Quem provoca o abandono do espaço público?

O recorde é fruto do “desenvolvimento” da metrópole que não podia parar. Por “desenvolvimento”, leia-se: consumismo, individualismo, desperdício de recursos naturais, precarização do trabalho, formatação do território para atender a acumulação e o fluxo de riquezas (sem distribuí-las), produção de lixo, implantação de políticas que beneficiam e enriquecem alguns poucos em detrimento de todos, privatização ou abandono dos espaços públicos.

Não houve sequer um governo (federal, estadual ou municipal) desde 1950 que ousou enfrentar a máfia automobilística e racionalizar o uso do automóvel. Pelo contrário: todos acreditam nas obras viárias e na concessão de benesses ao uso do automóvel como a melhor forma de conquistar votos.

De fato, a população adora um novo viaduto com o nome de algum ilustre canalha, mesmo que a nova ponte seja vetada ao transporte coletivo, à pedestres ou bicicletas. Todos querem um carro. Com ele, o sujeito se sente livre e poderoso: ascende a um novo extrato social.

Ué, mas não é isso que a tevê ensina em comerciais, novelas e filmes? Ou alguma celebridade ou político aparece na tevê saltando de um ônibus ou caminhando pelas ruas?

Romper com a hegemonia do automóvel e enquadrá-lo em um uso racional é uma das tarefas mais importantes deste novo século. E essa tarefa não será feita por agências de publicidade, departamentos de marketing ou discursos políticos.

A construção de cidades humanas, onde o barulho, a poluição, o congestionamento e a agressividade não sejam a regra, se dá na prática, com ações concretas, mudanças de hábitos, paradigmas e políticas.

Cabe aos cidadãos se livrarem de desculpas como “o transporte público é ruim” e, pelo menos, caminharem até a padaria da esquina.

Começa com o hábito de deixar o carro em casa no dia do rodízio e vivenciar um dia de “realidade” dentro de um ônibus, em cima de uma bicicleta ou sobre dois pés, e não mudar os horários de trabalho por não conseguir se livrar da carro-dependência.

Aos governantes, atitutes e políticas para as cidades devem realmente retirar o excesso de espaço e privilégios dedicados aos automóveis, beneficiando toda a população, e não apenas aqueles que se locomovem em máquinas. E isso não será feito com migalhas que sobram das pontes, estradas e túneis…

Por hora, um brinde à indústria automobilística e ao desenvolvimento suicida que faz abrir o sorriso na cara de comentaristas econômicos, políticos e especuladores em geral.

Parabéns, São Paulo!

Faixas compartilhadas

Equipe de Serviços Municipais de Marseille em ação, legitimando o uso do transporte humano na cidade.

Veja o manifesto ao prefeito e um convite aos ciclistas feito pelo Collectif Marsellais (em francês).

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Urban Repair Squad
Tirem espaço dos carros
Por amor
Sinalizando as ruas para democratizar o espaço
Dividir o espaço
Porque as ciclofaixas foram pintadas
Executivos fazem arte

Carrocracia…

… ou: “Por que nada vai mudar se a minoria motorizada não for contrariada”.

Carta publicada hoje, no Estado de São Paulo:

“A Prefeitura está reformando as calçadas do entorno da Rua Pinheiros, o que é muito bom – mas ao mesmo tempo em que faz a boa obra, diminui o leito carroçável da Avenida Pedroso de Morais, alt. do 240. Enquanto precisamos de mais espaço para o trânsito, isso dificulta a vida dos cidadãos.

XXXX – motorista paulistano <– nota do autor

A SubPinheiros responde:
“Esta subprefeitura está reformando as calçadas da Pedroso de Morais, Rua dos Pinheiros e Teodoro Sampaio. No total, são mais de 60 mil m² em toda a região da subprefeitura. Com relação às obras no canteiro central da Pedroso de Morais, trata-se de um projeto da CET executado por esta subprefeitura. É um projeto viário que facilita a travessia de pedestres e disciplina o fluxo de veículos no local, além de tornar a avenida um pouco mais permeável, com a instalação de um canteiro central verde. A obra estava prevista (resposta do dia 1) para terminar já na primeira semana de fevereiro.”
NILTON ELIAS NACHLE – Subprefeito
O leitor comenta:
Respeito a opinião do subprefeito, mas as obras trazem transtornos, pois antes o trânsito fluía normalmente. Nunca houve problema com a travessia, pois graças ao semáforo era possível atravessar com segurança (e os pedestres são poucos). Ainda acho que essas obras são lamentáveis. Também acabaram com a zona azul – que era uma vantagem, já que o número de estacionamentos é insuficiente para atender à demanda.

O puxadinho doce e o monstro ladrão de espaço

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fotos: Leonardo Motta

“Estacionamento” da doceria Amor aos Pedaços, na avenida da Aclimação.

No puxadinho de vaga que usurpa o espaço dos pedestres para bem receber quem tem carro, um terço do SUV (Stupid User Vehicle) ficou para o lado de fora.

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Puxadinho
Receita para as calçadas estreitas

Parem os carros (para sempre)

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grafitti: celso gitahy / foto: mona caron

a invasão das bicicletas