A descida dos 900 (rota cicloturística Márcia Prado)

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No último sábado (19), aproximadamente 900 ciclistas participaram do teste da Rota Cicloturística Márcia Prado, a descida da Serra do Mar pela estrada de manutenção.

Esta foi a minha primeira viagem de bicicleta. Exceto por alguns trajetos turísticos no exterior, sempre retornando ao ponto de origem no mesmo dia, ainda não tinha experimentado o cicloturismo.

Em quase cinco anos de “redescoberta” da bicicleta (depois dos sete em que fui carrodependente), usei a magrela como veiculo em diferentes cidades e até em grandes quilometragens, mas viajar a propulsão humana é outra história.

A paisagem que nunca se repete, a solidão bem acompanhada da estrada, as placas de divisa de município e os desafios superados trazem uma alegria que não tem comparação. O caminho que se faz pedalando é a própria viagem, o ponto de chegada torna-se apenas um detalhe.

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Depois da concentração na Praça do Ciclista, rumamos para a estação Cidade Jardim da CPTM. Bicicletas no trem, rumo ao Grajaú, extremo sul da cidade.

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O cenário da periferia paulistana pode ser bastante diferente do congestionado centro expandido, onde semáforos e agentes da CET gerenciam o caos para que a bomba do uso excessivo de automóveis não exploda.

Na periferia, calçadas esburacadas e ocupadas por carros estacionados são regra. Pedestres andam pelas ruas e ainda é possível encontrar alguns veículos quase tão sustentáveis quanto a bicicleta.

A ausência do Estado e as condições de vida precárias colocam à prova a tal “criatividade” associada ao povo brasileiro.

Impulsos incessantes ao consumo descartável, reinado da indústria automobilística sobre a economia, transporte público caro e precário e a necessidade de deslocar-se por dezenas de quilômetros para chegar ao trabalho (ou a um cinema, teatro ou centro cultural) transformam o cenário da periferia em algo totalmente diferente daquele encontrado no centro expandido, onde bunkers blindados e televigiados escondem os automóveis em garagens subterrâneas que ocupam áreas muitas vezes maiores do que aquela destinada aos apartamentos.

Lá e cá, a onisciência destrutiva do automóvel é explícita: só não enxerga quem se esconde atrás do para-brisa.

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Passado o trecho urbano do Grajaú, onde a difícil convivência com ônibus, motos e poluição transforma qualquer subida em um grande desafio, chega-se à primeira balsa da Ilha do Bororé (que na verdade é uma península).

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Depois da primeira balsa, cheiros, cores e sons se transformam. A São Paulo rural está começando.

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Alguns quilômetros depois, os dejetos do consumo e da “civilização” ainda são visíveis. Na beira da represa, uma faixa de lixo trazido de volta a seus donos pela água.

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Passada a segunda balsa, um “ponto de apoio”: uma cerveja antes da trilha é muito bom para ficar pedalando melhor.

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Mais alguns quilômetros de terra, pássaros, ar puro, conversas, subidas, descidas e um tanto de lama na companhia de bons amigos.

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Sim, isto é São Paulo.

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Ao final da trilha em estrada de terra, uma escadaria cheia de lama. Solidariedade para subir as bicicletas e vamos adiante.

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Na rodovia dos Imigrantes, parece que a Ecovias não autorizou que fosse feita a instalação de placas da rota ciloturística. Acompanhado de experientes guias, percorri alguns quilômetros no acostamento da rodovia até uma entrada da estrada de manutenção.

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Na entrada do parque, o pessoal do Instituto CicloBR registrava os participantes, dava algumas dicas para a descida e revisava as bicicletas. Fiquei bem feliz com o meu número de inscrição: 700.

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Tudo pronto, lá se vai mais um grupo.

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O regresso não para.

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Cubatão

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Santos.

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